Foe

Foe J. M. Coetzee




Resenhas - Foe


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Joao.Marcelo 14/10/2019

Sem dúvida, Coetzee é um dos grandes escritores da atualidade!
Em Foe ele reinventa a história de Robinson Crusoé ao acrescentar uma personagem feminina que dialoga diretamente com o autor Daniel Defoe, com Crusoé e explora a condição humana de Sexta-Feira, o único desprovido da linguagem.
O debate entre Susan e Defoe a respeito da existência ou não da capacidade de se exprimir por parte de Sexta-Feira é uma saborosa aula de linguística!
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Mario Miranda 28/08/2019

Reconstrução de um Clássico
Foe, uma das obras mais conhecidas do Prêmio Nobel de Literatura (2003) J. M. Coetzee é uma releitura da obra clássica de Daniel Defoe “Robinson Crusoé” (1719). Foe não é um uma reedição da obra, mas sim um paralelo daquela.

Em Foe temos Susan Barton, uma náufraga que após um motim em seu navio, consegue fugir e acaba desembarcando em uma ilha onde encontra Sexta-Feira, um escravo negro, mudo, e seu proprietário: Cruso. Após uma coexistência, nem sempre pacífica, do trio, acabam sendo resgatados e regressando ao Reino Unido. Cruso falece no percurso – talvez em um paralelo com o “Banzo” sofrido pelos escravizados Africanos – sendo que Susan acaba se tornando a responsável pelo Africano. A obra segue com uma discussão de Susan tentando convencer um renomado escritor, Foe, de imortalizar Cruso em uma obra literária.

Coetzee coloca em discussão aqui o próprio papel do escritor, menos como um ser dotado de uma imaginação desenvolvida, e muito mais como um alguém responsável por capturar histórias alheias, transformando-as em narrativas mais elaboradas que a própria vida.


site: https://www.instagram.com/marioacmiranda/?hl=pt-br
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Carlos Nunes 29/07/2019

ROBINSON CRUSOE revisitado
Apesar de não conhecer a trama, sabia que esse livro tinha alguma relação com o clássico ROBINSON CRUSOE, então resolvi fazer a leitura daquele livro primeiro. E foi uma excelente decisão! Apesar de não ser essencial para acompanhar a história aqui, o ROBINSON original nos faz ver com outros olhos tudo o que o autor quis nos mostrar. Acompanhamos a história da Susan, que naufraga e vai parar numa ilha, habitada por um náufrago enlouquecido e semi-selvagem chamado Cruso e seu companheiro mudo, Sexta-Feira. Ao retornar à Inglaterra, Susan procura um escritor (Foe - nome verdadeiro de Daniel Defoe) para que ele narre sua história. Mas o escritor decide que a narrativa de Susan não é interessante o suficiente para o público, e tenta convencê-la a modificar significantemente o enredo.
Além dessa camada mais superficial, porém, temo material para profundas reflexões sobre o colonialismo e a superioridade de alguns homens sobre outros, sob um ponto de vista radicalmente diferente do explorado por Defoe no ROBINSON CRUSOE original. Vale muito a pena fazer a leitura conjunta das duas obras. O link para o vídeo onde eu comparo melhor os dois livros está aí embaixo.

site: https://youtu.be/wPzpenpx75E
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jota 10/03/2019

Revisitando Dafoe...
Neste volume tem Cruso (assim mesmo, sem o é), tem Sexta-Feira (isso não mudou) e tem também uma mulher, Susan Barton (que não havia antes). Eles convivem numa ilha durante cerca de um ano até serem resgatados por um navio. Cruso morre durante a viagem de volta, Susan e Sexta-Feira passam a viver na Inglaterra. Lá, ela tenta convencer Foe, um escritor, para que ele conte sua história, assim publicar um livro e ganhar dinheiro. A história de Susan é a da mulher que buscava a filha desaparecida, que deveria estar na Bahia, em Salvador. Mas não. Na volta para casa ela foi abandonada num bote depois de um motim de marinheiros e vai ter à ilha habitada por Cruso e Sexta-Feira. Tudo isso, a ilha, sua vida lá, o convívio com os dois homens, eis o material para Foe trabalhar.

