Don Giuliano 29/10/2016
Seria um bom roteiro de filme...
Inegável que foi o nome Bear Grylls que chamou a atenção na estante da livraria. Não sabia que o renomado apresentador do Discovery Channel também se aventurava como escritor. Uma agradável surpresa, ainda mais pela proposta de sua obra: um romance de espionagem e ação ao estilo Frederick Forsyth com pitadas de Dan Brown.
Bem, nosso estimado chefe escoteiro está longe de se tornar um desses autores, seja o canastrão Dan Brown ou, muito menos ainda, o renomadíssimo Forsyth. Mas a tentativa é válida, pois resultou num inegável bom roteiro para um filme de ação e espionagem.
Como disse, a ideia é legal. Mas...
Ao tomar o livro nas mãos, confesso, me impressionei com as chamadas na capa e contra-capa: mulher congelada em uma geleira, hidroavião gigante nazista, macacos doidões, um garoto que é a esperança de tudo...enfim, de fazer os olhinhos brilharem. Logo de início, a explicação do autor sobre sua motivação em escrever esta obra também contribuiu para o aumento da expectativa quanto a narrativa desta estória.
Eis o problema: durante o transcurso da narrativa, os elementos são apresentados em suas devidas cenas e capítulos, mas de uma forma fria, superficial, e em muitos casos de uma forma coadjuvante, sem importância, levando o leitor a se perguntar: "tá, e daí?".
Parece que falta alguma coisa. O que se leu nas sinopses criou a expectativa de uma intrincada trama recheada com aqueles elementos e argumentos que os envolveriam. Mas não é o que acontece. Parece que muitos desses elementos estão ali apenas por estar sem fazer muito sentido , ou mesmo diferença, para a estória em si. Como se as pontas, embora não fiquem soltas, ao final da história pareçam que estão um tanto frouxas.
E convenhamos: "Caçadores Secretos" é muito clichê! Não é spoiler, mas se quer saber o que é , vá ler o livro.
Para um filme talvez seria o suficiente, mas para um livro creio que faltam argumentos para aqueles elementos fortemente anunciados tanto fora quanto dentro da narrativa do livro.
O ponto forte do livro é o esforço do autor em criar uma história verossímil, rica no detalhamento das cenas de ação, bem como nos elementos bélicos apresentados. Drones, dirigíveis, metralhadoras, helicópteros, trajes especiais,tudo ali bem descrito em detalhes técnicos. Uma diversão a parte pesquisar essa parafernália na web e constatar que de fato ela existe.
Outra coisa legal no livro é que ele trata de assuntos da atualidade. Sobrou até mesmo para menções ao Brasil e a nossa então presidente Dilma, citada somente como "a presidente". Nesse ultimo caso, é interessante notar como alguém enxerga o Brasil em uma trama sob o ponto de vista de um autor estrangeiro.
Por fim, é necessário enaltecer a grande sacada de Grylls em utilizar sua experiencia militar diretamente na narrativa da obra, bem como aspectos históricos riquíssimos da participação de membros de sua familia na Segunda Grande Guerra: as reais motivações para esta obra.
Enfim...
O livro está longe de ser ruim. Mas não dá pra dizer que é um clássico da espionagem. Embora em muitos momentos da narrativa o autor me remonte a Frederick Forsyth e seus clássicos "Cães de Guerra" e "Dossiê Odessa".
Bear Grylls não faz feio como autor, mas eu pessoalmente esperava mais pois a expectativa foi grande.
Valeu como diversão.