Orlando

Orlando Virginia Woolf




Resenhas - Orlando


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Arsenio Meira 27/07/2014

LONGA JORNADA QUATRO SÉCULOS ADENTRO

O grande Ítalo Calvino considerava a longevidade das obras como uma das marcas que permitem atestar seu valor e atribuir-lhe o nome clássico. É este o caso de "Orlando", da mítica Virgínia Woolf, uma das escritoras mais relevantes de todos os tempos.

A obra atesta seu grande alcance temporal por ter sido alvo de diversas interpretações e estudos desde sua primeira publicação em 1928 até os dias de hoje. Mas não só por sua fortuna crítica que o romance é indispensável: em Orlando, os séculos sucedem-se e os inventos do homem são apresentados com pouca importância frente às vivências do protagonista. Em certo momento da narrativa, o personagem está à janela e assiste ao fantástico correr do tempo histórico na narrativa, que vai desde o advento da energia elétrica e do automóvel, até o tempo em que a obra foi concluída por Virgínia Woolf, no ano de 1928.

As mudanças históricas são enumeradas, elencadas, mas culminam em algo que não pertence ao domínio dos grandes acontecimentos exteriores, e sim à vivência íntima e profunda da consciência do tempo na personagem. Dentre outras razões, é por esse viés que a obra revela sua atualidade e riqueza ao seguir respondendo a outras questões de tempos diversos pelo modo como é construída. Um exemplo é o fato de ela familiarizar-se com paradigmas tão atuais, como o do conceito pós-moderno de Metaficção Historiográfica - o romance cuja natureza apreende a autorreflexão e uma forte vinculação à história. A vida é bem menos coerente e constante do que sua narrativa e a própria existência dessa narrativa da vida pressupõe ações que completem os espaços vazios dos documentos, da memória e da percepção humana. As mudanças históricas são enumeradas, elencadas, e traduzem a consciência íntima e profunda do tempo na personagem.

No caso da personagem de Woolf, a crise vivenciada não desemboca apenas em uma sensação de desajuste e de frustração. Outro elemento mágico, tão surpreendente quanto a rápida transição secular referida antes, promove uma saída. Woolf promove a transformação que se dá após o sono de sete dias vivenciado por Orlando é a abertura.Ao transformar-se em mulher, Orlando não deixa de ser quem é. Ao mudar de sexo sem intenção, altera seu futuro, mas não carrega nenhuma mácula no que tange à sua identidade. A mudança de gênero de Orlando configura-se como uma saída para a crise vivenciada anteriormente, uma superação da frustração existencial. É o surgimento de uma nova possibilidade de existir no mundo. Essa nova possibilidade não encerra na existência feminina a possibilidade de vivenciar experiências que a ela não pertenceriam.

Apesar de Woolf abordar as limitações culturalmente impostas às mulheres, a mudança de gênero não limita Orlando de forma alguma. A personagem reconhece as sanções impostas à condição feminina pelos liames sociais. A saída para a existência ambígua será efetivamente a vivência da ambiguidade no que ela também apresenta de abertura à vida. Tal vivência se dará pela inescapável jornada a que a personagem vê obrigada a percorrer, refletindo a complexidade do que ocorre em Orlando, pois a obra não trata de um homem que se veste como mulher ou do inverso,trata-se de um ser complexo que é (foi) homem e que é também mulher e que, portanto, se posiciona com intensidade em ambos os lados.Nesse sentido, Orlando responde ao horizonte de expectativas de nossa contemporaneidade: o personagem resolve sua crise, não optando por esta ou aquela existência, mas por esta e aquela, ser outros continuando a ser o mesmo ser plural. Orlando representa, nesse aspecto, uma forma de resolução da contradição que se realiza através da vivência plena dessa contradição: nem apenas homem, nem apenas mulher ser em uma terceira via, sobretudo livre, colocando em pauta uma possibilidade mais plena de realizações, de vivências, de abertura à vida.

Enfim, é um romance essencial, posto que evidencia a riqueza da obra de Woolf no que diz respeito à sua capacidade de responder questões ainda tormentosas para o ser humano, mensurando os valores que permeiam sua própria existência em diferentes momentos, sob diferentes horizontes de expectativas. Ao proporcionar isso, a obra apresenta-se então como resposta para inquietações humanas de seu tempo.Assim como abarca o questionamento da existência de uma verdade histórica una, o percurso de Orlando abarca também se é possível conviver com uma identidade una ao explorar os conflitos de um sujeito que aos trinta anos dá-se conta da limitação do lugar que tinha como seu na existência. Portanto, inconteste a riqueza da obra e sua atestada longevidade: obra que se mantém atual há mais de oito décadas.