Bem, até certo ponto a história narrada por Coetzee através de Susan Barton parece muito aventurosa e inventiva, esse negócio de retomar as aventuras dos dois conhecidos personagens de Dafoe. Mas aos poucos o livro começa a ficar meio estranho, quer dizer, o episódio contado pela perspectiva de Susan Barton não encontra a receptividade que ela esperava receber do escritor Foe, as coisas ficam estagnadas e duvidosas. Pois a história que ele deseja contar sobre esse mesmo episódio (quer dizer, aquilo que Dafoe contou) não bate com a dela, claro. Estamos no terreno da metalinguagem. Melhor, já estávamos nele desde o título, na verdade. Foe é Dafoe? Foe é Dafoe + Coetzee.

Lido entre 06 e 09/03/2019.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 03/07/2018

Nova Perspectiva
Publicado originalmente em 1986, "Foe", de Coetzee, chegou ao Brasil com trinta anos de atraso por iniciativa da Companhia das Letras. Sua proposta é oferecer uma nova perspectiva para um clássico da literatura, "Robinson Crusoé".

Indiscutivelmente, o ideal é conhecer o original para avaliar com propriedade os dois textos assim como ter alguma noção sobre a vida de seu autor, Daniel Defoe (1660-1731), que na releitura, surge também como personagem. Em linhas gerais, ele foi um jornalista com uma vida repleta de altos e baixos, não só por conta de suas opiniões políticas que renderam apoio ou perseguição dos poderosos, mas também pelo seu desastroso tino comercial. Especulador, sofreu inúmeros reveses financeiros, e só passou a escrever ficção para poder sustentar a família no final da vida. Mesmo assim morreu pobre, fugindo dos credores e escondido da polícia.

A protagonista de "Foe" é Susan Barton, uma jovem cuja filha foi sequestrada e pode ter sido trazida para o Brasil. Após vasculhar Salvador, desiludida, ela decide regressar à Inglaterra, mas é abandonada num bote durante um motim. Com muito esforço, consegue chegar a uma pequena ilha, habitada por dois náufragos: Crusso, um contador de histórias pouco críveis sobre seu passado, e Sexta-Feira, um escravo que teve a língua amputada quando menino, o que acarretou sérios problemas de comunicação. Por um golpe de sorte, após um ano, o trio é resgatado, no entanto, o velho lobo do mar, vítima de uma estranha febre, acaba falecendo antes de atingir terra firme.

Essa é a história que Susan narra para Defoe (ou Foe), a fim de que ele escreva um livro e possam dividir os lucros, aliás, difícil saber quem está mais precisando de dinheiro: ele, que acaba de perder até a casa onde vivia, ou ela, abandonada a própria sorte e sem saber o que fazer com Sexta-Feira que age como um perdigueiro no seu rastro... O grande desafio para o escritor (e o leitor) é que Susan não merece a menor confiança, é ardilosa, revela o que quer e como acha melhor, mas vez ou outra, deixa escapar a verdade, aliás, a existência da própria filha passa a ser questionada. Logo, essa é uma aventura cheia de buracos, inconsistências e Sexta-Feira, ao invés de ajudar, não passa de mais um enigma.

Coetzee apresenta a ilha como o paraíso de Crusso que jamais demonstrou desejo de deixá-la, enquanto Susan sonha com esse momento a cada minuto. O cenário desponta como um elemento desestabilizador da ordem, questionando os valores de um mundo que não a satisfaz. Em síntese, Crusso simboliza o poder, Susan é a oposição, capaz de reivindicar e trazer mudanças, finalmente, Sexta-Feira é o oprimido que precisa aceitar resignadamente tudo o que acontece. Portanto, a interação dos três nada mais é do que um retrato de como se a nossa sociedade se estrutura.

