Milla 26/03/2016Resumo para a UniversidadeEm A Ordem do Discurso, Michel Foucault nos apresenta suas perspectivas sobre o discurso, seus poderes e perigos.
Primeiramente, é necessário dissociar o discurso de seu significado mais irrisório que seria a fala oral, o discurso deve ser compreendido como toda capacidade de transmitir expressividade.
O autor deixa claro supor que em toda sociedade a produção de discurso é controlada, selecionada, organizada e redistribuída com a função de conjurar esses poderes e perigos e que isso se dá por meio de procedimentos de exclusão divididos por ele em três: interdição, separação e rejeição.
A interdição se revela como a palavra proibida, considerando-se que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância.
A exclusão se dá pela oposição de razão e loucura considerando-se que a palavra do louco era rejeitada tão logo proferida.
Por último, a rejeição seria a oposição entre a verdade e a mentira; por ser a verdade o discurso detentor de justiça, futuro e realizações e por existir em nossa sociedade uma grande vontade de verdade/de saber que nos faz enxergar a verdade como riqueza, fecundidade, força doce e insidiosamente universal. A vontade de saber desenhava planos de objetos possíveis, observáveis, mensuráveis, classificáveis e assim causava grande coerção sobre outros discursos. Essa forma de exclusão passa por Sócrates como uma separação do discurso verdadeiro e do discurso falso, depois passa pela vontade de saber e pela ideologia do positivismo.
Ao observar as colocações do autor, fica claro que um discurso proferido se constitui muito mais do que não é proferido, do que é represado; que a produção de um discurso é composta principalmente pela parte não produzida devido aos poderes coercitivos do discurso. Construir um discurso é um ato que enfrenta a interdição, a exclusão e a rejeição antes de ser efetivado.
Dentre os tabus do discurso, o autor elucida a política e a sexualidade que, além de enunciarem sua luta e seu desejo, mas também são aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.
Adiante, podemos refletir sobre as possibilidades de um discurso e classificá-los singelamente de duas formas: o discurso original e o discurso repetido acerca do primeiro. Para a compreensão, podemos pensá-los em textos literários.
O discurso original traz consigo um ato de origem e pode ser considerado um discurso fundamental, enquanto o discurso repetido traz novos atos e são eles que repetem, glosam e comentam o original, fazendo-nos concluir também que o discurso repetido é um comentário do original e que sua novidade está, portanto, nas circunstâncias que o trazem à vida. A distância entre essas duas modalidades de discurso é o que permite que novos discursos e novas circunstâncias existam. O comentário é um discurso repetido disfarçado de modo que se diga pela primeira vez o que já foi dito e não tem outra função que não dizer o que já estava dito no texto primeiro.
Assim como essa resenha busca trazer aos olhos coisas que já existiam no discurso original proferido por Foucault, mas de uma forma nova devido às circunstâncias. Seu ponto de chegada não é além do seu ponto de partida.
Podemos ver outra espécie de limitação e reunião de discursos na construção de disciplinas, a disciplina reúne discursos mas sem ser necessariamente a soma de tudo o que pode ser dito sobre determinado tema ou todas as suas verdades, pois em seu interior as disciplinas reconhecem proposições verdadeiras e falsas e as falsas também fazem parte de seu discurso, mas apesar de possuir um papel positivo, a disciplina também é coercitiva, restritiva e atua como uma forma de controle do discurso.
Uma outra forma de controlar discursos é determinar as condições de seu funcionamento, além de determinar regras aos que proferem o discurso, ela restringe quem terá acesso a eles e resume em si as coerções do discurso. Um exemplo seriam as atitudes que se esperam de um professor sobre seu comportamento social, a escolha de seu vocabulário ao discursar, um controle que busca definir todo seu padrão e conjunto de condutas que devem ser tomadas. Seguindo o rumo da educação, sabe-se que a educação é o caminho da inclusão social e fortalecimento da subjetividade do indivíduo e meio pelo qual o individuo pode ter acesso a qualquer tipo de discurso, mas ainda assim os discursos são controlados por todo um sistema de coerção e que nos faz concluir que o controle de discurso é uma questão política e de poder.
Portanto, fica evidente que venerar o discurso é uma expressão do nosso temor por ele.
Em oposição às formas de coerção do discurso, Foucault nos sugere, não destituí-lo desse temor que sentimos, mas analisá-lo através do questionamento da nossa vontade de verdade, restituir ao discurso seu caráter de acontecimento e suspender a soberania do significante. Para isso oferece os princípios da inversão, da descontinuidade, da especificidade e da exterioridade e com isso é possível, em alguns casos é preciso, reconhecer o jogo negativo de um recorte, tratar os discursos como práticas descontinuas, conceber o discurso com uma violência que fazemos às coisas, utilizar do discurso para conhecer suas possibilidades às condições externas. Por fim o autor nos apresenta suas considerações sobre possibilidades de estudos a respeito de discursos.
Considerando que esse texto é uma aula inaugural, vemos uma atitude, não de combate, mas de análise e compreensão das capacidades, causas e consequências de um discurso dentro de um campo de produção de discursos, por parte do autor.
(Millena Bezerra: Graduando Bacharelado em Museologia, Universidade Federal de Pernambuco.)