Nu e As 1001 Nuccias 03/11/2017Resenha do Blog As 1001 NucciasComo Agatha Christie (aqui abreviada para AC, para fins práticos) é a diva ultra master da literatura policial, a rainha do crime, é óbvio que inúmeras biografias sobre sua vida já foram escritas. Incluindo aí nessa lista, a sua e a de seu segundo marido. O negócio é que são biografias de autores ingleses ou note-americanos, algumas até já traduzidas para o Brasil. Mas o inverso? Nunca tinha acontecido. Até o leitor, autor e pesquisador Tito Prates nascer.
Logo no início, Tito faz uma breve introdução que explica sua motivação e sua paixão pelas obras e pela autora. Logo depois, antes mesmo de começar o livro em si, há uma nota em que ele pede ao leitor que não pule a introdução e os agradecimentos. Pra mim, essa nota nem precisava estar ali, eu adoro ler os agradecimentos dos autores, gosto de saber quem esteve envolvido na produção daquela obra, sei que uma pessoa não faz nada sozinha e humildade em agradecer é essencial.
Quando começo a leitura da biografia, já tenho o tom de seriedade e do ardor com que Tito irá tratar o livro todo. Somos apresentados a AC desde sua mais tenra infância até o seu legado póstumo. Aliás, conhecemos também um pouco da família de seus pais e avós.
"A própria Autobiografia escrita por Agatha Christie contém erros de datas. lugares e nomes. Tais imprecisões gerariam ainda mais erros nas demais obras e abririam brechas e especulações se Agatha Christie manipulou ou não os fatos em benefício próprio de sua imagem. Não vou deixar o leitor ansioso. Sobre este aspecto, asseguro e, durante o texto, comprovo: Agatha Christie nos disse a verdade, e tão somente a verdade. Com erros, mas a verdade."
Através da escrita verdadeira de Tito, conheci um lado da escritora que nunca soube existir. Conheço alguns livros dela e, apesar de saber de toda sua fama e alcunha, não havia me interessado tanto assim pela sua vida particular ou pela sua produção e contribuição literária e arqueológica. Isso quer dizer o quê? Com isso quero dizer que morro de vergonha de confessar que não sabia de seus dois casamentos. Também não sabia da sua paixão por fotografia. Sabia menos ainda da sua paixão por pesquisa arqueológica. Pelas vestes de Brigith, nem sabia que o segundo marido era tão famoso! Eu sou lenta mesmo, hein?!
Mas tudo bem, agora to sabendo de tudo e em detalhes! E que detalhes! Tito, como bom pesquisador, fã, e amigo da família, teve acesso a incríveis documentos comprobatórios de tudo. Quando você lê o subtítulo do livro, "uma biografia de verdades", você não espera encontrar tantas verdades quanto as que Tito nos mostra.
Mostra alguns detalhes que outros biógrafos não tiveram alcance. Mostra os erros desses mesmos biógrafos, uns até copiando os erros dos outros. E, em meio a tudo isso, Tito não deixa de oferecer ao leitor o seu ponto de vista sob determinado assunto, seja do comportamento da escritora, seja de um amigo da família ou de alguma notícia de um jornal da época.
Conhecemos como AC começou o seu trabalho literário, como passou pelas duas guerras, como saiu dos livros para peças teatrais e o que ela aprovou ou não das suas adaptações para a TV e cinema.
"A criação do nome de Poirot, que tanta discussão gera se foi ou não copiado, é um simples detalhe nessa conjectura. Talvez o maior erro tenha sido do seu primeiro editor que não a tenha orientado quanto à mudança do nome por se parecer muito ao de Monsieur Hercule Flambeau, o auxiliar do Padre Brown de Gilbert K. Chesterton. (...) em um universo em que tudo se copiava, somente Agatha Christie é questionada, por ela e seus personagens serem tão famosos."
Depois de tanto spoiler meu, peço desculpas! Não é possível falar tão bem de um livro sem deixar escapar uns detalhezinhos. Sobre esses detalhes, quero mostrar algumas imagens. Nas fotos no blog, vocês podem ver a contracapa, cuja foto mostra o local onde AC sofreu um acidente, podem ver também os anexos que existem nos livros e algumas das citações da própria autora, tiradas diretamente de seus livros ou da autobiografia.
Nos tais anexos, temos tabelas com todas as obras de AC já publicadas em sua vida, por ano de publicação, com editora e tudo mais. Tito é, além de escritor e pesquisador, o curadorista das obras de AC no Brasil. Tipo, ele chefia a porra toda no "Museu Literário de AC" (não é esse o nome, gente, o nome real é Acervo Memorial Agatha Christie Brasil).
Tirando uns pequenos erros de revisão (ex: palavras repetidas ou ausência de espaço entre palavras, que eu sei que acontecem quando a editora passa o livro do word para o programa de diagramação), não vi mais nada que me incomodasse tanto. Ah, sim, em alguns pontos, o autor se repetira, digo, repetia informações, mas depois eu vi que isso é comum, ajuda a situar o leitor no espaço-tempo.
Levando em consideração que é a primeira biografia de Agatha Christie escrita por um autor brasileiro e é o primeiro livro do tipo escrito em português (sim, exatamente, considerando todos os países que têm língua portuguesa), está uma se-nho-ra obra literária! Mathew Prichard, o querido neto de AC, assinou embaixo. E eu assino embaixo dele.
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