Mauricio 16/01/2018Livro interessante, mas a leitura é muito carregada de informaçõesAchei louvável o esforço da autora em garimpar vários aspectos seculares de nossa cultura. O livro traz um olhar acurado, passando uma verdadeira lupa em detalhes da vida de nossos antepassados, as roupas, a comida, as doenças e seus tratamentos, os móveis, utensílios, as casas, os hábitos, costumes, o relacionamento entre as diversas etnias: negros, portugueses, índios, etc.
Sobre a escravidão, há uma tentativa de desmistificar a ideia de que os escravos foram sempre maltratados e açoitados. Segundo a autora, a maioria dos escravos eram bem tratados, viviam junto de seus “senhores”, e muitos chegaram a comprar a sua alforria ficando inclusive com boa condição financeira. Também segundo ela, a relação dos brancos com escravos negros era mais amistosa do que com os índios após um certo período. No caso da cana, cada engenho possuía em média 10 a 15 escravos que formavam uma espécie de núcleo familiar em torno do senhor do engenho – brigas, traições, machismo, adultério, abusos sexuais, exploração infantil entre outros desvios, eram frequentes e considerados normais.
Grande parte do livro baseia-se em autores da época como Jean Baptiste Debret, vice-reis do Brasil colônia, ou posteriores como Gilberto Freyre - autores que descreveram e ilustraram detalhes da vida das pessoas do Brasil colônia. Mas também há várias informações obtidas em outros textos, livros e documentos da época, como testamentos, espólios, inventários, livros cartorários, etc.
Porém, por ser muito detalhado e tentar abranger todo o material pesquisado, o livro ficou com aspecto de um dicionário de época, com inclusão de vários termos e palavras desconhecidos atualmente, deixando o texto sem fluidez e sem uma análise mais contextualizada da época. Por exemplo, para falar sobre o que comiam, a autora começa a citar diversos pratos, ervas, raízes, grãos, frutos, e toda sorte de alimentos, um atrás dos outros com poucas referências ou explicações. Na maioria das vezes somente cita o nome da pessoa, “um certo Sebastião de tal...” e o que ela disse ou escreveu sobre aquele assunto. Após ler um terço do livro comecei a achar o texto um pouco cansativo, pois vai sempre nessa linha, tentando abranger tudo o que encontrou do assunto, de forma rápida e repetitiva, com pouca contextualização e pouco teor analítico. Mas como material de pesquisa e acadêmico achei o livro muito interessante.