Guilherme Ramos 07/06/2019
Escravidão, amores impossíveis, ação e reação. Trama muito envolvente!
A estória desse livro é sobre uma família que foi escravizada e trazida ao Brasil e no interior de Minas Gerais onde foram comprados por um senhor de engenho, coisa rara de se acontecer naquele tempo, onde os escravos eram vistos como bichos e não como gente e julgando que eles não tinham sentimentos, raramente um ”sinhorzinho” comprava uma família inteira, assim separando pais e filhos pela nova terra chamada Brasil. A família é composta por mãe e pai, Antônia e Agostinho e seus três filhos: Pedro, João e Maria. Já na fazenda São Sebastião, os pais ganham a confiança de seus senhores, Tarcísio e Dona Mocinha, ela (Antônia) passa a ser a negra do lar, que cuida dos filhos da senhora e ele (Agostinho) é tido como um líder dos escravos, por se tratar de um homem justo. Acima de ambos e abaixo dos senhores está o capataz – Zé da Mangueira, homem ruim, que possui um passado triste que deixou cicatrizes por todo o seu corpo, tornando-o uma pessoa ainda mais feia, amarga e com sede de vingança.
Na fazenda o casal Antônia e Agostinho farão poucos amigos entre os escravos, mesmo que a maioria os respeite; essa mesma maioria os inveja. Mas, dentre eles tem um amigo especial, o velho, sábio e falador Zé Francisco, que os auxiliará na adaptação na fazenda e as regras daquele lugar. Os filhos do casal trabalham na horta da fazenda e a filha Maria fica encarregada de lavar as roupas dos senhores e roupas de cama e também roupas dos escravos no geral.
Narrado em primeira pessoa, a estória tem temas bastante interessantes, mas, como base o tema ação e reação, sim, pois esses mesmos escravos de hoje são pessoas que cometeram graves injustiças no passado, assim como alguns brancos e também o capataz Zé da Mangueira, que embora sua personalidade animalesca, se torna um grande personagem de destaque na estória deixando-a mais interessante. Os temas abordados são os amores impossíveis, a doença em forma de expiação, mediunidade e obsessão, tudo construído dentro das leis de ação e reação como citado, pois, esse grupo grande que decidiram se encontrar na fazenda São Sebastião em meados do século XVIII, é um grupo que assumiu a responsabilidade de reencarnarem juntos a fim de saldar pendências de outras encarnações onde um afetou o outro d ireta ou indiretamente. Será que conseguirão alcançar seus objetivos? Terão todos um destino melhor ou feliz? Alcançarão por assim a evolução e entendimento que tanto buscam? Serão por fim livres pelo amor? Cumprirão as promessas feitas em tempos longínquos?
É um livro que embora tenha gostado de ler, acho que demora muito a acontecer, as mensagens são bastante reflexivas, consegue alcançar o imaginário, como se o leitor estivesse dentro da fazenda no século dezoito, principalmente na parte do misticismo, como por exemplo, quando um local denominado paiol, que fica dentro da fazenda não é frequentado pelos escravos, pois ali há uma crença que almas penadas estão presas com sede de vingança; no entanto, acho ao mesmo tempo a narrativa com a pegada fraca, quase não prende e na metade do livro adiante é que tudo realmente começa a acontecer e nos deixa triste quando a estória por fim acaba, pois o leitor ainda está envolvido por aquelas sensações de estar verdadeiramente dentro da estória como um espectador.
Enfim, recomendo a leitura. Eu estava com estafa de ler livros de romance espírita cuja narrativa era ligada ao tema escravidão, justamente por ter lido muitos em sequência em 2018 e havia determinado que não iria ler pelo período de pelo menos um ano livros com essa temática e esse quebrou o jejum com alegria incontestável.