Carol Cristina | @blogacdh 27/06/2017Resenha postada no @blogacdh"Perdoe-me, minha florzinha de cerejeira. Perdoe-me, Yoko. Seja forte!"
A cena que dá início à história é no julgamento do pai de Yoko, que num acidente de carro acabou matando outro pai de família, não prestando o devido socorro a ele porque estava bêbado. O pai de Yoko é preso, e alguns meses depois, vemos que Yoko tem tentado seguir em frente com uma vida que já não era mais a mesma.
Apesar de sentir saudades da presença do pai, Yoko também ainda sente raiva pelo o que ele causou à própria família, agora desestruturada; e à família que foi atingida pelo acidente, deixando desamparados uma mãe e seus dois filhos meninos. Todos os envolvidos sofrem as consequências da imprudência do pai de Yoko. Ela sente na pele diariamente o julgamento ao redor por ser "a filha do assassino", inclusive, foi agredida fisicamente por isso.
A cada dia que passa, mais ela prefere esconder-se nesse mundo que passou a conhecer. Mas ela ainda tinha algumas lições a aprender, coisas a realizar, barreiras a superar e pessoas para perdoar, ajudar e amar...
"Qualquer um pode cometer um erro"... Quando eu li novamente essa frase na capa do livro ao concluir a leitura, vi que, de fato, todos os personagens haviam cometido algum tipo de erro durante a história. E acho isso ótimo, porque desacomoda o leitor, faz ele refletir sinceramente sobre o personagem e não só julgar o erro alheio: o lembra de que todas as pessoas são feitas de altos e baixos, até os personagens de livros...
Além disso, um livro que flui desde a primeira página, ganha muitos pontos comigo; um livro que não se perde na sua proposta, ganha muitos pontos comigo; um Young Adult que se destaca entre tantos outros que já li, também ganha muitos pontos comigo. E por isso tudo e mais um pouco, gostei muito de Flor de Cerejeira: seria uma pena se eu não o tivesse lido!
Esse é um exemplo de livro que seria ótimo para ser trabalhado numa escola, com a faixa etária de adolescentes; porque além de trazer um contato com uma cultura diferente (tem bastante referências japonesas), aborda váaarios temas importantes, relacionados à: família, ausência/perda, problemas psicológicos, bullying e aceitação, agressão física e psicológica, vícios e suas consequências, culpa e responsabilidade, justiça, arrependimento e perdão, autoconhecimento, e etc. Inclusive, a abordagem sobre o TEI (Transtorno Explosivo Intermitente) foi inédita pra mim e bem interessante.
"As pessoas têm uma maneira estranha de tratar o medo, de como combatê-lo, e percebi que é humilhando os outros."
Confesso que fiquei chocada com o tratamento que a Yoko recebeu das pessoas, demorei a compreender essa reação alheia gratuita à "filha do assassino"! E como uma boa adolescente literária (não me lembro exatamente quantos anos ela tem), Yoko chega a ser um pouco dramática XD Mas ela tem seus méritos! Admirei muito a coragem que ela mostrou em alguns momentos: tanto coragem para ficar em silêncio e receber as pancadas da vida quando foi preciso; quanto coragem para quando chegou a hora de falar, se abrir, ser sincera, enfrentar e assumir suas fraquezas. Consegui entendê-la, porque quando eu mesma sofria bullying na escola (numa época em que isso era normal e ainda nem tinha nome), assim como ela, preferia não me vingar ou fazer justiça com as próprias mãos. Também achava que não valia a pena.
Agora precisamos falar sobre o Aidan! Ele e Yoko foram obrigados a formar uma dupla de trabalho na escola (nenhuma surpresa aqui :P). Só que o Aidan é um mocinho muuuito interessante! Apesar do clichê dele ter um "segredo" (mas até que parte desse segredo achei bem original), a personalidade dele não é de badboy, nem de mocinho perfeito (por fora ou por dentro) e romântico. Seu posicionamento, histórico, personalidade e atitudes são bem colocados e o destacam, até em relação à Yoko (pelo menos pra mim). Acho que nunca encontrei um personagem parecido num YA, realmente o adorei.
A melhor parte é que, mesmo que tenha surgido um sentimento e conexão entre a Yoko e o Aidan, isso não definiu a vida dos dois ou a história toda, sabem? A autora merece palmas por ter planejado uma história que fosse bem além de mostrar um "romance" entre adolescentes! Alana escreve muito bem, e foi um prazer conhecer uma autora nacional como ela. Espero poder ler mais de suas obras!
Um ponto a considerar é que, como esse livro especificamente é para um público mais jovem, mais informal, seria bom tomar um cuidado maior para não exagerar nas metáforas e palavras utilizadas, pois me saltaram aos olhos algumas vezes no texto coisas que poderiam dificultar um leitor menos experiente. Os erros de revisão na obra não são gritantes, mas são consideráveis. Sobre a diagramação, gostei dos pequenos desenhos que acompanhavam o início de cada capítulo, às vezes eram também alguns símbolos em japonês com legendas em inglês (que melhor seria estarem em português). Na versão em ebook que eu li, o texto não estava justificado, o que incomoda visualmente falando. Felizmente, essas são coisas que não são difíceis de corrigir no livro com o tempo. Uns ajustes e uma bela revisão o deixariam perfeito!
Eu estava curiosa e ansiosa com o final da história, estava esperando algo com um pouco mais de emoção. Nem todas as minhas expectativas foram superadas em relação ao desfecho, confesso. Achei que a autora errou um pouco na questão do pai da Yoko, que no final das contas poderia ter sido mais explorada e ficado menos "aberta". Mas não se preocupem, é a única abertura XD De resto, foi sim um final de livro bonito, e ao todo a autora conseguiu cumprir a proposta que explica em nota: de mostrar na Yoko uma personagem que não precisou da vingança para conseguir superar as barreiras da vida e seguir em frente.
"As dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas, Aidan. Até a jornada de mil milhas começa com um pequeno passo."
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