Carla Brandão 27/07/2016As Olimpíadas de 2016 estão batendo na porta, os atletas estão chegando ao Rio e daqui a poucos dias poderemos acompanhar o desempenho de cada um deles nas mais diversas modalidades esportivas. Mas como será a vida fora das competições? O que cada competidor passou até chegar a tão sonhada possibilidade de representar seu país? Quantas alegrias, amores e dores carregam em suas malas? Em Aonde quer que eu vá temos cada uma dessas perguntas respondidas através da linda história de Ester.
Às vésperas das Olimpíadas de Sydney, a vida da jovem ginasta de 20 anos está mais corrida do que o normal. Ela representará o Brasil na trave, uma grande responsabilidade que tem como resultado a intensificação dos treinos, muito cansaço, falta de tempo até para se alimentar como a mãe acha que deveria e pressão constante da severa técnica, Alexandra. O clima tenso é aliviado pelas conversas divertidas com as amigas Isabela e Gabi e pela felicidade de estar prestes a realizar seu sonho, pelo qual treinou todos os dias durante anos. Misturada com a alegria, Ester relata várias vezes uma sensação de vazio que não sabe explicar.
O momento tão esperado chegou. É hora de fazer as malas e encarar a longa viagem para o outro lado do mundo. Os pais de Ester não puderam ir - e como eles fariam falta! - mas a companhia de Isabela faz com que ela se sinta menos sozinha. Bem, isso e um certo rapaz. Logo na primeira tarde, as meninas são convidadas por outras ginastas para um baile de máscaras ao qual comparecem no dia seguinte, apesar da proibição de Alexandra. E lá, em meio ao luxuoso salão e rostos cobertos, ela conhece Bruno, o responsável por mexer com a sua vida de maneiras que ela sequer poderia imaginar.
O interesse e o encantamento que um desperta no outro é algo que nenhum dos dois havia experimentado antes. As poucas horas que passaram juntos foram o bastante para que se apaixonassem e desejassem mais momentos juntos, mais horas sentindo o perfume doce de Ester, mais horas contemplando os olhos verdes de Bruno... Mas ele precisa voltar para o Brasil e ela tem uma Olimpíada para disputar. Os dias passam, as competições têm início e muitas coisas acontecem, boas e ruins. E o que era para ser a realização de um sonho acabou dando início a um período difícil e delicado, mas também de realizações e transformações provocadas por um esperado reencontro.
O livro é narrado em primeira pessoa, e até o capítulo sete a única voz que conhecemos é a de Ester. A partir do oitavo, passamos também a acompanhar os acontecimentos do ponto de vista de alguns outros personagens. Isso enriquece a trama, trazendo novos elementos e novas informações à história, permitindo a inclusão de situações nas quais a protagonista não estava presente e o conhecimento dos pensamentos e sentimentos dos demais personagens.
Foram vários os lugares escolhidos para ambientar a trama, e a descrição de cada um deles é muito bem feita pela autora. O clima olímpico, as expectativas e os detalhes dos bastidores de uma grande competição, desde os treinamentos até o que se passa na cabeça de um atleta de alto nível no momento de sua apresentação, também foram muito bem trabalhados.
Apesar da rapidez com que os personagens se apaixonaram, isso não me incomodou. A autora conseguiu fazer com que fosse fácil acreditar no romance vivido por eles e torcer pela felicidade do casal. O tempo do amor, afinal, é outro, bem diferente desse marcado pelo calendário e pelos ponteiros do relógio. E não é só o romance que é crível, a escrita de modo geral consegue transmitir ao leitor cada sentimento experimentado pelos personagens, por isso não se assuste se em determinados momentos perceber que uma lágrima quer escapar.
O livro tem início em 2000 e termina em 2016, e ao longo de todos esses anos sorrimos e sofremos junto com os personagens. E ao passarmos com eles por cada um desses momentos, vemos que o amor é o fio que liga tudo. O amor romântico, que chega sem avisar e arrebata. O amor brando, que acolhe e sustenta, vindo da família e dos amigos. E o amor pelo esporte e pela vida, que move e impulsiona.
Beatriz Cortes escreveu uma história que emociona com sutileza, sem usar artifícios dramáticos exagerados. É a verdade passada em cada página que toca o leitor. Aonde quer que eu vá traz ainda mensagens de esperança e superação de forma bonita e delicada.
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