Telefone para o Além

Telefone para o Além Friedrich J üergenson




Resenhas - Telefone para o Além


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Henrique Fendrich 04/02/2020

Ou é a coisa mais fantástica que já nos aconteceu ou é um dos mais insidiosos delírios a que nos deixamos submeter. O livro de Jürgenson é um eloquente testemunho que pretende convencer o leitor de que não apenas os mortos vivem, mas que estão muitos felizes do lado de lá. A leitura pode até não convencer integralmente, mas deixa muitas pulgas atrás da orelha. Aparentemente, não é tão fácil assim negar os resultados do autor ou acusá-los de fraude nas mensagens "do além" que consegue via rádio. Penso que o melhor argumento para questionar a veracidade das mensagens seria uma espécie de "pareidolia do ouvido", que faz com o que o ser humano busque um sentido auditivo a ruídos que nada significam. Entretanto, mesmo nesse caso é de se espantar com o teor das mensagens obtidas.

É interessante que as mensagens supostamente captadas por Jürgenson sugerem um além no qual não há Deus pessoal (o autor parece legitimar a tese, que ainda é vista como um tanto esdrúxula, de que há um mundo espiritual, mas não há Deus). Ao contrário também das mensagens espíritas tradicionais obtidas por outros meios que não via rádio, os "mortos" de Jürgenson não passam nenhuma mensagem edificante. Pelo contrário, se tem uma coisa que os mortos desse livro se abstêm de fazer é alusão moral - nada de Jesus e evolução pessoal.

E todo o consolo que esses mortos podem passar se resume nisso: vivemos e somos felizes. Apesar de certos ritos de purificação que Jürgenson diz ter identificado, de maneira geral todos estariam felizes. E por “todos” entenda-se todos mesmo, até aquele que mais achamos que merecia sofrer do lado de lá: Hitler.

Pois o homem alega que justamente Hitler se manifestou, por diversas vezes, em suas conversas pelo rádio. E teria até um monólogo em que sua voz é nítida, sendo uma pena que não acompanhe o livro. Pois ora, até o Hitler parecia muito bem do lado de lá. Há mais um ou outro suicida que também deu as caras nas gravações de Jürgenson e todos pareciam estar, pelo menos naquele momento, muito bem, obrigado.

Hitler não apenas parecia bem, sem nada daquilo que de pior aqui cultivou, como também não inspirava, da parte dos seus, digamos, colegas de morte, a menor indignação. Jürgenson sugere a existência de uma moral totalmente diversa da que temos aqui na Terra, e que inclusive exporia todo o fracasso das nossas atuais relações humanas – ao mesmo tempo em que indicaria algumas das nossas mais nobres possibilidades.

O livro é antigo, ainda dos anos 60, e por isso eu imaginei que já teria alguma fortuna crítica a respeito, pois, a ser verdade o que ele diz, é a coisa mais revolucionária que já aconteceu à humanidade: os mortos vivem! Pelo menos, já haveria tempo suficiente para ter sido desmentido e desmascarado, se fosse o caso. Mas qual, o tema só é abordado em círculos bem restritos, por gente que já está bastante disposta a aceitar a realidade das suas experiências.

Hoje a transcomunicação já é bem popular e é possível encontrar pelo YouTube muita gente mostrando as suas experiências e as vozes do além que teriam captado. No entanto, eu me pergunto se essas pessoas de hoje possuem a mesma seriedade e isenção de espírito de Jürgenson. Muitas vezes, essas vozes são incluídas dentro de doutrinas prontas e interpretadas de maneira apropriada para elas, embora diversa daquela que seria a de Jürgenson.

As gravações de Jürgenson também aconteciam em uma dezena de línguas diferentes, ao passo que, pelo menos no caso dos vídeos do YouTube, é quase sempre em português mesmo. Não sinto por essas tímidas gravações de hoje em dia nem um quinto da inquietação e perturbação provocadas pela simples leitura do livro de Jürgenson – sem ter acesso aos seus áudios.
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