spoiler visualizarmia 13/10/2021
pode mudar o nome pra "raio de mary sue"
esse livro foi uma das maiores decepções do ano. desde o ano passado eu estava doida pra ler ele, mas fiquei enrolando, pois sabia que o final era triste e não sabia se estava num bom lugar da vida pra ler ele. ontem eu tomei coragem pra ler e até agora sinto que perdi meu precioso tempo lendo essas páginas. acredito que eu não seja o público alvo dessa obra, então eu entendo quem gosta dele - se esse for o seu caso, fico feliz que tenha gostado! ao longo da leitura, fiz algumas anotações sobre problemas que me levaram a dar essa nota e acho importante comentar.
em primeiro lugar, os primeiros 50% do livro são INÚTEIS. eu consigo resumir em 1 linha tudo que aconteceu: grant, café, gus, café, misoginia, café. pronto, agora você não precisa mais ler essa parte e já pode pular pra quando a leitura avança. desde o primeiro capítulo, uma coisa ficou clara para mim: a kate se acha melhor e diferente das ?outras garotas? - ela não é uma [*****] que ?dorme com qualquer um?, ela é uma lady que se preserva pro príncipe encantado. ela não tem amigas mulheres, ela é muito ~~cool~~ para andar com garotas fúteis que só pensam em namorar, por isso ela só anda com homens. ela não usa maquiagem porque ela não gosta de ser ?falsa?. e tudo bem não gostar de coisas socialmente definidas como características femininas, mas isso não te torna pior ou melhor do que ninguém. pelo passar do livro, ela só consegue manter amizade com UMA mulher, pois ela não consegue sair da própria bolha ?sou diferente do resto? e estereotipa qualquer outra mulher na primeira chance - ela faz exatamente isso com sua colega de quarto, sugar. ela diz que ela parece uma prostituta por causa do nome e ainda fica ressaltando os ?shorts curtos? que ela usa. engraçado que lá pros 70% a própria kate diz que não gosta de julgar os outros antes de os conhecerem, mas ela fez exatamente isso com todas as mulheres desse livro (que não são muitas).
a autora queria fazer uma história tocante sobre uma menina que quer aproveitar os últimos meses de vida, mas ela acabou criando uma grande mary sue - uma personagem inalcançável e sem falhas. a kate é retratada como esse ser superior e perfeito que é um imã de homens, e pra mim, esse foi o grande erro da autora. eu entendi a mensagem que ela quis passar de aproveitar a vida do presente, mas acho que eu teria sentido mais compaixão pela kate se ela tivesse pelo o menos algum defeito e se mostrasse ser essa pessoa real. aliás, sinto que a kate mesmo não se permite ser uma pessoa real e constantemente diminui a sua dor porque acredita que ela não está na posição de reclamar. eu fico até triste com isso, pois ela claramente ignora os próprios sentimentos a fim de cuidar do resto. e sobre cuidar de todo mundo: a kate tem mania de se intrometer na vida de todo mundo, sem se importar se a pessoa quer receber a ajuda ou não. durante a história, a sua tia, maddie, é revelada a sofrer de bulímia, e o que nossa amável e perfeita kate faz? exato, ela diz ?você tem que parar, faz mal?. uau, você jura?? e ainda piora: ela pensa que odeia quem maltrata o corpo e que todos deveríamos cuidar dele, pois ele é um templo. irônico, pois logo nas primeiras páginas do livro ela admite ter um vício em cafeína e chega a tomar 5 ou mais copos de café puro GRANDES por dia. além disso, a autora tratou esse distúrbio alimentar de maneira porca e preguiçosa, pois no desenrolar da história chega ao ponto de keller falar que não liga pros distúrbios dela. e realmente, ele não precisa ligar, mas se a kate não fosse tão intrometida na vida dos outros ele não teria ficado nessa situação. lidar com distúrbios alimentares não é fácil, e a autora fez parecer que a maddie sofre disso apenas porque ela quer ficar magra, sendo que essa é uma das inúmeras razões que podem levar uma pessoa a desenvolver esse transtorno. resumindo: a autora introduziu esse problema que não soube resolver, então aproveitou a morte da kate pra deixar de lado esse conflito que criou.
além de tudo isso, me irritou muito toda a caracterização e personalidade do clayton. desde o segundo que ele conhece ela, toda a personalidade dele é ser amigo da kate. o personagem dele é criado apenas para que, não em uma, mas em TRÊS situações de violência, ela o salve. ele é usado como um ?plot device? para que ela ganhe simpatia do público, pois mostra o mínima de decência humana ao achar que as pessoas não deveriam apanhar pela sexualidade. não só isso, a kate é retratada como uma figura que liberta o clayton e que o tornou feliz. eu achei muito conveniente da autora colocar o único personagem lgbtqia+ do livro com certo destaque estar lá apenas para afeiçoar a principal.
se eu entrar em detalhes de todos os problemas que tive com o livro, essa resenha vai ter o mesmo tempo de leitura do que o próprio livro, então segue uma breve menção de outras problemáticas que me deparei e/ou coisas que simplesmente não gostei: a menção de estupro pelo gus é feita para ele ?quebrar o tabu? e ficou forçado, dando a entender que apenas mulheres ?bonitas? são estupradas, diálogos fracos, medo de mencionar a frase ?pessoa com deficiência?, que é substituída por ?crianças especiais?, preconceito linguístico ao ficar ressaltando que a sonoridade dos locais é diferente, e que pra mim, foi em um tom de zombação (ex com quote: ?Minnesota soa como quatro palavras separadas: MIN NE SO TA?), outro quote referente à maddie ?Puro osso. Sou obrigada a desviar os olhos. Parece que uma espécie de mecanismo interno foi deflagrado para me proteger de coisas apavorantes.?, bem desnecessário, a palavra [*****] é utilizada por um dos personagens masculinos, desenvolvimento da história fraco (ex: em um parágrafo ela diz que o amigo dela se encontrou e se mudou com a maddie, sem o menor resquício de desenvolvimento). esses foram os que me deparei.
apesar desses problemas, a partir dos 80% a história começa a andar e a escrita melhora bastante, o que me levou a não dar 1 estrela, mas sim, 2. achei responsável a maneira que ela abordou os dias finais da kate e o pós-morte pelo ponto de vista do keller. não cheguei a chorar, pois não possuía afeto pela kate, mas confesso que fiquei triste pelo keller e pelo gus. com isso concluo: acredito que eu não era o público alvo do livro, o que fez com que minha leitura fosse menos agradável do que o esperado. apesar dos problemas, o final é bom e é a única parte do livro que salva.