Resta saber a que novos problemas e concepções do ser humano Orlando servirá como uma resposta. O que será revelado nas futuras leituras da obra? O certo é que, enquanto leitura de um clássico, revelar-se-á sempre nova, pois um clássico, no dizeres de Ítalo Calvino, com que abri a resenha e com o qual fecho estas linhas: é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.
DIRCE 27/07/2014minha estante
Não sei se gostaria desse romance, Arsenio, porém, com certeza, gostei muito da sua resenha. Na verdade, sempre gosto do que você escreve - uma escrita refinada, mas claramente compreensível.


@livreirofabio 30/07/2014minha estante
Arsenio, uma aula de humanidade e história tanto sua como de Orlando: "o personagem resolve sua crise, não optando por esta ou aquela existência, mas por esta e aquela, ser outros continuando a ser o mesmo - ser plural." É tudo e todo. Os dois lados e acima. Woolf agradece lá de seu descanso leitores assim!

E dizer que a resenha ficou fantástica já é reduntante.


Paty 01/08/2014minha estante
Se tiver que escolher o melhor livro de Virginia Woolf, escolho a euforia de ler Orlando.


Arsenio Meira 01/08/2014minha estante
Patty, tô contigo!
Abraços


Thiago Ernesto 24/01/2015minha estante
Arsenio, comprei recentemente "Orlando" e espero começá-lo em breve. Após ler sua resenha me empolguei ainda mais para lê-lo, Virginia me conquistou completamente!


Fernanda Sales 24/07/2020minha estante
Ótima resenha!


Melissa 25/07/2020minha estante
Nossa, que resenha estonteantemente incrível. Eu estou embasbacada com as suas palavras. Agora me deu mais vontade de ler ainda


Alê Ferreira 13/10/2020minha estante
Uau !! Que resenha sensacional !




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

Orlando: uma biografia, Virginia Woolf – Nota 10/10
Livro de março do #desafiobookster2018 e, por enquanto, uma das melhores leituras do ano. Já adianto que não achei o livro fácil, ele é bem desafiador, mas vale muito à pena. A sinopse da obra já chama muito a atenção do leitor: uma biografia ficcional de um indivíduo que vive por cerca de 300 anos (séc. XVI-XX), mas envelhece pouco mais de 30. E mais que isso, durante esse longo período, o protagonista passa de um jovem membro da aristocracia elisabetana a uma mulher moderna do século XX. Em um dia, quando Orlando tinha 30 anos, dormiu durante uma semana e acordou mulher. É um livro que aborda as transformações do indivíduo visto como um ser humano, independente de questões envolvendo as diferenças de sexo ou gênero. Um dos pontos mais interessantes na obra é a contradição de sentimentos entre os vários Orlandos – que na verdade é um só – que vão sendo apresentados. Quando Orlando ainda era um homem, tinha uma visão bem machista, principalmente em relação ao papel da mulher na sociedade. No entanto, já na pele de uma jovem mulher, acaba questionando muitos das opiniões que tinha. Para uma obra escrita na década de 1920, já é possível imaginar a coragem da autora – que ainda por cima era mulher - para abordar temas tão polêmicos. E, para melhorar, a escrita de Woolf é muito boa, ela realmente dominava essa arte.

Também gostei muito de como a autora brinca com o ofício de escrever uma biografia. Isso porque, o narrador – no caso o biógrafo fictício, cujo nome também é Orlando – dialoga em diversos momentos com o leitor sobre os passos de escrever uma biografia, sempre com toques de ironia e humor.

Ou seja, é um livro genial... muito diferente, interessante e extremamente bem escrito, mas que demanda uma maior atenção e paciência do leitor (não se desanime se no começo você achar que não está entendendo tudo... aos poucos se acostuma). Recomendo muito!

