z..... 07/12/2016
A adaptação em HQ desse clássico é difícil, pois o livro é volumoso e tem muitas histórias. Por enquanto conheço apenas as do volume inicial (da obra original) e as aventuras do Simbad (conforme relatadas no livro). Informalmente conheço outras também, e acredito que seja assim para várias pessoas, mas costumam estar desfiguradas das originais.
Nessa HQ o autor resumiu-se em mostrar o contexto em que o livro se construiu (as histórias de Sherazade para livrá-la da morte) e selecionou duas narrativas para ilustrar.
Gostei das aventuras do príncipe Ahmed, mas apenas na primeira parte, pois as narrativas de Sherazarde são como uma colcha de retalhos, ramificando-se em novas aventuras (estratégia sábia da contadora de histórias). Porém, não achei legal as narrativas sobre o príncipe Bader. Esta segunda ilustra a tônica do livro, pelo menos no que já li e imagino: histórias ultra-fantasiosas e sensacionalistas, que buscam instigar a curiosidade sem se preocupar com algum fundo moral, explorando a violência ou o surreal agregado ao absurdo. Sherazade é como a mídia atual preocupada com a audiência, exaltando o que o povo quer ver. Claro que tem histórias incríveis, mas outras são espetaculosas demais, apenas como uma construção instigante, que se agarram ao realismo fantástico para se manter (o que acontece com sagas como de Harry Potter). Veja o caso de um filme em sucesso atualmente, relacionado, se não fossem os efeitos especiais... E se não fossem as construções surreais de Sherazade...
Vou aproveitar e compartilhar algo: já tive dias de Sherazade. Ei! Qual é! Não me entenda mal, estou falando de situação. Situação! Trabalhei cinco anos como educador em um abrigo de crianças da FCRIA, no plantão noturno. Procurava levar sempre algo (livros, quadrinhos, desenhos, coisa e tal), às vezes tinha que apelar para a lorota de historias quando os meninos iam dormir (minha colega cuidava das meninas) ou eles varavam a madrugada badernando e de manhã tinha que passar o plantão com eles arrumados para ir para a escola. Então contava histórias... Eram como as de Sherazade, no sentido de espetaculosas (claro, em meu limitadíssimo nível de alcance). Uns dormiam logo (de enfado, kkkk!), mas outros ficavam ligados, iam perguntando mais coisas e haja enrolação. Inventava na hora e saia cada maluquice. Deixava o quarto na penumbra, sentava num banco e ia contando de maneira meio teatral e ridícula, com onomatopeia e tudo (depois eles compartilhavam para os outros educadores e não sei se positivamente ou não, imitando meus gestos e onomatopeias). Me sentia um bocado ridículo pensando nisso, mas os moleques também ficavam ligados na hora das tais histórias, quando me prestava a isso, e esse era meu objetivo. Um dos sufocos que passei, foi em uma noite que estava um bocado cansado e fiz uma dinâmica de ir passando a narrativa para eles. Os moleques tinham que contar um pedaço da história e entregar para o outro continuar. Meu filho, quando chegou em mim de novo, para findar, tava tão doida, mas tão doida que nem tenho mais a lembrança de como terminei. E os moleques perguntavam, queriam saber a lógica das coisas naquele mundo maluco... KKK! velhos tempos.
Só besteira na resenha, mas talvez seja por isso que criei essa imagem do livro.
Registro também que a obra tem um olhar de exploração da mulher, algo relatado por uma amiga Skoober. De fato tem isso, vendo-se várias imposições, e o heroísmo da Sherazade, a principal, está na submissão a um crápula tirano, corno vingativo. Mas não se pode esquecer que estamos em um cenário, logicamente, de outros tempos.
Quem quiser que conte outra.