Taíla 21/07/2020
Mais um para a conta da reflexão
O que é fazer o bem? Fazer a coisa certa? E o que é fazer o mal? E quem decide tudo isso? Quem julga? O que acontece com os condenados? São muitas perguntas que podemos fazer antes de tomar uma decisão importante e que vai afetar a vida de outras pessoas. Se fazemos algo, cabe a nós arcar com as consequências e responsabilidades de tal ato, mas e se as nossas escolhas trouxerem desgraça para outras? Devemos pensar apenas no nosso bem-estar?
Em O Demônio e a Srta. Prym, Paulo Coelho nos traz uma discussão de valores, de ética daquelas que podem levar a longas e acaloradas discussões. Para a nossa jovem protagonista, Chantal Prym, ser uma das últimas jovens do vilarejo de Viscos é algo realmente desanimador, nada para fazer e nenhum futuro promissor a espera naquele lugar. Todos os seus sonhos giram em torno de sair dali e a única forma que ela vê na sua situação de órfã, trabalhando no bar do hotel da cidade, é que alguém a leve embora dali.
Quando o estrangeiro chega à cidade, ela vê mais uma chance e arruma uma maneira de se aproximar, porém o encontro não foi bem como ela esperava e o homem faz uma proposta muito tentadora à Chantal (adorei esse nome). Ela pode mudar de vida e finalmente realizar o seu sonho de sair dali, mas o custo para outras pessoas vai ser muito alto. É complicado e tentador.
Esse dilema permeia toda a história da obra onde o estrangeiro tenta provar que não existe bem em mais nenhum lugar do mundo, que todos são egoístas e em algum momento abrem mão das suas convicções. A vida de Chantal, que tem uma semana para decidir o que responder para a tal proposta, se torna uma verdadeira agonia. Sonhos, ressentimentos, pesadelos, recaídas. Muitas coisas se misturam antes que ela possa tomar a decisão e sair desse beco sem saída.
Eu disse que era sem saída, né. Então, a nossa Srta. Prym, se vê apertada e não vou dar mais detalhes sobre os sufocos que ela passa e o que ela decide, mas, mais uma vez o tema levantado por Paulo Coelho, é real e muito digno de reflexão. Isso sempre me prende às obras dele, não importa quão ficcional o tema do livro possa parecer, sempre é sobre a gente, sobre a vida em nos faz refletir.
As nossas questões éticas e o que consideramos certo e errado cabem muito bem para serem pensados durante e após a leitura dessa obra. Vemos, ainda mais nesse momento de pandemia, como realmente nossos pesos e medidas são bem variados. Somos flexíveis e menos empáticos quando a situação nos favorece e encontramos muitas formas de justificar o errado que fazemos quando é para o nosso “bem”.
Vemos como no mundo “lá fora” falta empatia e é muito bom aproveitar esse momento que nos é tão exigido para ficar em casa para olhar para dentro de nós mesmos e fortalecermos a bondade que existe aqui. Muitas vezes ela fica adormecida quando vemos alguma injustiça ou porque podemos achar que não vale a pena se envolver ou que outra pessoa vai fazer o que é certo e eu vou garantir o que é meu.
Vejo que está mais do que na hora de entendermos o quanto somos pequenos e quanto, mesmo assim, nossas atitudes podem fazer toda a diferença, para o bem ou para o mal, na vida das outras pessoas. Já parou para pensar que até quando você faz coisas ruins para si mesmo você está machucando e preocupando quem te ama? Mesmo em casa e mesmo distantes, somos parte de um todo e estamos todos ligados de uma forma ou de outra.
Fica nessa resenha o convide para refletir sobre o tema e para ler a obra que não é sobre uma lição de moral e tem as suas emoções e reviravoltas também que vão te deixar bem curioso para saber tudo o que vai acontecer.
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