Carol 31/12/2020
Um grande arrependimento: ter E não sobrou nenhum como a primeira leitura que fiz de Agatha Christie
Esse é o terceiro livro da Agatha Christie em que mergulho. Depois do glorioso E não sobrou nenhum, o primeiro que li da autora (e o que me parece ser uma das suas obras-primas), criei um padrão bem alto para as leituras que carregam seu nome. Por isso, tudo que leio depois já não soa tão bom assim.
Diferentemente de E não sobrou nenhum e Um brinde de cianureto, em Os 13 problemas não nos é dado um único mistério. Em uma pequena reunião na casa da Miss Marple, uma senhorinha investigadora, ela e seus cinco convidados decidem criar o Clube das Terças-Feiras, que consistia em encontros nos quais cada pessoa traria um mistério para ser desvendado. Narrado em dois encontros, temos doze pequenos enigmas, todos brilhantemente resolvidos pela Miss Marple. O 13º problema, por fim, é uma pequena surpresa que não estragarei para os leitores interessados.
Claro, os mini mistérios não têm o cacife de outras grandes histórias já escritas por Christie, e o interessante é que isso me deu a impressão de ser uma leitura ainda mais leve. Inclusive, mesmo em momentos emocionalmente turbulentos em que eu tenho dificuldades para me concentrar, Os 13 problemas conseguiu prender a minha atenção. E, ao contrário do que poderíamos pensar, a história não tem uma drástica ruptura em cada capítulo, ainda que ali seja um momento de ruptura para um novo enigma. Por isso, foi uma leitura bem fluida.
Entretanto, apesar desses pontos positivos, nenhum dos mistérios é instigante. Eu não consegui sentir aquela vontade incomensurável de abocanhar de uma só vez o livro, de devorar todas as suas páginas para descobrir a solução do problema. Acredito que não temos o tempo de nos envolver com a história e os personagens de cada pequeno enigma contado, e é um ponto que foi negativo pra mim. Foi pouco envolvente, sabe?
Além disso, algo ainda me incomodou bastante: as personagens. A gente sabe que a Agatha Christie foi uma mulher de seu tempo e por isso merece um certo crédito, mas nem sempre a gente consegue superar esse fato. À exceção de Miss Marple, temos três personagens femininas, sendo que duas delas são Sra. Bantry e Jane Helier. A primeira, é uma dona de casa que não tem outros interesses na vida além do seu jardim e das fofocas sobre as pessoas da cidade em que vive. No mais, é uma personagem que me parece estar o tempo todo se apoiando sobre o marido, esperando sua permissão, desejando sua aprovação. A segunda das mulheres, por outro lado, é uma linda atriz, mas burra que nem uma porta. Fútil, superficial e estúpida. Ora, dois típicos estereótipos femininos extremamente machistas. Outro ponto negativo, e esse é realmente difícil de esquecer.
De forma geral, foi um livro legal para passar o tempo, mas eu não o leria novamente. Na verdade, um grande arrependimento que me surge foi de ter E não sobrou nenhum como a primeira leitura que fiz da autora, pois, agora, sempre espero o desenrolar de um grande mistério que, em realidade, não sei se verei novamente nas palavras de Agatha Christie.