Dica: Leia os textos de apoio que vêm nas edições. Indico muito essa edição da @autenticaeditora já que ela possui ótimo prefácio, imagens originais notas e um sumário no final do livro que ajuda muito a se ambientar no “tempo” criado pela autora.

site: https://www.instagram.com/book.ster
Verônica 13/03/2021minha estante
Com a consciência pesada por ter terminado "Orlando" a duras penas. Apesar de achar a escrita da Virginia linda/poética, e achar incrível e relevante os temas levantados por ela... Achei o livro parado, o que acabou não me prendendo.
Acho que não estava pronta para Virgina Woolf. =\




dani 02/05/2022

Um deboche e uma transgressão em forma de livro
Depois de minha experiência levemente traumática com "Mrs. Dalloway", imaginei que não conseguiria ler algo da Virginia Woolf tão cedo. Mas como leitores gostam de sofrer (uma verdade irrefutável), não resisti os comentários e resenhas positivas e comecei a ler "Orlando" por impulso. Não poderia ter tomado melhor decisão!

Protagonista dessa biografia fenomenal, Orlando atravessa séculos e continentes, vivencia momentos importantes da História e provoca questionamentos sociais que ainda hoje estão no topo da lista de tabus. Através dessa narrativa, Virginia propõe uma homenagem, um desabafo, uma vingança e um deboche... E que grande deboche! Um deboche deliciosamente inteligente, sagaz e transgressivo que desmantela as imaculadas relações entre identidade, gênero e comportamento.

"Orlando" curou todos os traumas deixados pelo outro livro da autora e agora posso dizer que estou oficialmente obcecada pela escrita de Virginia. Se a intenção dela era escrever um livro, não alcançou esse objetivo. O que ela conseguiu foi erguer um monumento de proporções extraordinárias. Com a ressalva de que é necessário jogar toda a lógica pela janela antes de embarcar nessa jornada e se divertir com tantas alfinetadas.
Ana Sá 02/05/2022minha estante
Genteee, vou criar coragem então!!!


dani 02/05/2022minha estante
Eu amei esse livro, Ana!


Cleber 03/05/2022minha estante
?????




Thamara 02/05/2020

Surpreendente!
Minha primeira leitura da autora, o que não achei uma tarefa fácil. Com certeza há uma riqueza de símbolos, que procurando os significados tudo faz sentido. Amei o enredo e tudo mais, achei mágico, difícil e diferente!
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Amanda Vaz 31/01/2024

Os diversos "eus" que nos constituem
Em Orlando, acompanhamos a vida do personagem homônimo ao longo dos quatro séculos que abarcam 36 anos da sua vida. Transitamos com ele/ela entre os seus diversos "eus", testemunhamos sua transformação sexual, seus conflitos e paixões, compartilhamos seu prazer pela literatura, nos vemos envolvidos pelas suas reflexões a respeito da vida e adentramos as mudanças ocorridas na Inglaterra ao longo de 400 anos. Tudo isso permeado pela incrível capacidade da Virgínia Woolf em abordar questões de gênero, de identidade, sociais e temporais de forma, ao mesmo tempo, satírica e reflexiva.

É sempre um desafio ler Virginia Woolf. É um exercício constante de recobrar a atenção para não começar a divagar e, assim, entrar em um modo de leitura automática, o que acontece com frequência com as obras da autora, tornando as leituras mais longas do que o esperado. 

É sempre um desafio ler Virginia Woolf, mas é, também, recompensador. Está você no meio de algo que parece não entender, questionando o que está posto, quando de repente, uma frase tão bem escrita e bonita te emociona e te faz questionar "eu realmente preciso entender tudo quando posso sentir isso?". Essa é a experiência de ler Virginia Woolf para mim.

A citação a seguir traduz o que tentei escrever no parágrafo acima, é simplesmente SUBLIME: "E assim, por alguns segundos, a luz continuou se tornando cada vez mais clara, e ela viu tudo com clareza cada vez maior, e o relógio batia cada vez mais alto, até que ocorreu uma terrível explosão bem no seu ouvido. Orlando deu um pulo como se tivesse recebido um golpe violento na cabeça. Foi golpeada dez vezes. Na verdade, eram dez horas da manhã. Era dia onze de outubro. Era 1928. Era o momento presente." (p. 268). Eis um livro que definitivamente vale a pena ser revisitado futuramente.

