spoiler visualizarTainara 18/01/2015
Agreste de Tieta
Tieta é aquela filha que dá trabalho ao pai e causa inveja às irmãs por sua coragem. Expulsa de casa por ter se aventurado em areais com homens diversos, quando não lhe devia, constrói sua vida em São Paulo.
Quando volta a Sant’Ana do Agreste, anos depois, aparece como Antonieta Esteves Cantarelli, viúva de Comendador. Tudo fachada. Tieta era, na verdade, Madame Antoinette, dona de prostíbulo de luxo.
Mas enquanto a máscara de filha pródiga perdura, Tieta mostra-se a boa filha, boa irmã e boa conterrânea que é, ajudando a todos. E por todos sendo explorada, porque aonde vai, a bajulação e o interesse – não muito bem – escondido, a persegue.
O autor, de maneira ímpar, conversa com o leitor no decorrer de toda a história. Narrando os fatos com imparcialidade, vez ou outra interrompe o conto para uma conversa franca, cara a cara com quem lê: reserva a ele mesmo um capítulo, para esclarecimentos e comentários.
Em certo ponto da história, me deparei com a pergunta: onde está Tieta? Não se engane pelo título da obra, tomando a pseudo-viúva como personagem principal; ela anda sumida por vários capítulos.
O próprio autor resolve o mistério, em um dos momentos de folga da narrativa para a devida conversa com seu leitor: a culpa é toda de Tieta, ela anda ocupada demais.
Não aceito tais desculpas. Para mim, o personagem principal mesmo é o Agreste, responsável por todos os fatos, persona da qual em torno gira toda a história. Tieta, no título, é só um convincente chamativo.
Mas ela também não deixa a desejar. Com perspicácia, consegue enganar a todos da pequena cidade. Feito difícil, diga-se de passagem, considerando que o melhor – e único – passatempo do povo de cidade pequena é bisbilhotar e fofocar sobre a vida de todos.
Ao redor do irônico romance entre tia Tieta e sobrinho barra seminarista Cardo, os maquiavélicos e engenhosos planos da Brastânio e os diversos acontecimentos que podem rondar a vida dos habitantes de uma pacata cidade, principalmente quando a mais famosa filha pródiga retorna, Jorge Amado escreve um romance sem igual que diverte, dá nos nervos e causa suspiro. O número de páginas, assustador de início, nos leva a uma grandiosa aventura, que vale cada palavra, onde o autor faz valer o tamanho do romance e o termina de forma exemplar e sem deixar nenhum fio solto, por mais difícil que seja, devido ao número de personagens.
Tieta, da mesma forma que saiu pela primeira vez de Sant’Ana do Agreste, mais uma vez diz adeus: inabalada, de cabeça erguida, dona dos próprios atos e pisando no preconceito de um povo atrasado para seu tempo (imagina, então, para o nosso)!