Resenhas - Proslógio

Edreira 30/04/2022

Razão é importante, mas não é tudo.
Acredito que a maioria das pessoas que se interessam por teologia, sendo ela protestante ou católica, inevitavelmente ela vai se separar com Anselmo e o seu argumento ontológico.

Porém, evitando estragar a experiência da sua leitura, o que eu posso dizer é que a imagem de que Anselmo tentou usar a racionalidade para provar a existência de Deus, tenho que te dizer que isso não é verdade.

Anselmo ora o livro inteiro. Ele busca por Deus clamando por revelação vindo diretamente do Senhor. Anselmo coloca a fé na frente da razão, e constrói uma argumentação que segue o padrão de "Fé em busca de conhecimento". Ou seja, não é a razão que vai te trazer fé em Deus, mas a fé em Deus, presenteada por Ele próprio, é que vai te ajudar a ter uma visão racional sobre o Senhor.

O livro é pequeno, muitas vezes direto ao ponto, e ainda conta com um apêndice com uma resposta ao argumento de Anselmo feito por um amigo seu, e uma contra-resposta de Anselmo para este amigo ( o que é muito bom, pois as críticas feitas pelo amigo de Anselmo são, provavelmente, as coisas que mais nos estranham quando lemos o Proslógio ).

O livro é muito bonito. Anselmo abre o coração aqui. E mesmo vendo aspectos da teologia cristã dos anos 1000 ( em certas partes do texto é possível ver referências platônicas/neoplatônicas na teologia de Anselmo ), eu vejo uma ótima teologia aqui. Super recomendo!

Marcos606 12/04/2023

Proslógio (1078) foi o resultado de uma "descoberta" de uma definição de Deus, e o argumento ontológico baseado na definição pareceu a Anselmo (e a muitos filósofos posteriores) convincente por sua própria simplicidade lógica. O biógrafo de Anselmo, Eadmer, descreveu mais tarde a descoberta: "Eis que uma noite durante as matinas, a graça de Deus brilhou em seu coração e o assunto ficou claro para seu entendimento, enchendo todo o seu ser com imensa alegria e júbilo."

A descoberta de Anselmo foi uma definição de Deus antecipada em parte por Agostinho e Sêneca; ou seja, Deus era aquele ser maior do que o qual não poderia ser concebido. Usando essa definição como o conteúdo básico da ideia que alguém tem de Deus, Anselmo passou a argumentar que tal ser existia necessariamente não apenas como uma ideia na mente, mas também na realidade externa. O tratado foi amplamente divulgado e trouxe fama imediata a Anselmo entre seus contemporâneos e as gerações seguintes. Embora atacado em seu próprio tempo e nos séculos posteriores, o argumento ontológico de Anselmo influenciou muito o curso do pensamento filosófico e teológico.