Deixo aqui um adendo: li o físico pela edição da Martin Claret, porém quando dispunha apenas do Kindle, era a versão da Penguin Companhia a que lia e o trabalho dessa última em termos de contextualização, referências entre a obra e a vida da Vita, assim como de outros tópicos, de modo geral, é infinitamente superior (embora haja na edição da Martin Claret uma explicação pela escolha de não preencher o livro com notas de rodapé, então fica a critério de preferência de leitura mesmo).
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Leonhard 30/03/2021

Contemplativo demais.
Um início interessante, mas logo exaustante quando reproduz a reação do homem à perda. De repente, Orlando muda e nossa! Valeu cada virada de olho na primeira fase, genialmente, justificada na segunda numa grande crítica à sociedade e outras coisinhas mais. Mas depois disso ficou cansativo, parecia que estávamos na mente de alguém com muitas perturbações e acho que terminou na hora certa, já estava a poucas páginas de abandonar.
Marcianeysa 30/03/2021minha estante
Não consegui terminar
E dizem que é a obra mais acessível dela....


Leonhard 30/03/2021minha estante
Pois Zeus me livre da mais complexa! Hahahaha... Eu acredito que há livros que exigem determinados estados em nossas vidas para que seja gerada uma conexão. Sem dúvidas, nesses meses eu não vibrei nesses estados enquanto lia esse aqui.


Marcianeysa 30/03/2021minha estante
Ele é SUPER bem avaliado, acho que não ganho essa capacidade de apreciá-lo não...rs


Leonhard 30/03/2021minha estante
Hahahaha... Dificilmente farei uma releitura.




pulsaodemorte 28/06/2021

esse livro é o maior dos absurdos, não existe nada que descreva o que significa essa leitura, e nunca haverá. eu sinto que pra entender e sentir tudo o que tá aqui dentro vou precisar ler esse livro uma vez por ano até o dia que eu morrer, e isso é o que traz beleza pra essa história, cresce uma vontade de que te acompanhe pra sempre.
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Maria14065 24/08/2022

Virginia Woolf escreve de uma forma poética que nos insere na consciência de suas personagens. Admito que foi um leitura lenta e um tanto quando monótona pra mim, talvez eu devesse ter iniciado a leitura de seus romances com outro livro. De qualquer forma, a grandiosidade da autora é vista nas páginas e na narrativa da vida de Orlando, alocando para a ficção seus sentimentos reais.
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yas 14/09/2020

Obra-prima de Virgínia Woolf
Me faltam palavras para descrever a jornada fantástica que esse livro me levou.

Um livro que comecei sem muitas expectativas e que me revirou por completo, me transportando tão vividamente aos locais que Orlando passou, aos sentimentos que sentiu, que fora inevitável não me apegar a este personagem tão peculiar.

Se tornou um favorito da vida e sem mais delongas LEIA VIRGINIA!
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Mariana Mello 15/08/2021

Orlando atravessa as barreiras do tempo e da sociedade
Esse livro tem passagens incríveis e desafia bastante nossa mente moderna, ao nos debruçarmos em um romance de 1928. Virginia é cirurgica e ao mesmo tempo fluída ao brincar com o texto, fazendo parecer que escrever é realmente isso, uma grande brincadeira, que se faz facilmente. Encanta, confunde, ilude e desmonta no que é considerado a maior carta de amor já escrita. Fico imaginando o que a Vita deve ter sentido ao ler esse livro, enxergando a astúcia da Virgínia em tentar descrever sua essência propriamente indescritível.

Recomendo! Talvez seja necessário pesquisar um pouco para que seja possível compreender as passagens de certas partes do livro, mas vale cada segundo do seu tempo!
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Martony.Demes 08/10/2023

Livro bem complexo, repleto de reflexões, inferências e críticas! Uma linguagem mais rebuscada que pode fazer desistir!
Não faz muito meu estilo! Li-o por curiosidade
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Thaís 03/10/2021

Uma leitura que não me agradou
Gosto muito de Virginia Woolf, mas Orlando não me agradou. A narrativa em tom dito biográfico que se estende em monólogos contemplativos, salpicada de filosofia, foge demais ao contexto central, deixando a leitura maçante. Cada capítulo parecia não ter fim. Depois de muito ignorar parágrafos e às vezes até páginas, o sentimento que fica foi de uma história com propósito desconhecido. A edição traz na abertura um estudo detalhado da autora e os propósitos da obra, e ainda comentários que contextualizam e dão explicações. Percebe-se que é um texto muito estudado, mas tenho sempre um pé atrás com esse tipo de história, que não é completa por si só, sendo necessário às vezes mais explicar do que contar.
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Maria Paula 09/06/2020

No começo, um livro dificil de ler, já que a autora descreve os mínimos detalhes, mas vale a pena continuar a leitura. É um livro surpreendente, que me prendeu do início ao fim, além de abortar questões muito atuais.
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