Com um desfecho doloroso e apontando para a difícil inclusão das minorias que não têm voz, Coetzee construiu uma interessante parábola política destituída de qualquer senso moral ou religioso que sem meias palavras não fornece qualquer esperança de um mundo melhor.
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Achados e Lidos 10/01/2017

Um náufrago sob outra lente
J. M. Coetzee é conhecido por ser um autor sempre na fronteira do experimentalismo, o que faz com que seja tão amado quanto controverso. Em Diário de Um Ano Ruim, por exemplo, os ensaios encomendados por um editor alemão dividem espaço, na mesma página, com uma espécie de diário do escritor e de sua digitadora, numa história entrecruzada que forma um interessante romance.

A série que compreende Infância, Juventude e Verão é uma espécie de relato biográfico, mas o narrador, em terceira pessoa, se mantém distante, frio, seco. Desonra trata das acusações contra um professor universitário que cai em desgraça, rearranja a vida no interior mas é novamente alvo de violência, num retrato da África do Sul pós-apartheid que deixa um gosto amargo na boca (mas é um dos melhores livros que já li, e que ainda pretendo revisitar).

Foe, publicado em 1986, mas lançado pela Companhia das Letras no Brasil apenas no ano passado, é mais um desses exemplos. O autor deixa a polêmica – um pouco – de lado para resgatar a história do mais famoso náufrago da literatura, Robinson Crusoé, sem abandonar suas raízes contemporâneas e questionadoras.


No relato original, publicado em 1719 por Daniel Defoe, Crusoé é um inglês estabelecido no Brasil como fazendeiro de cana-de-açúcar que decide comandar uma viagem de navio até a África para traficar escravos. Uma tempestade faz a embarcação naufragar e o único sobrevivente é Crusoé, que permanece mais de 20 anos sozinho na ilha. Sua única companhia chegará após todo esse tempo, quando ele salva a vida de um nativo, Sexta-Feira, que havia sido capturado por um grupo de canibais, transformando-o em seu criado. Anos depois desse encontro, no retorno à Inglaterra, Crusoé recupera sua fortuna, se casa e forma família.

Nesta releitura da célebre aventura, Crusoé se transforma em Cruso e o enredo ganha um terceiro personagem. Susan Barton é uma inglesa que vai para a Bahia em busca da filha, que fugiu ou foi raptada. Depois de dois anos de tentativas frustradas de encontrá-la, decide retornar à Europa, mas o navio em que rumava para o velho continente é alvo de um motim e ela acaba jogada ao mar, ao lado de seu amante, o capitão do barco. Ela sobrevive e desemboca na ilha já habitada por Cruso e por Sexta-Feira.

A versão de Coetzee também é muito mais centrada na incomunicabilidade de certas visões de mundo do que em aventuras numa ilha perdida. Para Coetzee, as marcas deixadas pelo colonialismo e pelo apartheid são indissociáveis de sua escrita. É, portanto, sob a lente do pós-colonialismo que ele reconta a famosa trajetória de Cruso e de Sexta-Feira.

Diferentemente da versão original, quem consegue retornar para a Inglaterra é Susan, levando consigo Sexta-Feira, já que Cruso morre de febre no navio que os resgata da ilha. Assim que chega a essa outra ilha, ela quer colocar no papel o período de convivência dos três no isolamento, mas a história, do ponto de vista editorial, peca pela falta de detalhes sórdidos: não há ataques de nativos ou canibais, nem descobertas de ferramentas ou grandes invenções. Sem nada de extraordinário, o enredo não atrai a atenção de Daniel Foe, o autor que ela procura para publicar o que quer contar.

Não há grandes momentos na ilha justamente porque os dias passados pelo trio no lugar são apenas pano de fundo para o real questionamento de Coetzee nesta narrativa. É na Inglaterra que as verdadeiras perguntas serão feitas. Somente na convivência forçada de Susan com Sexta-Feira a personagem entende que as verdades são muitas, e ela não pode se desfazer da sua para enfeitar seu relato.

