Tauana Mariana 28/12/2013
Resumo
A identidade cultural na pós-modernidade | Stuart Hall
1. A identidade em questão
[…] as velhas identidades estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo
moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. […] existe uma crise de identidade? p. 7
[…] as identidades modernas estão sendo “descentradas”, isto é, deslocadas ou fragmentadas. p. 8
[…] é impossível oferecer afirmações conclusivas (sobre a identidade) p. 9
[…] como nosso mundo pós-moderno, nós somos também “pós” relativamente a qualquer concepção
essencialista ou fixa de identidade – algo que, desde o iluminismo, se supõe definir o próprio núcleo ou
essência de nosso ser e fundamentar nossa existência como sujeitos humanos. p. 10
> Três concepções de identidade
a) sujeito do iluminismo: baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente
centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num
núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia [...]. O
centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. p. 10-11
b) sujeito sociológico: refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este
núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na relação “com outras
pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos
mundos que ele/ela habitavam. […] A identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. p. 11
A identidade, então, costura […] o sujeito à estrutura. p. 12
O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado;
composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. p.
12
c) sujeito pós-moderno: conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A
identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas
pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. É definida
historicamente e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades
contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo
continuamente deslocadas. p. 13
A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em
que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma
multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos
identificar – ao menos temporariamente. p. 13
* O caráter da mudança na modernidade tardia
Um outro aspecto desta questão da identidade esta relacionado ao caráter da mudança na modernidade tardia;
em particular, ao processo de mudança conhecido como “globalização” e seu impacto sobre a identidade
cultural.
As sociedades modernas são [...]sociedades de mudança constante, rápida e permanente. P.14
A modernidade, em contraste, não é definida apenas pela experiência de convivência coma mudança rápida,
abrangente e continua, mas é uma forma altamente reflexiva de vida[...]P.15
Mais importantes são as transformações do tempo e do espaço e o que ele chama de “desalojamento do
sistema social” […] P.15
*O que está em jogo na questão das identidades?
Uma vez que a identidade muda de acordo coma forma como o sujeito é interpelado ou representado, a
identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida. Ela tornou-se politizada. P.21
2. Nascimento e morte do sujeito moderno
O foco principal deste capítulo é conceitual, centrando-se em concepções mutantes do sujeito humano, visto
como uma figura discursiva, cuja forma unificada e identidade racional eram pressupostas tanto pelos
discursos do pensamento moderno quanto pelos processos que moldaram a modernidade, sendo-lhes
essenciais. P23
É agora um lugar comum dizer que a época moderna fez surgir uma forma nova e decisiva de individualismo
no centro da qual ele erigiu-se uma nova concepção do sujeito individual e sua identidade.P.24.25
As transformações associadas a modernidade libertaram os indivíduos de seus apoios estáveis nas tradições e
nas culturas.
Descartes acertou as contas com Deus ao torná-lo o primeiro movimentador de toda criação; daí em diante,
ele explicou ao resto do mundo material inteiramente em termos mecânicos e matemáticos. P.27
Descartes postulou duas substâncias distintas – a substância espacial (matéria) e a substância pensante
(mente). Ele focalizou, assim, aquele grande dualismo entre a “mente” e a “matéria”que tem afligido a
Filosofia desde então. p. 27
No centro da “mente” ele colocou o sujeito individual, constituído por sua capacidade para raciocinar e
pensar. “Cogito, ergo sum” era a palavra de ordem de Descartes: “Penso, logo existo”. p. 27 > sujeito
cartesiano.
