A Era dos Mortos-vivos

A Era dos Mortos-vivos Eliel Barberino




Resenhas - A Era dos Mortos-vivos


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Luiza 10/04/2022

História e Boas Reflexões sobre zumbis
Simplesmente adorei a leitura e extraí vários trechos que me impactaram. História, filosofia e boas reflexões em um só livro. Queria que a obra fosse maior, pra ler mais sobre esse assunto fascinante e tão atual! Que bom que Eliel Barberino já publicou um segundo livro! :-)
Fico feliz em encontrar estudos de qualidade sobre os Zumbis, porque faltam publicações dessa ordem em nosso idioma.
AMEI.
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Pedro.Weiner 11/03/2017

O zumbi antes de The Walking Dead
Para essa geração, The Walking Dead é responsável por estabelecer uma mitologia, da mesma forma que Romero instituiu um gênero de filmes de terror, a partir de 1968, com o lançamento de A noite dos mortos-vivos. O longa foi seminal para uma cinematografia – e um catálogo imensurável de outras expressões artísticas – de histórias de mortos que despertam com fome de carne humana, dos quais The Walking Dead é a celebração máxima desse meio século.

Isso comprova que, ao contrário dos milenares vampiros, lobisomens e múmias, o zumbi é um monstro da modernidade. Não entanto, apesar da fixação no imaginário coletivo (e na cultura pop) ter ocorrido há pouco tempo, a origem do zumbi não está nos filmes do Romero – ou num vírus, ou num acidente radioativo, ou numa arma química. Delinear esse ponto de partida até o momento em que, convertido em personagem (ultra)popular, o zumbi se torna um fenômeno cultural é a que se propõe A era dos mortos-vivos (Cultura em Letras Edições), de Eliel Barberino. O ensaio faz uma correlação entre apropriação e fascínio nos tempos modernos, problematizando o mito do morto-vivo como uma alegoria da humanidade desalmada e materialista, totalmente descrente quanto a um futuro alentador.

era-dos-mortos-vivosSe a proposição é pertinente ou não, não cabe aqui julgamento. O orelha informa que o autor, “estudante de filosofia e entusiasta em zumbis”, constrói seu livro através da condensação de seus estudos sobre o tema. De fato, é na camada epidérmica que Barberino expõe suas pesquisas e defende seus argumentos, sem nunca ir fundo o bastante. É estritamente uma síntese. E, sendo assuntada na condição de síntese, a linha de raciocínio se sustenta bem, sem atropelos ou contraposições de ideias.

“Alteridade é o conceito que melhor define a análise que faremos dos mortos-vivos. Ao buscar entendê-los, na verdade estaremos numa busca de nós mesmos. Ao fazermos um exame dos temas que os zumbis nos apresentam, creio que você perceberá que os zumbis somos nós, sou eu e você. Que o medo que temos dessas criaturas é um medo sublimado de nós mesmos e dessa civilização que criamos”, defende o autor.

Antes de chegar a essa discussão, porém, o ensaio remonta à mitologia dos zumbis, em seus aspectos sobrenatural, científico e sociocultural. Barberino recorre a pensadores como Santo Agostinho, Freud, Nietzsche, Platão e Deleuze, para dar escopo à sua investigação por fatos, lendas e crenças que, de maneira fidedigna ou não, migraram para a literatura e, ato contínuo, para o cinema. É o caso da grafia do termo “zumbi” e do vodu, religião nascida no Haiti cujo feiticeiro, o bokor, detém do poder de fazer um cadáver voltar à vida. Tal fenômeno serviu de matéria-prima para A ilha mágica, do jornalista William Seabrook, relato sobre uma expedição pela ilha caribenha, no qual este descreve o encontro com grupos de escravos zumbis trabalhando em plantações. Ainda que uma mentira deslavada, foi essa história, escrita nos anos 1920, que acabou por influenciar Romero e todo um catálogo de poucos bons filmes e uma infinidade de títulos dignos da galeria trash do cinema mundial.

