victor 04/02/2018
Conhecimento a cada página
Terminei hoje a leitura dos 5 livros da Coleção sobre a Ditadura Militar Brasileira do escritor e jornalista Elio Gaspari, e vou fazer uma breve análise sobre as reflexões, os ensinamentos e as histórias que conheci ao ler os livros:
Primeiro fiquei perplexo ao perceber o quanto o ensino da História do Brasil está defasado no Ensino Público de nossas escolas, da qual eu mesmo fiz parte.
Quando estamos na escola só nos é ensinado que a Ditadura foi uma época ruim, em que as pessoas viviam com medo, eram torturadas, presas e exiladas, mortas, algumas com os corpos nunca encontrados; e havia censura na imprensa.
Só isso, nada mais. Eram os chamados “Anos de Chumbo” dos quais nem os nomes dos presidentes da época eu aprendi na escola.
Essa cultura do desconhecimento de sua própria história é algo que tem que ser mudado em nosso país se quisermos algo melhor do Brasil no futuro.
Mas enfim, a Ditadura Brasileira começou com um golpe em que nem um único tiro foi disparado, os generais golpistas nem acreditavam que daria certo, o sucesso deveu-se mais a falta de ação dos militares leais ao governo de João Goulart do que a ação dos golpistas.
O maior motivo do Golpe foi a “ameaça vermelha”, a ameaça de que o Presidente João Goulart transformasse o Brasil em um país comunista, sob a órbita da União Soviética. Tal ameaça nunca se comprovou verdadeira.
Mas o Golpe teve o apoio de diversos setores da sociedade, entre eles a Igreja Católica, que realizou a Marcha com Deus pela Família.
Os regimes militares de direita eram apoiados pelos EUA em toda a América Latina, que queriam manter a região sobre a sua esfera de influência durante a Guerra Fria. No Brasil não foi diferente.
No seu inicio a Ditadura tentou ser branda, se escondendo sob ares de legalidade. Foi apenas em 1968, no governo Costa e Silva, que ela começou a mostrar suas garras mais afiadas com a edição do AI 5, que retirou direitos e liberdades fundamentais do cidadão, negando-se inclusive o habeas corpus em casos de crimes contra a segurança nacional. (o direito da população de escolher o presidente por meio do voto direto já havia sido retirado por meio do AI 2, em 1965).
Aqui temos que refletir.
Nessa época existiam diversas organizações terroristas de esquerda, que planejavam atentados, sequestros e roubos visando derrubar o regime e instalar uma ditadura comunista em seu lugar.
Essas organizações não queriam a redemocratização do Brasil, mas sim trocar uma ditadura de direita por uma de esquerda. Não tinham o apoio da população e nem mesmo do proletariado que tanto diziam defender, eram formadas em sua maioria por jovens estudantes de classe média. (organizações de esquerda que pediam o fim do regime e realmente defendiam a democracia sem cometer nenhum ato de terrorismo só começaram a surgir nos anos 70, depois que as organizações terroristas já estavam todas extintas).
Ambos os lados cometeram atrocidades, mas a Ditadura, com a máquina repressiva do Estado, cometeu muito mais: torturas, sequestros, assassinatos.
Era a época do Milagre Econômico do governo Médici, quando a economia brasileira cresceu como nunca antes. O cidadão comum, que nada tinha a ver com organizações de esquerda, podia viver uma vida quase normal: não sofria das torturas e perseguições e tinha um maior poder de compra graças ao Milagre.
Que preço pagava por isso? Não podia votar para presidente, não tinha liberdade de reunião, não tinha liberdade de expressão e sofria com a Censura.
Esse é um preço bom a se pagar? Sua liberdade em troca de uma economia melhor? Pouco se importando com seus compatriotas ou mesmo familiares que sofriam os piores horrores do regime apenas por discordar dele?
Cheguei a uma conclusão: a Ditadura Militar só acabou, e os movimentos populares pelo seu fim só começaram, quando o Milagre acabou e a economia despencou no governo Figueiredo, só se restaurando com o Plano Real no governo Itamar Franco.
A Ditadura nos deu o Milagre Econômico e também a Ruína Econômica.
Eu os convido a olhar nossa situação atual, em que passamos por uma crise econômica, e pensar: realmente vale a pena perdermos nossas liberdades, nossos direitos, por melhora econômica?
Quando a Ditadura acabou, ninguém foi punido, nenhum torturador foi preso, muitos seguiram suas carreiras no Exército até se aposentarem, outros se envolveram com tráfico de drogas, jogo do bicho ou extração de minerais em Serra Pelada.
Poderia falar sobre muitas outras coisas sobre os livros, mas encerro este texto com uma fala do delegado David dos Santos Araujó, torturador do DOI de São Paulo, em uma entrevista para um jornalista durante o governo Dilma: “Hoje nossos adversários são excelências e nós não somos nada”.
Espero em Deus que continuem nada sendo.