Ana Luiza 10/05/2016
Resenha do blog Mademoiselle Loves Books - www.mademoisellelovesbooks.com
Amy Gumm gostaria de estar em qualquer outro lugar, menos na cidadezinha do Kansas onde mora. Crescer em um trailer com sua mãe depressiva e viciada em remédios não tornou Amy a garota mais popular da escola e sim uma pária de cabelos de rosa, sem amigos ou qualquer perspectiva promissora. Amy se mete em uma briga na escola e é mandada para casa. Quando a garota acha que seu dia começou a melhorar ao ver que a mãe finalmente se levantou do sofá, ela percebe que a progenitora só o fez para correr para um bar e abandoná-la sozinha em meio a vinda de um tornado.
Na companhia apenas do hamster de sua mãe, Star, e frustrada, Amy só queria deixar sua vida miserável para trás. Mas sem qualquer dinheiro, fugir é algo impossível para ela. E é então que o Universo (ou alguém) atende o desejo de Amy, mas não da maneira que ela esperava. O trailer da garota é sugado para dentro de um tornado e, de algum modo, ela acaba indo parar na mágica Oz. Claro, Amy conhecia os livros, os filmes, a música e tudo mais. Mas nem mesmo a estrada de tijolos amarelos é como Amy esperava.
Acontece que a bela e mágica Oz está completamente devastada. O que aconteceu? Dorothy. A outra menina do Kansas de alguma forma conseguiu voltar a esse mundo, apenas para escravizar aqueles que antes tinha libertado. A doce garota da fazenda tornou-se a Princesa Dorothy, uma monarca cruel e mimada, além de uma bruxa. Seus fiéis amigos também não são os mesmos. O Leão Covarde é agora uma besta que se alimenta do medo, o Homem de Lata é uma verdadeira máquina de mutilação e o Espantalho um cientista maluco. Todos os que deveriam ser bons, inclusive Glinda, a Bruxa Boa do Sul, se transformaram em versões perversas de si mesmos.
“’Você diz Perversa como se fosse uma coisa boa’, eu disse.
(...) ‘Para baixo é para cima, para cima é para baixo. Boa é Perversa, Perversa é Boa. Os tempos estão mudando. É nisso o que Oz está se transformando.’” Pág. 132
É nessa Oz distorcida que Amy ganha uma missão. Recrutrada pela Revolutionary Order of the Wicked (Revolucionária Ordem dos Malvados), a garota é treinada para combater o reinado do mal de Dorothy. O Leão deve perder sua coragem, o Homem de Lata seu coração e o Espantalho seu cérebro e, assim, Dorothy deve morrer. Mas tal tarefa é quase que impossível. Especialmente porque Amy não deve confiar em ninguém, nem em seus supostos aliados. Amy pode ser ensinada a lutar e até mesmo a usar magia, mas será que a Ordem conseguirá fazer dela uma assassina? Ou a velha e medrosa Amy do Kansas irá vencer sobre essa nova Amy, uma guerreira? Sem saber se está do lado certo da batalha, Amy tem que descobrir sua força e sua verdadeira lealdade e natureza. Mas Boa ou Malvada, Amy sabe que há uma única verdade na qual ela deve confiar: Dorothy precisa morrer.
Dorothy Must Die é o primeiro volume da série de mesmo nome. Esse é o primeiro livro em inglês que leio e não tive muitas dificuldades com a língua. Encontrei uma ou outra palavra desconhecida, mas Dorothy Must Die traz linguajar bem atual (especialmente porque a protagonista e narradora é uma adolescente), como as das séries e filmes que costumo ver, portanto não senti maiores dificuldades, apesar de que ler em outra língua é mais cansativo e a leitura demorou mais do que esperava.
A narrativa da autora é bem agradável e fluente, exceto por algumas frases bem longas em que acabei ficando perdida. A trama, os cenários e os personagens secundários são, definitivamente, o ponto mais forte do livro. Trazer sua própria versão de um clássico é arriscado, mas Paige conseguiu dar um ar novo a história de Dorothy, sem desconstruí-la, mas também trazendo coisas novas e muito surpreendentes. A autora virou Oz de cabeça para baixo e com muita maestria conseguiu criar um universo quase que novo e insano, mas viciante. Ninguém jamais conseguiria, a primeira vista, pensar na doce garota do Kansas como uma rainha malvada, mas Paige conseguiu criar uma vilã convincente, uma Dorothy assustadora, que desperta os piores sentimentos dos leitores, assim como seus amigos igualmente ruins. Os outros personagens secundários ou provocam muito amor ou muito ódio, mas nada é o que parece em Oz, e os personagens questionáveis são simplesmente deliciosos.
A trama de Dorothy Must Die é simplesmente genial, inovadora e cativante e a autora a conduz com maestria. O único ponto fraco de Dorothy Must Die, infelizmente, é a protagonista. Amy é muito insegura e clichê, afinal, quantas vezes já não lemos sobre meninas excluídas com vidas infelizes e pais ausentes, que acabam parando em outro mundo, um lugar mágico, onde ganham um propósito? Felizmente, vemos a personagem ganhar mais força e coragem durante o desenrolar da história, mas a carente Amy do início é a mesma carente Amy do resto do livro, que em meio a uma missão de vida ou morte fica se perguntando se tal garoto gosta dela de verdade. Amy é carregada de certa futilidade e me irritou em grande parte da obra, entretanto, para minha alegria, no finalzinho vemos sinais de mudanças, do nascimento de uma verdadeira guerreira, o que me deixou ainda mais ansiosa para o próximo volume. O final de Dorothy Must Die é de tirar o fôlego e deixa o leitor cheio de perguntas, por isso mal posso esperar para ver onde essa história vai dar e se a autora finalmente deu um jeito na Amy.
Delicioso, envolvente, inovador e muito surpreendente, Dorothy Must Die foi uma excelente leitura, apesar de demorada e cansativa. Amei essa Oz sombria que a autora criou, assim como sua trama viciante e elétrica, recheada de muita ação e emoção, assim como uma pitadas de humor. Para quem curte releituras de clássicos, mas que trazem algo novo, recomendo muito a obra. Fiquei muito feliz que a obra finalmente veio para o Brasil!
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