Outra contribuição crítica foi feita por John Locke, o qual, em seu Ensaio sobre a compreensão humana,
definia o indivíduo em termos as “mesmidade (sameness) de um ser racional” - isto é, uma identidade que
permanecia a mesma e que era contínua com seu sujeito: “a identidade da pessoa alcança a exata extensão
em que sua consciência pode ir para trás, para qualquer ação ou pensamento passado”. > indivíduo soberano
p. 27-28
[indivíduo soberano] Ele era o “sujeito” da modernidade em dois sentidos: a origem ou o “sujeito”da razão,
do conhecimento ou da prática; e aquele que sofria as consequências dessas práticas […]. p. 28
[Raymond Williams, 1976, pp. 135-6] “a emergência de noções de individualidade, no sentido moderno,
pode ser relacionada ao colapso da ordem social, econômica e religiosa medieval. No movimento geral
contra o feudalismo houve uma nova ênfase na existência pessoal do homem, acima e além de seu lugar e
sua função numa rígida sociedade hierárquica”. p. 28
Emergiu, então, uma concepção mais social do sujeito. O indivíduo passou a ser visto como mais
“localizado” e definido no interior dessas grandes estruturas e formações sustentadoras da sociedade
moderna. p. 30
[o surgimento do Modernismo] Encontramos, aqui, a figura do indivíduo isolado, exilado e alienado,
colocado contra o pano-de-fundo da multidão ou da metrópole anônima e impessoal. p. 32
[Paris de Baudelaire | O Processo, de Kafka] Estas imagens mostraram-se proféticas do que iria acontecer ao
sujeito cartesiano e ao sujeito sociológico na modernidade tardia. p. 33
* Descentrando o sujeito
Aquelas pessoas que sustentam que as identidades modernas estão sendo fragmentadas argumentam que o
que aconteceu à concepção do sujeito moderno, na modernidade tardia, não foi simplesmente sua
degradação, mas seu deslocamento. p. 34
[…] cinco grandes avanços na teoria social e nas ciências humanas [que contribuíram para a compreensão e a
consolidação do] descentramento final do sujeito cartesiano. p. 34
1 > Marx: “homens fazem a história, mas apenas sob as condições que lhes são dadas”. P. 35
Louis Althusser: seu “anti-humanismo” […] teve impacto considerável sobre muitos ramos do pensamento
moderno. p. 36
2 > Freud: A teoria de Freud de que nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura de nossos desejos são
formados com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma
“lógica” muito diferente daquela da Razão, arrasa com o conceito do sujeito cognoscente e racional provido
de uma identidade fixa e unificada – o “penso, logo existo”, do sujeito de Descartes. p. 36
A formação do eu no “olhar” do Outro, de acordo com Lacan, inicia a relação da criança com os sistemas
simbólicos fora dela mesma e é, assim, o momento da sua entrada nos vários sistemas de representação
simbólica – incluindo a língua, a cultura e a diferença sexual. pp. 37-38
Entretanto, embora o sujeito esteja sempre partido ou dividido, ele vivencia sua própria identidade como se
ela estivesse reunida e “resolvida”, ou unificada, como resultado da fantasia de si mesmo como uma
“pessoa” unificada que ele formou na fase do espelho. Essa, de acordo com esse tipo de pensamento
psicanalítico, é a origem contraditória da “identidade”. p. 38
Assim, a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não
algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo “imaginário” ou
fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em processo”, sempre “sendo
formada”. p. 38
Assim, em vez de falar da identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar de identificação, e vê-la
como um processo em andamento. A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro
de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é “preenchida” a partir de nosso exterior, pelas
formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros. p. 39
3 > Ferdiand Saussure: argumentava que nós não somos, em nenhum sentido, os “autores” das afirmações
que fazemos ou dos significados que expressamos na língua. p. 40
A língua é um sistema social e não um sistema individual. Ela preexiste a nós. p. 40
Além disso, os significados das palavras não são fixos, numa relação um-a-um com os objetos ou eventos
nundo existente fora da língua. O significado surge nas relações de similaridade e diferença que as palavras
têm com outras palavras no interior do código da língua. p. 40
Como diria Lacan, a identidade, como o inconsciente, “está estruturada como a língua”. p. 41
As palavras são “multimoduladas”. Elas sempre carregam ecos de outros significados que elas colocam em
movimento, apesar de nossos melhores esforços para cerrar significados. p. 41
4 > Michel Foucault: Numa série de estudos, Foucault produziu uma espécie de “genealogia do sujeito
moderno”. Foucault destaca um novo tipo de poder, que ele chama de “poder disciplinar”, que se desdobra
ao longo do século XIX, chegando ao seu desenvolvimento máximo no início do presente século. O poder
disciplinar está preocupado, em primeiro lugar, com a regulação, a vigilância é o governo da espécie humana
ou de populações inteiras e, em segundo lugar, do indivíduo e do corpo. p. 42
[…] embora o poder disciplinar de Foucault seja o produto das novas instituições coletivas e de grande
escala da modernidade tardia, suas técnicas envolvem uma aplicação do poder e do saber “individualiza”
ainda mais o sujeito e envolve mais intensamente seu corpo. pp. 42-43.
