Marina 14/02/2024
Discurso sobre o colonialismo
Césaire escancara a maior verdade sobre o colonialismo, o escritor martinicano, político e poeta, nos mostra a verdadeira face do ocidente, a cada linha que nosso consciente percorre dentro dessa obra, notamos que a Europa minou civilizações, deixando somente o cheiro de barbárie misturado com sangue. Sobre os povos considerados pelos colonizadores como ?selvagens? ou ?primitivos? nenhum valor humano fora respeitado durante as expedições coloniais. A obra Discurso sobre o colonialismo permite uma adequada compreensão sobre os países que foram destruídos pela ação colonizadora.
A respeito da colonização e civilização, Césaire aponta ?da colonização à civilização, a distância é infinita? e em seu primeiro capítulo nas palavras do autor, lemos: ?a Europa é indefensável? de tal modo, que não existe defesa para o sistema de dominação criado pela civilização europeia.
Se tratando da luta anticolonial, Césaire contempla inúmeras reflexões nessa obra, inclusive, sobre a perda dos valores humanos pelo processo de colonização e, talvez não só por isso, mas também por essa questão, o autor consegue discorrer de maneira digna sobre um assunto tão pesado.Não à toa, lidamos diariamente com a lógica da colonialidade presente até então nos dias atuais.
Ao passar das páginas, lemos um livro de um autor que não apenas estudou sobre o assunto, mas viveu entre as garras deste processo. Enquanto político, Césaire fez parte de grupos de resistência à colonização da Martinica, das Américas e da África e de maneira nada sutil no seu discurso, cita nomes e atrocidades cometidas pelos conquistadores, aqueles vistos como ?civilizados? aos olhos de toda a intelectualidade européia, compostos de ?civilidade?que cometeram desde massacres, carnificinas e tiveram a capacidade de exercer o pleno poder de apagar através da asfixia a existência de povos inteiros.
Uma boa pergunta seria, a civilização só foi promovida pelos brancos? visto que, o autor cita escritores e políticos que defenderam escancaradamente a superioridade dos homens europeus. Com essa leitura respondemos, é possível entender a existência de antigas civilizações dos malgaxes e os impérios sudaneses situadas no continente africano e, como tal, jamais foram enxergadas pela consciência do burguês ocidental.
Da crítica a Pierre Gourou, um geógrafo que escondeu uma visão de mundo racista e expressou uma maldição geográfica em sua tese para explicar o fato de nunca ter existido uma civilização tropical, ao Revendo Placide Tamples duramente reprovado por utilizar a sua filosofia bantu para incentivar a subserviência do povo africano e atacar o comunismo, nada fugiu da indignação de Césaire.
Dentre vários pontos importantes do livro, o autor recorre a Cheik Anta Diop para sustentar a existência de civilizações na África pré-colonial, inclusive, reafirmando a tese de Diop, onde a população do Egito era negra, a historiografia eurocêntrica que mudou essa versão partindo do ponto de que civilização seria apenas coisa de branco.
Na atividade constante da colonização, existia uma hierarquia do homem civilizado dominando o homem selvagem para o próprio desenvolvimento do ser dominado, pois na condição de pensar, somente o ocidente teria condições de saber. Assim, a brutalidade da colonização pode ser enxergada como uma atividade filantrópica e necessária, logo, a Europa foi minando civilizações sem medo de exterminar diferentes povos, e até hoje, deparamos com vários fragmentos do aparato colonial. O discurso sobre o colonialismo feito por Césaire, não é só necessário, como pontual.