Foram os filmes de Romero que popularizaram os zumbis, mesmo não sendo os primeiros a usarem o monstro como vilão/protagonista. A mitologia do morto-vivo haitiano descrito por Seabrook passou por uma total reformulação, em A noite dos mortos-vivos, acrescentando um fator revolucionário: a fome por carne humana. Até então, essa não era uma característica típica dos zumbis. Esse foi um passo fundamental para se chegar ao apocalipse do mundo que conhecemos. Desse modo, o zumbi deixou de ser uma crença antiga de um pequeno país tropical para dominar, de vez, o ocidente. Com Romero, os mortos que caminham ganharam sucesso e fama.

“O zumbi é o monstro do século XXI. Não somente por ter sido criado há pouco tempo em relação aos monstros clássicos, mas por ser o melhor representante do nosso tempo. O zumbi traz consigo características próprias e que seriam impensáveis em outros tempos. Os mortos-vivos sabem fazer o jogo moderno. Mexer nos traumas corretos da modernidade. De certa forma, é um reflexo desse nosso tempo em crise em que o perigo global nos espreita a cada esquina com suas guerras, crises e atentados terroristas”.

São germes dispostos na última frase que o autor nutre e dá relevância, na parte final, a fim de teorizar a massificação dos mortos-vivos nas expressões artísticas como um sinal da falência do homem moderno, de uma sociedade regrada pela impulso crônico de se autodestruir. Barberino pauta suas questões com elementos empíricos e conceituais, baseando-se na literatura acadêmica e de entretenimento para apresentar maneiras de proceder que, como sustenta, provam que “somos todos zumbis”. Simulacros caminhando em bando e regrados pelo ideal de imortalidade vendido, num pacote mágico, pela indústria de consumo.

“Um dos fatores que caracterizam nosso tempo é a perda da identidade, é justamente o fato de sermos uma sociedade homogênea em que as diferenciações não são enxergadas. Somos todos convidados pela propaganda a usarmos os mesmos produtos e serviços”, aponta.

Com um conteúdo claro e bem articulado, A era dos mortos-vivos é uma boa leitura para os fãs das histórias de zumbi, que traz a proscênio uma reflexão muitas vezes incluída no subtexto das adaptações para o cinema e para a tevê. Um pouco raso em sua averiguação sistêmica, mas que oferece um painel justo do gênero e preenche o tempo em que se espera a revelação de quem foi a vítima de Negan e seu taco de beisebol enrolado em arame farpado, chamado carinhosamente de Lucille.

Por Sérgio tavares em: http://homoliteratus.com/o-zumbi-antes-de-the-walking-dead/
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Natasha 22/08/2016

Os zumbis somos nós
O autor Eliel Barberino entrou em contato comigo pela página do Redemunhando no Facebook. No princípio, fiquei um pouco receosa por ser um livro de zumbis (sou covarde para temas de terror), mas quando vi que tratava-se de uma história dos zumbis, ou seja, da origem desses personagens, definitivamente fiquei interessada.

Barberino é um entusiasta dos zumbis e estudou Filosofia. Resolveu unir as duas atividades neste livro de não-ficção, que está dividido em introdução, duas partes teóricas, epílogo, agradecimentos e bibliografia. As partes I e II do livro são bastante diferentes: a primeira, chamada O surgimento do fenômeno, trata das origens do zumbi como monstro; e a segunda, O zumbi como crítica da modernidade, analisa alguns aspectos da contemporaneidade para conectá-las com a mitologia dos mortos-vivos.

A parte I pende mais para uma análise histórica, e contextualiza toda a epidemia – com o perdão do trocadilho – de popularidade dos zumbis: jogos, filmes, séries, livros. Esta parte é deliciosa de ler. Certamente um dos momentos que mais gostei foi o exame sobre os monstros “típicos” de cada tempo (bruxas, vampiros, Frankenstein, etc.), pois cada um deles reflete os medos mais intrínsecos com os quais cada uma das comunidades lida naquele momento. O zumbi representa o nosso medo da morte, mas também da decadência e da impotência. Por ser um monstro secularizado (corporificado, e não sobrenatural), possui um grande apelo à realidade atual.

