Helder 26/12/2019Narrativa pesada para uma história importanteO Irlandês conta a história verídica de Frank Sheeran e é uma aula de história sobre o século XX nos EUA. Mas não é a aula ensinada nas escolas.
Frank Sheeran nasceu nos EUA pouco antes da Depressão de 1924. Filho de mãe sueca e pai irlandês, foi criado como católico.
Desde criança sempre foi muito alto e forte, e como sua família era pobre, seu pai o usava para pequenos delitos como roubar plantações ou quando mais velho, participar de lutas, onde seu pai fazia apostas em seu próprio filho.
Com o inicio da Segunda Guerra Mundial ele se alistou e participou de um dos pelotões que esteve mais tempo em batalhas, e é ai que aprende a matar seguindo ordens, ou a “fazer o que tinha de fazer”.
Ao voltar da Guerra, tenta viver uma vida normal. Casa-se, tem diversos sub empregos ( a luta com o Canguru é impagável) até que começa a trabalhar como motorista de caminhão entregando carnes. Porém logo percebe que pode ganhar mais dinheiro dando alguns golpes e é assim que conhece Russel Buffalino, um dos maiores mafiosos dos EUA.
Russel logo o apadrinha, e começa ali uma relação de amizade em confiança, permitindo que diversas vezes Russ salve sua vida.
Aos poucos Frank começa a trabalhar para Russ.
Como eles dizem: Russ precisa de “alguém que pinte casas”.
De repente, Frank percebe que tem o talento para isso. Ele “ pinta casas” e ainda “faz carpintaria” e além disso ele tem a característica mais importante para aquele “mercado de trabalho”: a Fidelidade!
Através de Russell, Frank vai conhecendo pessoas cada vez mais importantes e um deles é Jimmy Hoffa, o criador do maior sindicato que já existiu nos EUA, o sindicato dos caminhoneiros.
E assim, Charles Brandt vai nos descrevendo a historia dos EUA no século XX.
É incrível ver o poder que a Mafia Italiana tinha naquele país. E também é muito interessante ver a criação e o crescimento dos sindicatos, e as guerras de poder existentes entre seus lideres, sempre com a desculpa de um bem maior.
Em tempos de Bolsonaro é difícil não associar as máfias descritas nos livros com as milícias que seguem governando diversos estados brasileiros.
E em tempos de Lula é difícil não ler as tramoias de Jimmy Hoffa e não associar com a força e o poder alcançados pelo PT no país.
"Abalar uma empresa é tarefa fácil quando você dirige um comitê local. Todo mês, você recebe uma determinada quantia dos patrões, por debaixo dos panos, para assegurar que haja paz laboral. Se você não é pago, parece surgir sempre um problema atrás de outro para os empregadores. O pobre trabalhador sindicalizado é apenas um peão nesse jogo. "
Se Hoffa ainda fosse vivo, com certeza seria amigo de churrasco de Lula. O populismo e o egocentrismo de ambos é muito parecido.
O livro fala sobre amizade e honra, mesmo que seja por um viés completamente torto.
Frank desde o inicio tratava aquilo como um trabalho, até que um dia foi obrigado a tomar uma decisão que moldou a sua vida até o final.
Mas é no relato histórico que o livro tem sua força.
É incrível descobrir que do assassinato de Kennedy ao desaparecimento de Hoffa, passando pela criação de Fidel Castro, tudo nos EUA no século XX teve relação com a máfia italiana instituída e institucionalizada nos EUA.
E ver como o dinheiro dos sindicatos foi importante para isso.
Mas o que é um trunfo acaba trazendo um peso para a leitura, pois parece que o autor não lapidou nada da historia real.
Próximo de sua morte, Frank Sheeran decidiu contar sua historia ao autor através de entrevistas e parece que Charles Brandt ficou tão aficionado com as verdades que esqueceu de editar suas entrevistas.
Frank foi o "Irlandês" durante muitos anos e fez parte de muitos fatos históricos, porém o autor quer que conheçamos diversos outros crimes cometidos por ele, o que acaba deixando o livro um pouco cansativo.
Outro ponto também é a quantidade de nomes de mafiosos.
Difícil saber quem é de qual família, de qual cidade e de qual sindicato, pois haja mafiosos!
Uma enxugada no texto faria muito bem a obra. Ou mesmo um gráfico, indicando os nomes, parentescos e clãs ajudaria.
Como demorei quase 20 dias para ler o livro, muitas vezes já nem me lembrava de quem ele estava falando.
Mas se você curte livros sobre a máfia, biografias ou romances históricos pode embarcar na leitura pois com certeza irá curtir.
Ao terminar o livro fica a pergunta no ar: Quem manda nos EUA hoje?
Sei que em Nova York, Rudolph Giuliani instituiu o Tolerância Zero com os criminosos, o que parece ter acabado com o crime organizado da cidade.
Mas e o resto do país??
Cuidado com as perguntas que fizer, pois pode ter sua casa pintada.
Com certeza uma historia a ser conhecida.
Agora vou ver o filme, que parece ter feito as lapidações que o texto pedia.