José Igor 09/12/2017
Você quer sangue? Então toma!
Entendi perfeitamente o porquê da capa de O SEGUNDO CAÇADOR ser toda vermelha! A predominância da cor traz à tona toda a violência e o sangue derramado (e esguichado) entre as páginas deste livro!
Will aparenta ser um cidadão entediado e inconformado como todo e qualquer brasileiro que tem acesso à violência, exposta, diariamente, aos nossos olhos. É advogado, é bom no que faz, é um cara forte, e de uma negritude atraente (foi o que deu para imaginar). No mais, inserido num banco de ônibus, junto a dezenas de trabalhadores, parece não possuir grandes destaques. O que nós não sabemos, até então, é que ele tem sangue assassino correndo pelas veias.
Depois do acontecimento no ônibus, o monstro que esteve todo esse tempo hibernando dentro dele, desperta, e já deixa um aviso bem claro de que não irá parar até que morra!
É assim que a história, narrada majestosamente em primeira pessoa, se inicia. E aí, pronto. Você não consegue mais parar de ler!
Acredito que nós, leitores de thrillers policiais, estejamos familiarizados com enredos propulsionados por justiceiros. E sim, Will é um justiceiro. Justiceiro é a definição que tenta “humanizar” o personagem assassino, pois, seus atos voltados a favor do bem da sociedade, causam dúvidas depois, porque, na hora da ação e da matança, mais parece que a tal justiça é posta em segundo plano e o que ele faz é apenas para suprir a fome do monstro que o habita.
O livro é violento! Muitíssimo bem escrito! É nítido o conhecimento de técnicas de escrita empregados por Bruno! Para que uma história seja boa, tem que haver conflito, não é? Pois então, O SEGUNDO CAÇADOR é repleto, recheado, transborda de conflitos! Conflitos externos e internos! Eu fiquei muito surpreso pelo modo como Bruno Crispim conduziu a narrativa, e a qualidade do livro, excedeu as minhas expectativas. Conheci o autor através do Wattpad, e só depois que me dei conta da trajetória literária do autor. Ele é um profissional que mereceu, com certeza, ter sido reconhecido com o Prêmio UFES de Literatura).
Só larguei o livro para fazer tarefas que não dariam para adiar, mas sempre que tinha um tempo livre, eu o devorava. Assim como devorei minhas unhas!
Tenho algumas ressalvas, claro, como por exemplo: a facilidade como Will consegue se aceitar um assassino e já “correr pro abraço!” Ele se torna um “assassino profissional” muito rapidamente (talvez pelo ritmo frenético dos acontecimentos, eu acabei tendo esta impressão). E também me incomodou muito os crimes que ele comete no início, como se tudo corresse muito fácil. Tudo bem que o protagonista é cheio de si e seguro dos seus atos, mas mesmo dando cagadas crescentes em muitas das vezes nas cenas, quase tudo pareceu um tanto favorável para as manobras serem executadas. Não estou dizendo que isso não poderia ter acontecido, mas a gente fica naquela “seje menas, querido Will”. No entanto, a gente sabe que ele, Will, tem umas ajudas fodásticas no decorrer da trama, então, acabei aceitando que ele não seria tão foda assim sem os “amparos” e, que sem o “apoio” que recebeu durante seus atos assassínios, ele já teria sido pego há muito tempo. Portanto, pensando assim, a leitura fluiu e correu tudo bem, mais palatável.
De coração aberto, digo: “Odiei Aninha! Oh my fucking Dog! Que pessoa mais ‘compreendo-tudo-e-faço-piadinha-seguida-de-sorrisos-contagiantes’!” Mano, definitivamente não engoli esta personagem, muito embora ela fosse importantíssima para o nosso Dexter Negro Turbinado. Acredito que ela seja um respiro para a história, e para que o leitor veja e saiba que Will não é 100% o monstro que achamos que ele é. Talvez a missão de Aninha no livro seja para recuperar a humanidade d’O Segundo Caçador e para expor os sentimentos de Wiil, que está, aparentemente, cada vez mais afundado em planos macabros e sanguinolentos. O equilíbrio funcionou bem!
Bom, confesso que não sou fã de histórias de ação, muito menos de cenas de batalhas. Os livros policiais que leio são bem mais no estilo “Detetive procura assassino” (Agatha Christie) do que tramas explosivas como “24 horas” (Usei o exemplo sem saber direito, pois nunca assisti ao seriado 24 horas — não vi mais que as chamadas “adrenalíticas” da TV. Então, me perdoem pela comparação infundada, mas acredito que você me entendeu, hahaha).
Ao terminar a leitura fiquei pensando: “Mas nem Dexter Morgan — que é meu serial killer preferido da vida —conseguiria tal feito!”
Ok, perdão pela comparação que nem cabia aqui, foi apenas um desabafo momentâneo.
Voltando aos elogios: O final foi criado de maneira magnífica! O plano megalomaníaco de Will foi muito bem executado (por ele e pelo autor, rsrs) e o clímax foi um prato cheio (transbordante, na verdade, de corpos e sangue!). Eu achei legal!
O plot twist foi bem da hora, contudo, acostumado às surpresas que o autor foi nos jogando na cara durante a narrativa, não fiquei assim: “Uau, isso explodiu a minha mente, vou ali cortar meus pulsos!!!” Mas garanto que fechei o livro fazendo uma cara de “Puta-que-pariu-que-livro-foda-quero-mais!”
Amarrando minhas impressões, eu devo dizer que me surpreendi com esta leitura. Bruno Crispim está de parabéns. Virei fã, de verdade, e já comprei a continuação (Ascensão)! O autor, a partir de agora, é considerado por mim um Orgulho Nacional! De verdade, um livro nacional de qualidade! Indico demais! E ah, como poderia me esquecer? Eu amo quando o autor transforma substantivos em nomes próprios (Como o próprio título nos traz). Isso deu um ar de completa insignificância e indiferença por parte de Will para com as pessoas que entraram em seu caminho. Este artifício usado pelo autor do livro — cara, mano, brother — fez com que eu me apaixonasse mais ainda pelo seu trabalho!