Quanto às origens das lendas de mortos-vivos, Barberino as busca na cultura pop, na história europeia, haitiana e também nas obras do cineasta George Romero, que criou o zumbi (e também o apocalipse zumbi!) da maneira como conhecemos hoje. Preciso ressaltar que achei geniais as relações da crença vodu no morto-vivo com a escravidão colonial nas Américas.

Na segunda parte, mais filosófica, o texto muda de tom. Aí, o autor propõe reflexões sobre as representações e simbologias que o zumbi evoca, além de uma forte crítica à modernidade. Apesar de muito interessante, fiquei com a impressão de uma pessoalidade muito grande na argumentação: o autor critica diversas posições filosóficas das quais discorda (por exemplo, posturas materialistas/empiristas/naturalistas “radicais”, relativismos) e, com isso, acaba emitindo julgamentos de valor, pessoais, sobre alguns aspectos da modernidade. Parece que tais posições se tornam o objetivo principal dos capítulos, e os zumbis aparecem só pontualmente. E por se tratar de argumentações filosóficas, o texto fica bem mais teórico, o que pode não agradar a alguns leitores, embora não tenha me incomodado.

De qualquer maneira, foi uma leitura extremamente agradável, e fiquei muito empolgada ao ler a primeira parte – inclusive, me deu algumas ideias para a sala de aula. Encontrei um ou outro erro de revisão, mas o livro é curto (tem 116 páginas) e direto, com uma escrita prazerosa. A fonte é de tamanho relativamente grande, o que facilita ainda mais a fluidez da leitura.

A análise dos zumbis e de toda a sua cosmologia como fenômeno cultural e desses personagens como metáforas do século XXI enriquece demais a percepção que temos sobre a realidade e a “moda” dos zumbis em todas as mídias. Além disso, ao propor um exercício de identidade e alteridade, Barberino nos provoca a pensarmos também sobre nós mesmos, a morte e nossos medos. Recomendadíssimo para quem se interessa pelo tema!

site: https://redemunhando.wordpress.com/2016/08/22/a-era-dos-mortos-vivos/
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Ben Oliveira 12/06/2016

Somo todos mortos-vivos?
Os zumbis estão presentes em diferentes tipos de narrativas: nos jogos, seriados, filmes, livros, revistas em quadrinhos... Mas qual é a explicação deles caírem no gosto popular e se tornarem um fenômeno cultural? Explorando o universo dos mortos-vivos, o estudante de filosofia e entusiasta da temática, Eliel Barbarino escreveu o livro A Era dos Mortos-Vivos, de 116 páginas, publicado pela Cultura em Letras Edições, em 2016.

Dividido em duas partes, o livro explora o surgimento do fenômeno dos zumbis e os zumbis como uma crítica da modernidade. O que diferencia os zumbis de outras criaturas? Até que ponto somos tão diferentes dos mortos-vivos? Com uma linguagem simples e informativa, Eliel leva o leitor a refletir sobre esses monstros tão próximos de nós.

A Era dos Mortos-Vivos é uma dessas leituras breves, mas que não passam despercebidas. Cabe ao leitor partir dessa jornada em busca de outros caminhos, caso deseje beber de mais fontes. O livro acaba sendo interessante não só para quem gosta de leituras, jogos e audiovisuais sobre zumbis, mas para os escritores, roteiristas, produtores e artistas, permitindo entender mais por que alguns contextos de histórias de zumbis contemporâneas são tão parecidos e quais são as mensagens e críticas por trás.

“O zumbi é um espelho nosso. Os monstros nos mostram... que na verdade as coisas terríveis que podemos nos tornar se encontram em nós mesmos. Que parte dos males e monstruosidades a que somos submetidos e submetemos os outros é nossa responsabilidade” – Eliel Barberino

Logo na introdução do livro, Eliel Barberino avisa que a leitura não é indicada somente para quem gosta de zumbis, mas para qualquer pessoa curiosa. O autor comenta que ao tentar compreender mais sobre o universo dos mortos-vivos, também estamos em uma busca de nós mesmos e de que o medo que muitas pessoas sentem não é só dessas criaturas, mas da civilização.

