Lorena Miyuki 05/09/2017
Representatividade necessária
Começo dizendo que eu não li a versão nacional; não sei como ficou a tradução e adaptação, mas não creio que tenham tido grandes problemas porque o livro é bem acessível, bem universal, digamos. Vou resenhar a minha versão britânica, que essencialmente tem a mesma história, né? Vamos lá.
A Becky é autora de Simon vs. A Agenda Homo Sapiens, que eu já fiz resenha aqui e é um dos livros que eu mais amo no mundo, o que mais recomendo também. Esse aqui é seu segundo e é uma espécie de companion novel de Simon - isso quer dizer que se passa no mesmo universo, temos alguns mesmos personagens, mas não é uma sequência porque não continua a história. O próprio Simon aparece nesse livro porque ele é amigo da Abby, que é prima e amiga íntima de Molly...
Molly, nossa protagonista, é uma adolescente que vive de sonhar com possibilidades. Sabe? Ela imagina milhões de coisas, separadas nas suas pastas no Pinterest (obcecada por decoração!), que talvez jamais acontecerão. Imagina futuros inatingíveis com pessoas que ela mal conversou, mas que catalogou direitinho na sua memória de "amores platônicos" - platônicos porque ela também imagina que nenhuma delas jamais sentiu nada por ela porque, bem, ela é gorda. E inexperiente. E todas aquelas inseguranças que a gente tem nessa fase da vida.
Molly tem uma família de invejar.
[...]
Esse livro tem milhões de referências nerds, muito mais do que Simon, talvez principalmente pelas conversas de Reid e Molly. E referências musicais por conta de Mina e Cassie e a trupe delas. Eu me identifiquei muito com vários discursos justamente porque eu os entendi, mas para quem não tem conhecimento mais amplo sobre essas coisas talvez vá ficar um pouco perdido (Game of Thrones, Star Wars, Tolkien!! As referências me fizeram derreter!).
Os personagens são extremamente palpáveis. Há muitos deles, porém, e alguns já apareceram antes (pra quem leu Simon) e eu ficava surpresa quando relembrava deles [...]
A trama traz inúmeras discussões que, mesmo que às vezes superficiais, só de aparecerem e chamarem atenção nos devidos momentos, já conta muito! [...]
Acho que será uma marca registrada da Becky, mas esse livro traz uma diversidade tão grande de personagens que, como vi alguém comentando por aí, pode até parecer forçado, mas eu comprei tudo muito facilmente, sabe? Eu bato na tecla de que "quanto mais representatividade tivermos, melhor", então esse livro se encaixa como uma luva. Vou copiar descaradamente uma listinha que alguém fez no GoodReads do que temos de diversidade aqui, pra vocês terem uma ideia. Temos personagens:
Pansexual
Mestiços de asiáticos (que já é uma minoria dentro de outra, convenhamos)
Lésbicos (MUITOS)
Bissexuais, assexuais e gays (a existência deles, de forma tão natural, já mostra como é e deve ser a abordagem)
Judeus
Negros (muitos também!)
Gordos e como PROTAGONISTAS!
Mentalmente instáveis (depressão, ansiedade, etc, são temas trazidos à trama)
capa nacional LINDA!
De movo geral, é um livro sobre romances, mas muito mais sobre relacionamento familiar e incertezas, inseguranças sobre o futuro mesmo. As cenas finais da família me fizeram chorar horrores pelas conclusões da Molly: não importa onde estarão, elas sempre serão família porque se completam. Não importa se brigarem, se Cassie se casar e se mudar, ela e Molly continuarão irmãs pra sempre, né? E isso é o que importa, no fim das contas. Elas são quem são porque têm o apoio que precisam.
A capa brasileira foi alterada da versão americana e britânica. Confesso que, com surpresa, AMEI A CAPA NACIONAL porque ela conversa muito mais com a história que a original. E ela representa muito mais também! A própria Becky comentou no twitter como achou maravilhosa a adaptação!
O título também foi alterado e, por mais que eu não goste da palavra "crush", e que ele todo não tenha nada do original, entendo porém que tem muito a ver com a geração que vai ler esse livro na "idade certa": não que eu não tenha gostado, porque eu sinceramente adorei tudo, mas eu teria amado muito mais lê-lo aos 15~17 anos. Os jovens de todas as épocas, mas talvez principalmente os de hoje precisam de histórias assim para abrir A CABEÇA e as perspectivas, além de dar aquele calorzinho no peito quando tudo parece sem rumo: vocês não estão sozinhos e tá tudo bem ficar fora do padrão. Por favor, questionem esses padrões.
[Resenha completa no link: http://www.marcadocomletras.com/2017/09/review-upside-of-unrequited.html]
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