Sofia Trindade 25/07/2016Precisamos conversar um pouco com Thalita Rebouças"Precisamos conversar um pouco com Thalita Rebouças". Foi isso que comecei a pensar quando comecei a ler as 17 primeiras páginas do livro. Essa não é a primeira história da autora que eu leio, então o campo estava cinquenta por cento preparado para o que viria na história. Porém em algumas páginas o campo secou e tudo que sobrou para mim foi um pouco de surpresa por estar lendo tudo aquilo.
Tetê, apelido para Teanira, é uma menina de 15 anos que por não estar dentro dos padrões de beleza desejados pela sociedade acaba sendo excluída, rejeitada e passa por situações constrangedoras em sua escola. A menina acaba tendo que se mudar com sua família para a casa dos avós, depois que seu pai perdeu o emprego que garantia o sustento deles. Para ela foi um alivio, pois mudando de bairro ela mudaria também da escola onde era tão humilhada.
Indo para outra escola Tetê se vê destinada a fazer amigos e dar um rumo na sua vida. E isso acaba acontecendo, só que na bagagem ela acaba se apaixonando por Erick, o famosinho da escola que infelizmente namora com Valentina, a megera. Agora Tetê faz de tudo para se afastar de Valentina e se livrar do bullying.
Contando a história dessa forma simples e discreta podemos ver que será mais um livro com confusões e clichês adolescentes sobre diversos assuntos. Mas ao contrario do que se pensa o livro trouxe um peso horrível de frases opressoras, muitas vezes machistas e certamente não era só porque o livro tinha temática bullying.
Logo na primeira página Tetê explica que está sendo praticamente obrigada pela mãe a ir em um psicologo porque para ela a menina é louca pelo simples fato dela ser fechada, triste, sem amigos, desarrumada, que não gosta de se depilar, estar acima do peso e vivi querendo cozinhar. Tudo isso é praticamente jogado em cima da personagem sem o maior "cuidado de mãe" nas palavras, sem se importar se uma menina de quinze anos aguentaria ouvir tudo isso sendo dito pela própria família.
Na escola nova por esforço, e trauma de ser excluída, a garota consegue fazer dois amigos, David e Zeca. Zeca é nitidamente gay e possuí uma graça e bordões que nos arrancam várias gargalhadas, mas não passa disso. O personagem não está ali para quebrar nenhum tipo de tabu e acaba contribuindo na "detonação" de Tetê, mesmo ambos sendo amigos a pouco tempo.
O livro tem uma disputa feminina que infelizmente ainda está presente em alguns livros adolescentes. E como se pode imaginar o causador disso, além da implicância de Valentina com Tetê, é o príncipe da história: Erick. Sedendo a pressão da mãe e do amigo, aos poucos Tetê vai mudando sua aparência e se tornando mais bela, o que tirou todo brilho do fato de Tetê ter quinze anos, mas ser uma ótima cozinheira. De todos os livros que li até hoje nunca tinha lido um com uma personagem que sabe cozinhar e isso em momento algum foi um tópico valorizado pela autora, mesmo que na capa e diagramação contenha elementos de cozinha e receitas.
O que me incomodou na história toda foi a forma como um assunto delicado foi extremamente jogado fora e o que era para ser algo como "Parem com o bullying nas escolas! Respeitem as pessoas como elas são" acabou se tornando "Tenha uma fada madrinha que te transforme em uma garota bonita e todo resto estará bem".
A escrita de Thalita é muito boa, tanto é que solicitei o livro por saber disso, mas depois da página cem ficou meio exagerado o jeito como a personagem se expressava e o que era fácil de se ler foi se tornando um fardo. Os diálogos não são tão naturais e acontecem como se fosse uma obrigação eles estarem ali naquele momento. Isso acontece principalmente no final quando tudo começa a correr e para dar uma explicação a algumas coisas a personagem diz tudo que aconteceu em falas enormes com seu psicologo.
Não houve nenhum tato ao tratar do assunto, nenhum tato em se respeitar a escolha de uma pessoa, nenhum tato ao desenvolver o enredo passando uma lição para quem lê. A impressão que ficou para mim foi que o livro todo foi exposto de forma engraçada apenas para divertir uma adolescente, só que não foi pensado que nesse momento uma Tetê pode estar lendo o livro e passando por um momento igual ou pior.
Parabenizo com gosto a perfeição da capa e da diagramação que o livro possuí, mas acredito que os elementos de cozinha se tornaram desnecessários por esse não ser o foco do enredo.
Mesmo o público sendo adolescente, como todos dizem, não acredito que a leitura não possa transmitir uma mensagem, mudar um pensamento e vendo como nossa geração aos poucos está mudando suas ideologias e buscando a liberdade de ser como a personagem era, sem se importar com que as pessoas dizem a leitura toda acabou sendo um retrocesso.
site:
http://formula-amor.blogspot.com.br/2016/07/resenha-confissoes-de-uma-garota.html