Henrique Fendrich 21/08/2018
Gostei tanto desse livro. Acho que ele domina como poucos a arte de se contar uma história. Seus contos realmente prendem a atenção, suas tramas são originais e seus personagens despertam o nosso interesse. Sem falar que boa parte dos personagens são figuras complexas, ou seja, nem completamente bons e nem completamente ruins. Isso pode ser observado no primeiro conto do livro, “Mackintosh”, e que chega a ser problematizado abertamente no segundo, o belo “O degenerado”.
Os contos todos se passam em Ilhas do Pacífico, notadamente Samoa, e abrangem as questões de adaptação de homens brancos à cultura dos habitantes daquela região. Essas relações vão desde a total integração, como no citado “O degenerado”, até a quase aversão, como em “O poço”.
Uma coisa que se manifesta com frequência é a questão racial, através do preconceito dos brancos. Embora eventualmente o texto insinue preconceitos do próprio autor, sobretudo contra mulheres, o melhor conto de Maugham, “Chuva”, se vinga da visão etnocentrista do colonizador europeu que deseja converter os “selvagens” aos cultos dos seus deuses. Toda hipocrisia religiosa vem à tona em um conto repleto de ações surpreendentes, com desfecho improvável. Um conto que não consegui largar até terminar.
Tem ainda o belo “Vermelho”, que eu já conhecia do “Maravilhas do conto inglês”.
Foi uma grata surpresa esse Maugham, mas foi bom que eu tenha deixado para ler o prefácio por último, do contrário eu não gostaria nada do livro. De fato, Rodrigo Petronio fez um prefácio que, depois, depois de algumas palavras bonitas no início, desanca o livro e Maugham de tal forma que fatalmente iria me influenciar negativamente se eu tivesse cometido a temeridade de lê-lo antes do livro propriamente.
Aparentemente, a crítica literária vê Maugham com muita má vontade, sobretudo porque fazia sucesso, e só então por eventuais defeitos de seus textos. Reconheço, por exemplo, clichês no conto “O degenerado”, que nem por isso deixou de ser um dos que mais gostei do livro. Talvez o meu gosto não seja tão refinado quando tais críticos desejam.
Diz o Petronio que dificilmente alguém colocaria Maugham ao lado de grandes nomes da literatura. Vou cometer uma heresia, mas eu gostei até mais de “Chuva” do que de “Bola de sebo” do Maupassant.