A primeira parte do livro fala sobre os zumbis e como eles estão dominando a cultura pop. Eliel faz um breve levantamento sobre a epidemia de narrativas de apocalipse zumbi, desde filmes de terror e comédia que exploraram o tema até adaptações televisivas de HQs e de clássicos da literatura, até as possibilidades de experiência e aprendizado, como as marchas de zumbis (zombie walks) e abertura de cursos sobre os mortos-vivos oferecidos em universidades.

“Zumbis não falam, e isso não se deve somente a alguma impossibilidade motora ou ao estado avançado de decomposição de suas cordas vocais. Zumbis não falam pelo simples fato de não serem racionais. Isso não significa que eles não possam nos dizer algo sobre nós mesmos ou sobre nossa civilização” – Eliel Barberino

Eliel aborda desde as crenças antigas de mortos retornarem à vida até o caso do zumbi haitiano, que foi relatado por um jornalista e acabou espalhando um pouco do medo de que os moradores do país tinham dos mortos-vivos, até a série de filmes de George Romero sobre os zumbis modernos, que acabaram dando mais destaque para essas criaturas – retiradas de um contexto local e afastado, para o ambiente urbano e com o qual as pessoas poderiam se identificar e temer.

A partir da segunda parte do livro, Eliel se foca mais nos zumbis como crítica da modernidade, retratando as crises da humanidade, as mudanças de paradigmas, a perda de poder da religião e do sobrenatural e os problemas que podem surgir neste período pós-industrialização, como as ambições do homem, o medo de envelhecer e da morte, a escassez e o vazio existencial.

“Em ‘Despertar dos mortos’, Romero faz uma crítica arrasadora à nossa sociedade de consumo. Os mortos-vivos aparecem como um protesto contra nossa vaidade e futilidade excessiva. O filme mostra um grupo de seres humanos trancafiados dentro de um Shopping Center, na tentativa de se refugiar dos mortos que, sem motivo conhecido, voltam à vida. Romero descreve o tédio da geração consumista americana” – Eliel Barberino

É difícil terminar a leitura de A Era dos Mortos-Vivos sem ficar com aquela sensação de querer saber mais sobre o assunto. Para os curiosos, vale a pena conferir a bibliografia usada por Eliel Barberino para escrever a obra. O autor vai direto ao ponto e nos apresenta um livro informativo, que ao mesmo tempo nos entretém e nos possibilita refletir mais sobre a relação entre cultura, filosofia e sociedade. Assim como zumbis, quem é que não gosta de devorar o cérebro do outro? Na jornada para entender essas criaturas não pensantes, acabamos mergulhando em nós mesmos em busca de um pouco de luz.
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Maisa 11/08/2016minha estante
Excelente!


Ben Oliveira 11/08/2016minha estante
Tem uma entrevista com o autor no blog, caso tenha interesse: http://www.benoliveira.com/2016/06/entrevista-eliel-barberino-livro-zumbis-fenomeno-cultural.html


Maisa 11/08/2016minha estante
Que ótimo, vou conferir. Sabe que estou com dificuldades pra conseguir o livro? Ontem, após leitura de sua resenha, corri para as livrarias virtuais e não obtive sucesso.
Olhei na Amazon, Saraiva, Cultura...nada. Espero encontrá-la, estou curiosa com essa abordagem.
Obrigada!


Ben Oliveira 11/08/2016minha estante
Oi, Maisa! A editora que publicou é bem pequena. Acho que você só vai conseguir entrando em contato com eles mesmo. http://www.culturaemletrasedicoes.com.br/lojinha-cultura-em-letras/ Tenta entrar em contato pelo Facebook!


Maisa 11/08/2016minha estante
Nossa, valeu pela dica! Farei imediatamente. Mais uma vez, obrigada!




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