Sua maior angústia passa a ser o fato de que Sexta-Feira não pode falar. Ele não tem língua e, portanto, não pode contar sua própria história. Não se sabe ao certo se quem o decepou foi Cruso, para submetê-lo a sua vontade, ou se foram traficantes de escravos, conforme o náufrago relata à Susan. Como ele a perdeu é um mistério que a perturba:

Foe nada respondeu e eu prossegui. “A história da língua de Sexta-Feira é uma história que não pode ser contada, ou não pode ser contada por mim. Quer dizer, muitas histórias podem ser contadas sobre a língua de Sexta-Feira, mas a verdadeira está sepultada dentro de Sexta-Feira, que é mudo. A verdadeira história não será ouvida até que por nosso próprio engenho encontremos um meio de dar voz a Sexta-Feira”.
Sexta-Feira, comenta Susan em outro trecho, não tem “defesa” contra ser remodelado pelos outros, e assim ninguém conhece verdadeiramente sua essência. Com o domínio da linguagem que lhe é característico, Coetzee evidencia a importância do domínio de discurso no relato histórico. Sexta-Feira, os nativos, o mundo colonizado não conseguem fazer sua história ser ouvida, porque os dominadores lhes tiraram o poder da fala.

Susan tem um papel intermediário nessa relação de poder. Ela representa o dominador, vê Sexta-Feira como seu servo, mas desenvolve certa empatia por um ser que em um primeiro momento lhe causava repulsa. Embora não consiga se libertar da visão do pequeno menino negro como um escravo, ela ao mesmo tempo não consegue abandoná-lo à sua própria sorte, se sente de alguma forma responsável por ele. Quer enviá-lo a África, que para ela é uma massa disforme de terra, sem pensar na individualidade de cada pedaço desse vasto continente.

Já Cruso, acostumado ao papel de dominador, faz pouco dos questionamentos de Susan sobre a justiça dos acontecimentos trágicos que envolveram seu criado antes de sua chegada à ilha:

‘Se a Providência fosse cuidar de todos nós’, disse Cruso, ‘quem restaria para colher o algodão e cortar a cana-de-açúcar? Para os negócios do mundo prosperarem, a Providência deve às vezes acordar e às vezes dormir, como fazem as criaturas inferiores’
Mesmo Susan não consegue imprimir seu próprio tom à história. A sua verdade tampouco importa para o mundo, e o livro termina sem sabermos exatamente a qual versão Foe vai se apegar.

Embora esse não seja o livro mais poderoso de Coetzee, um autor que sabe como ninguém reinventar o romance, é mais um interessante episódio de sua trajetória remodelando a literatura. Uma meta para 2016 é voltar a mergulhar na obra deste grande narrador (aguardem a minha lista de livros para 2017!).

site: http://www.achadoselidos.com.br/2017/01/04/resenha-foe/
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criscat 12/12/2016

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O autor descontrói a história de Robinson Crusoé, que deixa de ser o narrador-protagonista, colocando a voz narrativa na figura de Susan Barton, náufraga que sobrevive a um motim no navio em que viajava e que acaba "aportando" na ilha de Cruso. Assim como F.Scott Fistzgerald já fizera com Nick Carraway em O grande Gatsby, deixando que o vizinho do herói conte a história de Jay Gatsby, Coetzee deixa a cargo de uma "coadjuvante" a narração das aventuras/desventuras de Crusoé.

site: http://www.cafeinaliteraria.com.br/2016/09/03/foe-de-j-m-coetzee/
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vortexcultural 10/10/2016

Por Cristine
Neste clássico da literatura contemporânea, publicado originalmente em 1986, o prêmio Nobel J.M. Coetzee reinventa a história de Robinson Crusoé.

O autor desconstrói a história de Robinson Crusoé, que deixa de ser o narrador-protagonista, colocando a voz narrativa na figura de Susan Barton, náufraga que sobrevive a um motim no navio em que viajava e que acaba “aportando” na ilha de Cruso. Assim como F. Scott Fistzgerald já fizera com Nick Carraway em O grande Gatsby, deixando que o vizinho do herói conte a história de Jay Gatsby, Coetzee deixa a cargo de uma “coadjuvante” a narração das aventuras/desventuras de Crusoé.

O livro é narrado em primeira pessoa por Susan. E o interessante é que a voz narrativa tem um tom de contador de histórias, com digressões que (felizmente) não atrapalham e se encaixam perfeitamente no contexto. É quase como uma quebra da quarta parede (se o livro fosse um filme). Há vários apartes, como se o narrador estivesse mesmo conversando com o leitor, pedindo permissão para algo ou avisando que falará disso ou daquilo mais tarde.

