gabi.acervodagabii 02/10/2021
A homenagem de Jorge Amado à Bahia
Tieta, a filha pródiga, moleca de Agreste, pastora de cabras, cidadã benfeitoria, Joana d'Arc e padroeira do sertão. Personagem do imaginário popular, ganhou a televisão e o cinema nacional. Tieta é mulher sensual, forte e excêntrica. A vida da sossegada Santana do Agreste ? ?bom lugar para esperar a morte?, como dissera o caixeiro-viajante ? é sacudida com o seu retorno e a suposta chegada do progresso à cidadezinha.
Jorge Amado descreve com riqueza de detalhes e personagens o cotidiano de uma cidade do interior: as receitas que enchem os olhos só de imaginar, a rotina dos pescadores, as dunas e os cômoros de Mangue Seco, a variedade de frutas na feira, a missa à tardinha, o cinema à noite, o bilhar entre amigos no bar dos Açores, as disputas do Taco de Ouro, as viagens da marinete de Jairo ao som do rádio russo, os bailes na pensão de Zuleika Cinderela, a boa prosa no Aerópago enquanto centro cultural de Agreste.
Na obra também são levantadas questões como o conflito entre desenvolvimento e proteção do meio ambiente, com foco na industrialização e no dano ambiental causado pelo dióxido de titânio, que se torna uma ameaça capaz de destruir o paraíso de Mangue Seco. Mas, como se espera de Jorge, há muitas narrativas e romances improváveis paralelos a isso. Todos os personagens tem suas faces expostas, imperando a ambivalência do ser humano.
Em ?Tieta do Agreste? há um excesso de vida, mesmo em um cotidiano pacato, que corre com conflitos morais e políticos, ameaça ambiental e boas doses de fofoca, fazendo jus a cidade pequena. Neste empolgante e volumoso folhetim, como o próprio autor denomina, Jorge Amado nos presenteia com uma Bahia alegre e cheia de cor, sol e mar, com as alegrias e as tristezas do amor, com explosões de risos e de lágrimas.