[…] quanto mais coletiva e organizada a natureza das instituições da modernidade tardia, maior o
isolamento, a vigilância e a individualização do sujeito individual. p. 43
5 > Feminismo: esses movimentos se opunham tanto à política liberal capitalista do Ocidente quanto à
política “estalinista” do Oriente. p. 44
Cada movimento apelava para a identidade social de seus sustentadores. Assim, o feminismo apelava às
mulheres, a política sexual aos gays e lésbicas, as lutas raciais aos negros, o movimento antibelicista aos
pacifistas, e assim por diante. Isso constitui o nascimento histórico do que veio a ser conhecido como a
política de identidade – uma identidade para cada movimento. p. 45
[o feminismo] questionou a clássica distinção entre o “dentro” e o “fora”, o “privado” e “público”. O slogan
do feminismo era: “o pessoal é político”. p. 45
Aquilo que começou como um movimento dirigido à contestação da posição social das mulheres expandiuse
para incluir a formação das identidades sexuais e de gênero. p. 46
O feminismo questionou a noção de que os homens e as mulheres era parte da mesma identidade, a
“Humanidade”, substituindo-a pela questão da diferença sexual. p. 46
[…] o “sujeito” do Iluminismo, visto como tendo uma identidade fixa e estável, foi descentrado, resultando
nas identidades abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pós-moderno. p. 46
3. As culturas nacionais como comunidades imaginadas
[…] me voltarei, agora, para a questão de como este “sujeito fragmentado” é colocado em termos de suas
identidades culturais. A identidade cultural particular com a qual estou preocupado é a identidade nacional.
p. 47
O que está acontecendo à identidade cultural na modernidade tardia?
No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes da
identidade cultural. Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou indianos ou
jamaicanos. p. 47
[…] na verdade, as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e
transformadas no interior da representação. p. 48
Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política mas algo que produz sentidos – um sistema de
representação cultural. p. 49
Uma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu “poder para gerar um sentimento de
identidade e lealdade”. p. 49
* Narrando a nação: uma comunidade imaginada
As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e
representações. p. 50
As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre “a nação”, sentidos com os quais podemos nos identificar,
constroem identidades. p. 51
Como argumentou Benediet Anderson (1983), a identidade nacional é uma “comunidade imaginada”. p. 51
“As nações”, observou Homi Bhabha, “tais como as narrativas, perdem suas origens nos mitos do tempo e
efetivam plenamente seus horizontes apenas nos olhos da mente”. p. 51
Como é contada a narrativa da cultura nacional? p. 51
> Em primeiro lugar, há a narrativa da nação, tal como é contada e recontada nas histórias e nas literaturas
nacionais, na mídia e na cultura popular. p. 52
> Em segundo lugar, há a ênfase nas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade. p. 53
> Uma terceira estratégia discursiva é constituída por aquilo que Hobsbawn e Ranger chamam de invenção
da tradição: “Tradições que parecem ou alegam ser antigas são muitas vezes de origem bastante recente e
algumas vezes inventadas.... p. 54
> Um quarto exemplo de narrativa da cultura nacional é a do mito fundacional: mitos de origem também
ajudam povos desprivilegiados a “conceberem e expressarem seu ressentimento e sua satisfação em termos
inteligíveis”. […] Novas nações são, então, fundadas sobre esses mitos. p. 55
> A identidade nacional é também muitas vezes simbolicamente baseada na ideia de um povo ou folk puro,
original. Mas, nas realidades do desenvolvimento nacional, é raramente esse povo (folk) primordial que
persiste ou que exercita o poder. pp. 55-56
* Desconstruindo a “cultura nacional”: identidade e diferença
Esta seção volta-se agora para a questão de saber se as culturas nacionais e as identidades nacionais que elas
constroem são realmente unificadas. p. 58
Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las como constituindo um
dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade. p. 62
As nações modernas são, todas, híbridos culturais. p. 62
[…] quando vamos discutir se as identidades nacionais estão sendo deslocadas, devemos ter em mente a
forma pela qual as culturas nacionais contribuem para “costurar” as diferenças numa única identidade. p. 65
4. Globalização
O que […] está tão poderosamente deslocando as identidades culturais nacionais, agora, no fim do século
XX? A resposta é: um complexo de processos e forças de mudanças, que, por conveniência, pode ser
sintetizado sob o termo “globalização”. p. 67
A globalização implica um movimento de distanciamento da ideia sociológica clássica da “sociedade” como
um sistema bem delimitado e sua distribuição por uma perspectiva que se concentra na forma como a vida
social está ordenada ao longo do tempo e do espaço. pp. 67-68
[…] desde os anos 70, tanto o alcance quanto o ritmo da integração global aumentaram enormemente,
acelerando os fluxos e os laços entre as nações. p. 68-69
* Compreensão espaço-tempo e identidade
[…] tempo e espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação. p. 70
Os lugares permanecem fixos; é neles que temos “raízes”. Entretanto, o espaço pode ser “cruzado” num
piscar de olhos – por avião, a jato, por fax ou por um satélite. Harvey chama isso de “destruição do espaço
através do tempo”. pp. 72-73
* Em direção ao pós-moderno global?