Leia a crítica completa no Vortex Cultural.

site: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha/resenha-foe-j-m-coetzee/
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Amanda 21/07/2016

Foe
Resenha no blog As Meninas Que Leem Livros

site: http://www.asmeninasqueleemlivros.com/2016/06/foe-j-m-coetzee.html
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Marcos Pinto 03/06/2016

Original
Ao voltar do Brasil, o navio em que Susan Barton estava sofre uma rebelião. Com o ocorrido, os revoltosos a deixam à deriva para que tentasse a própria sorte. Por sorte, ela acaba indo parar em uma ilha habitada. Lá moravam dois homens; Cruso e Sexta-feira. O primeiro, um senhor; o segundo, o servo. O primeiro pode falar, tem sua própria história – apesar de preferir não mencioná-la; o segundo está preso a si mesmo por razões físicas.

Na ilha, Susan convive harmoniosamente, ao menos na maior parte do tempo, com os dois. Também aproveita o tempo livre para tentar descobrir o que aconteceu com esses dois homens e o porquê deles terem certas atitudes. Ademais, preocupa-se excessivamente em não ficar presa naquela ilha por muito tempo. Ela deseja ser salva, voltar ao seu mundo e levar os dois homens com ela. Entretanto, nem tudo sairá conforme o esperado.

Um navio acaba atracando nas proximidades e salvando o trio. Contudo, Cruso está muito debilitado e não resiste à viagem. À Europa, chegam apenas Susan e Sexta-feira. Então, os problemas acabam se agravando. Afinal, eles estão em um lugar onde tudo é movido a dinheiro e não possuem qualquer sustento. Para sobreviver, Susan resolve vender a única coisa que tem: sua história. Daniel Foe será o comprador.

“O coração do homem é uma floresta escura – esse é um dos ditados que circulam no Brasil” (p. 12).

Partindo da premissa anteriormente relatada, Coetzee cria um enredo profundo, instigante e muito poético. Essa é uma daquelas obras que precisamos estar atentos aos detalhes; afinal, nem tudo é realmente o que parece. Como o leitor é refém dos olhos de Susan, muitas vezes suas lembranças e opiniões se misturam e permeiam a obra de uma maneira que é quase impossível definir o que realmente é real, o que é criação e o que é metafórico.

Além do bom enredo, o leitor é premiado com uma escrita maravilhosa. Muito bem trabalhada, o livro consegue envolver quem lê, mesmo quando praticamente nada está acontecendo – algo que não é incomum na obra. O livro não é apenas um enredo, um apanhado de fatos; Coetzee os costura com o brilhantismo de quem sabe o que está fazendo. Ele permeia toda a sua obra com uma beleza complexa, com uma poesia intrincada e bem construída.

Os personagens também merecem destaque pela excelente construção. O autor preza pelo aprofundamento psicológico e pela construção complexa. Eles são dúbios, humanos, imprecisos, o que os deixa mais verossimilhantes. Na obra, pouca certeza há. É no incerto que a beleza reside. Há muitas possibilidades, muita coisa pode ter acontecido no passado de cada um. A dúvida é que faz a união dos núcleos narrativos ser tão profunda.

“‘Se a Providência fosse cuidar de todos nós’, disse Cruso, ‘quem restaria para colher o algodão e cortar a cana-de-açúcar? Para os negócios do mundo prosperarem, a Providência deve às vezes acordar e às vezes dormir, como fazem as criaturas inferiores’” (p. 24).

Quanto à parte física, não há o que reclamar. A capa é bonita e segue o padrão de publicação de outros livros do autor pela Companhia das Letras. A diagramação é simples, mas confortável, cumprindo seu objetivo. A revisão e tradução são perfeitas, como já é comum nos livros da editora.

Em suma, Foe é uma obra bela, profunda e complexa. Não possui grandes reviravoltas e muitas certezas, o que pode irritar alguns leitores. Contudo, para quem busca um livro inteligente e que fuja de padrões pré-formatados da indústria cultural, esse título é uma excelente opção.

site: http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/06/resenha-foe.html
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