Mauricio (Vespeiro) 27/03/2018Justa homenagem a alguns mestres da pintura e literatura.Em 1855 era publicada (postumamente) a antologia de contos “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo. Trata-se de uma ficção gótica com 7 capítulos (um prólogo, 5 contos e um epílogo) sobre o encontro de 5 amigos numa taverna do século XIX, onde decidem contar histórias macabras. Este clássico da literatura brasileira ganhou uma homenagem primorosa do quadrinista e ilustrador Davi Calil.
Em “Uma Noite em L’Enfer”, Calil reúne - na mesma condição da obra original - 5 pintores: Van Gogh, Gauguin, Toulouse-Lautrec, Klimt (presentes no período pós-impressionista) e Goya (neoclassicista do século XVIII). Um desafio é lançado, fazendo com que todos passem a contar histórias bizarras que reúnam amor, sexo e morte. O vencedor ganhará como prêmio o verdadeiro crânio de Dante Alighieri.
Não bastasse a inusitada reunião daquelas personalidades, a história é enriquecida pelo cenário, o Cabaret L’Enfer, um bar temático (real) na Paris do fim do século XIX. Calil resgata o impressionante estilo da decoração do cabaré, desde a sua fachada com esculturas de demônios e corpos suplicantes, bem como a porta em formato de boca que “engolia” os boêmios. As salas eram decoradas com elementos infernais das paredes ao teto, criando um ambiente mórbido com clima angustiante.
O trabalho ganha volume e valor à medida que os pintores são introduzidos. Cada qual torna-se dono de um capítulo em que conta seu “causo” sinistro; e é onde aparecem os anos de pesquisa de Calil sobre suas obras. Cada conto é um mergulho no estilo do artista narrador, sempre lotado de referências, incluindo as principais obras e citações. É um livro para ser degustado página a página, quadro a quadro.
Sou designer gráfico e precisei revisitar meu conteúdo de história da arte para relembrar as obras e estilos de cada pintor. Achei por bem fazer uma breve pesquisa prévia para me preparar e me requalificar. Assim pude aproveitar melhor as alusões contidas em cada página. Confesso humildemente que ainda não foi suficiente. Certamente deixei escapar detalhes que enriquecem essa graphic novel.
A diagramação é dinâmica, as ilustrações são impecáveis e as cores, perfeitas. Não é à toa que Davi Calil é considerado uma das autoridades brasileiras na aplicação de cor. A HQ da Editora Mino merecia receber mais cuidado na edição. Diversos erros de revisão foram encontrados nos textos, inclusive na ficha catalográfica.
Nota do livro: 7,81 (4 estrelas).