Jorge 04/03/2021A pobreza intelectual, emocional e afetiva.Maria Rosa é raivosa. Não tem estudo, instrução. Ela não tem vestido pra sair, comida para oferecer aos filhos, crédito na mercearia da vila e nem em outro lugar. As contas chegam, mas não tem dinheiro para paga-las. As crianças choram o tempo todo de fome, pedem brinquedos, necessitam de tudo. É um lar atormentado por dívidas, humilhações, gritos e queixas.
Debaixo deste mesmo teto vive Campos Lara, o marido, um professor-poeta, opositor do analfabetismo e da incultura, o que enfurece demais Maria Rosa, pois na percepção dela estudo serve só para atrapalhar, que muita informação e conhecimento deixa a cabeça das pessoas confusa. E ela tem boas razões para pensar assim, já que possui um exemplo disso vivendo dentro de sua casa. E ela se pergunta: Do que adianta a intelectualidade do marido se isso nunca trouxe prosperidade a família?
Isso leva Maria Rosa a concluir que se casou com um homem inadaptado, abobado, sonhador, inútil, um incapaz para a vida prática. Inconformada, ela não mede palavras para que o marido saia do mundo da lua, da poesia, dos sonetos, da literatura, na esperança de que ele caia na realidade, a realidade do campo, do preço do café, do feijão duro.
Existe um abismo na diferença de educação e temperamento de Campos Lara e Maria Rosa. E é na relação amarga e conflituosa deste casal que se constrói a narrativa deste romance. E que romance! Que escrita boa! Que livro bom, minha gente!!! Um clássico escrito na década de trinta, muito a frente do seu tempo, com discussões de assuntos sérios, nada infantis, pertinentes até os dias de hoje. Não deixe de ler! Não deixe mesmo!!! Cinco Estrelas!!!