Maria Ferreira / @impressoesdemaria 24/01/2017Um suspense ótimoEste é o primeiro livro da autora, publicado pela Ella Editorial e lançado esse ano, na Bienal do Livro de São Paulo.
É um livro de suspense em que conhecemos a história de Johanna Dorne, uma mulher de 41 anos, que trabalha em um biblioteca, mora sozinha e passa seus dias lendo, assistindo e bebendo vinho. Há muitos tempo, ela vive uma vida de isolamento por medo de fazer as pessoas sofrerem. Ela acredita que carrega uma maldição que faz com que todas as pessoas que se aproximam dela sofram.
Tudo começou no seu aniversário de 13 anos, quando um de seus tios mais queridos tem uma atitude inesperada e isso acaba desencadeando uma série de episódios que desestruturam sua relação familiar em casa. Com isso, é acolhida por uma tia e passa a morar com ela até sua vida adulta.
Johanna vem de uma sucessão de perdas. Perdeu o pai, a mãe, a melhor amiga, os namorados e os tios, os únicos que ainda lhe restavam de sua família. Sabendo do histórico de mortes, o leitor fica apreensivo toda vez que ela começa um novo relacionamento porque imagina que não irá terminar bem. Cansada de atrair tanta desgraça, resolve mudar de cidade e viver de forma reclusa.
A narrativa é intercalada, de modo que os capítulos alternam-se em uma narrativa em primeira pessoa, feita por Johanna no tempo presente e uma narrativa feita em terceira pessoa, no tempo passado por um narrador que, inicialmente, o leitor não sabe quem é. Isso faz com que relação com o tempo seja muito determinante para entender melhor a forma como Johanna vive o presente, depois de perder todas as pessoas queridas que passaram por sua vida.
Um dia, na saída do trabalho, Johanna tem um problema com o carro e não consegue ligá-lo, quando aparece um homem oferecendo ajuda. É aí que Michel Brum entra em sua vida e com o tempo, faz com que Johanna se sinta capaz de amar novamente, ainda que com receio do que possa acontecer com ele.
Mas parecia perfeito demais para ser verdade. Michel, aos poucos, se mostra um homem ciumento, controlador, possessivo, com atitudes que muitas vezes beiravam a bipolaridade. Qualquer outra mulher normal teria se afastado no primeiro sinal de anormalidade, mas como Johanna já não tinha mais esperanças de encontrar ninguém e se sentia muito grata a Michel por ver algo de bom nela, continua presa nesse relacionamento e torcendo para que ele mude.
Enquanto leitora, confesso que a cada atitude do Michel, eu queria poder dar uns tapas nele e mais uns tapas na Johanna por aceitar tudo, mas no fundo eu entendia as razões dela.
Achei impressionante o poder de descrição que a autora tem. Todas as descrições são bem colocadas e muito bem feitas. Além disso, o fluxo de consciência presente na narrativa promove momentos em que o leitor pode saber o que se passa nos pensamentos da personagem principal e ver a luta constante que ela tem consigo mesma.
Quando o livro se aproxima do fim, tudo começa a vir à tona e o leitor só consegue pensar no quanto toda a história e o modo como ela foi narrada e desenvolvida é muito genial!
Terminei a leitura muito satisfeita e orgulhosa da nossa literatura nacional, que se mostra cada vez com maior qualidade.
Esse suspense prende o leitor de uma forma que não dá para largar o livro enquanto não soubermos o final e eu indico muito, com a certeza de que quem o ler irá gostar.
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