Alguns teóricos argumentam que o efeito geral desses processos globais tem sido o de enfraquecer ou
solapar formas nacionais de identidade cultural. Eles argumentam que existem evidências de um
afrouxamento de fortes identificações com a cultura nacional, e um reforçamento de outros laços e lealdades
culturais “acima” e “abaixo” dos níveis do estado-nação. p. 73
Alguns teóricos culturais argumentam que a tendência em direção a uma maior interdependência global está
levando ao colapso de todas as identidades culturais fortes e está produzindo aquela fragmentação de códigos
culturais, aquela multiplicidade de estilos, aquela ênfase no efêmero, no flutuante, no impermanente e na
diferença e no pluralismo cultural descrita por Kenneth Thompson (1992), mas agora numa escala global – o
que poderíamos chamar de pós-moderno global. pp. 73-74
Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de “identidades
partilhadas” - como “consumidores” para os mesmos bens, “clientes” para os mesmos serviços, “públicos”
para as mesmas mensagens e imagens – entre pessoas que estão bastante distantes uma das outras no espaço
e no tempo. p. 74
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens
internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as
identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e
parecem “flutuar livremente”. p. 75
Foi a difusão do consumismo, seja como realidade, seja como sonho, que contribuiu para esse efeito de
“supermercado cultural”. p. 75
5. O global, o local e o retorno da etnia
As identidades nacionais estão sendo “homogeneizadas”? A homogeneização cultural é o grito angustiado
daqueles/as que estão convencidos/as de que a globalização ameaça solapar as identidades e a “unidade” das
culturas nacionais. p. 77
Há, juntamente com o impacto do “global”, um novo interesse pelo “local”. A globalização […] na verdade,
explora a diferenciação local. Assim, ao invés de pensar no global como “substituindo” o local, seria mais
acurado pensar numa nova articulação entre “o global” e “o local”. p. 77
[…] parece improvável que a globalização vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É mais
provável que ela vá produzir, simultaneamente, novas identificações “globais” e novas identificações
“locais”. p. 78
* O resto no Ocidente
* A dialética das identidades
O fortalecimento de identidades locais pode ser visto na forte reação defensiva daqueles membros dos grupos
étnicos dominantes que se sentem ameaçados pela presença de outras culturas. p. 85
Também há algumas evidências da terceira consequência possível da globalização – a produção de novas
identidades. p. 86
Como conclusão provisória, parece então que a globalização tem, sim, o efeito de contestar e deslocar as
identidades centradas e “fechadas” de uma cultura nacional. Ela tem um efeito pluralizante sobre as
identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, e tornando as
identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas: menos fixas, unificadas ou transhistóricas.
p. 87
Em toda parte, estão emergindo identidades culturais que não são fixas, mas que estão suspensas, em
transição, entre diferentes posições; que retiram seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições
culturais; e que são o produto desses complicados cruzamentos e misturas culturais que são cada vez mais
comuns num mundo globalizado. p. 88
Tradução. Este conceito descreve aquelas formações de identidade que atravessam e intersectam as fronteiras
naturais, compostas por pessoas que foram dispersadas para sempre de sua terra natal. p. 88
Elas carregam os traços das culturas, das tradições, das linguagens e das histórias particulares pelas quais
foram marcadas. p. 89
As pessoas pertencentes a essas culturas híbridas têm sido obrigadas a renunciar ao sonho ou à ambição de
redescobrir qualquer tipo de pureza cultural “perdida” ou de absolutismo étnico. Elas estão irrevogavelmente
traduzidas. p. 89
6. Fundamentalismo, diáspora e hibridismo
Baumam tem-se referido a esse “ressurgimento da etnia” como uma das principais razões pelas quais as
versões mais extremas, desabridas ou indeterminadas do que acontece com a identidade sob o impacto do
“pós-moderno global” exige uma séria qualificação. p. 96
De acordo com as “metanarrativas” da modernidade, os apegos irracionais ao local e ao particular, à tradição
e às raízes, aos mitos nacionais e às “comunidades imaginadas”, seriam gradualmente substituídos por
identidades mais racionais e universalistas. Entretanto, a globalização não parece estar produzindo nem o
triunfo do “global” nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do “local”. p. 97
HALL, Stuart.A identidade Cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.