Resenhas - As Ondas

jhdep 16/11/2022

Caos e consciência: o experimentalismo radical de Virginia
Em seu romance mais experimental, Virginia radicaliza a técnica do fluxo de consciência e narra os pensamentos, sonhos e devaneios de seis amigos, desde suas infâncias até seus envelhecimentos. A narrativa não possui linearidade: e, mesmo que isso seja traço marcante de seu estilo, aqui ela é quase inexistente a ponto de ter me deixado perdido ao longo da história, a respeito do que era real, do que era sonho ou imaginação dos personagens. Confesso que a uma certa altura fiquei entediado com a história e só queria terminar logo.

A prosa poética da autora é inegavelmente bonita, e esse sentimento panteísta é muito bem construído ao longo da narrativa. Os interlúdios são bem interessantes. No fim das contas, algo me diz que uma relida daqui há alguns anos me faça absorver melhor esse romance e até gostar mais dele.

Ana Usui 26/10/2022

Ondas em um tweet: fluxo de consciência embalado em ondas do mar.
Não é exatamente prosa nem poesia, não chega a ser um conto ou um enredo completo, mas com certeza é literatura pura.

Ondas é um livro difícil de ler à primeira vista, assim como o mar agitado assusta um banhista não muito experiente, mas uma vez que você segue o fluxo, consegue sentir o embalo das águas e mergulha na poesia, você não sente mais vontade de sair desse mar.

O livro apresenta duas partes, as ondas e as pessoas.

As ondas são compostas pela descrição de um dia que acompanha as estações no decorrer das horas: a vida nascendo com o nascer do sol, a grama crescendo conforme ele sobe no céu, as folhas se agitando nos ventos do verão, as ondas batendo sobre a costa e deixando a espuma branca por toda a areia e posteriormente a vida se esvaindo conforme o sol faz seu curso pelo céu e se deita sobre o leito d'água.

Já as pessoas são apresentadas em uma narrativa que acompanha a vida de 7 amigos de infância e os impactos que suas vidas geram um sobre os outros.
O mais interessante das ondas é que o tempo está presente, porém não temos certeza nenhuma de quando cada evento acontece, não há datas especificas e nem as idades são confiáveis, tudo é muito vago. E também não temos espaço, novamente, há citações de ruas e cidades, mas nada fixo, nada confiável, não podemos ter certeza de quando e onde exatamente cada evento acontece. Por fim também não temos ações, é como se fosse uma balada harmônica, há ritmo, há sensações e sentimentos, mas não ações concretas sendo realizadas.

Os primeiros parágrafos do livro já nos mostram o tom da viagem:
"Vejo um anel", disse Bernard, "pairando sobre mim. Ele tremula e paira num laço de luz."
"Vejo uma placa de amarelo pálido", disse Susan, "espalhando-se até encontrar uma listra purpura".

E tudo é dito, murmurado, falado, contado, narrado, mas nada é realizado e não sabemos o que é a vida e o que é a alma. E essa é a grande punhalada da Woolf, nossas vidas não são os fatos que nos acontecem, nem nossas escolhas, mas o que pensamos, sentimos e percebemos dela.

De todos os personagens me identifiquei mais com a Rhoda, e foi uma identificação assustadora, foi como ver meus mais secretos pensamentos sendo confidenciados no livro quando eu mesma não fazia questão de enfrentar tais pensamentos, quando não tinha intenção alguma de reconhecê-los. Devido à tamanha intensidade não pude concluir o livro de forma rápida, precisava de pausas para respirar e acalmar as águas do meu próprio coração.

Também fiz questão de ler o livro todo escutando uma incrível playlist instrumental de músicos maravilhosos como Ólafur Arnalds e Ludovico Euinadi, sinto que a candência da música melhorou ainda mais a experiência e recomendo a todos tentarem ao menos em algumas páginas lerem dessa forma.

Um dos trechos de Rhoda que me bateu profundamente:
"Se pudesse acreditar", disse Rhoda, "que envelheceria na busca e na mudança, eu me libertaria de meu medo: nada persiste. Um momento não leva a outro. A porta se abre e o tigre salta. Vocês não me viram chegar. Contornei as cadeiras para evitar o horror do pulo. Tenho medo de vocês todos. Tenho medo do choque da sensação que salta sobre mim porque não consigo lidar com ele como vocês fazem, não consigo fazer um momento fundir-se no outro. Para mim são todos violentos, são todos separados; e se caio, sob o choque do salto do momento, vocês virão para cima de mim; rasgando-me em pedaços. Não tenho nenhum fim em vista. Não sei como ir de um minuto ao outro e de uma hora à outra, dissolvendo-os por meio de alguma força natural até formarem a massa global e indivisível que vocês chamam de vida."

Não há como negar a genialidade da Woolf e não há como ler esse livro sem se permitir sentir.

taynna cavalcanti 20/08/2022

as ondas ?
?quanto a mim, porém, se estou na companhia de outras pessoas, as palavras logo começam a fazer anéis de fumaça - vejam como as frases logo começam a espiralar de meus lábios. parece que um palito de fósforo é riscado; alguma coisa arde.?

essa certamente foi a leitura mais incrível que já fiz na vida. teve som, cheiro, movimento, dor, consciência. virginia sentou ao meu lado e sussurrou ?disse Bernard? em meu ouvido.
eu me calei pra ouvir sua voz, fui tocada por suas palavras poéticas.

de forma nada simples, o livro retrata a vida de 6 - na verdade 7 - personagens. Bernard, Susan, Neville, Jinny, Louis e Rhoda (e Percival). desde a infância até a velhice, somos levados a conhecer a consciência de cada um dos personagens principais. cada um com seu traço característico, mas ditados pelo o que parece ser uma única voz.

o livro não pode ser chamado simplesmente de romance, pois como a própria virginia dizia, o romance é um canibal.
a narrativa em as ondas é poética, teatral, ritmada. os 9 episódios surgem através de interlúdios seguidos de solilóquios.
os personagens dizem:
?ouço um som?
?vejo um globo?
sussurram e gritam apenas em nossos ouvidos. há um trecho que os descreve bem:

?aproxima-se o tempo em que esses solilóquios serão partilhados. não iremos sempre emitir um som como um gongo percutido à medida que uma sensação golpeia e depois outra?

quem quiser se aventurar por essas páginas, aconselho antes de ler, assistir ao vídeo (no youtube) das meninas do @napagina99 (no instagram)
limpou completamente a minha visão e me preparou para uma leitura sem medos, com muito mais conhecimento pra absorver o enredo.

nana260 20/07/2022

As mariposas.
"Longe dos fatos; livre; contudo, concentrado; prosa, contudo poesia; um romance e uma peça." - V. Woolf.

A sensação de leitura deste livro é a de ser levado suavemente pelas águas do mar ou levar uma concha ao ouvido e fechar os olhos.
Também é ir a um bosque e ouvir rouxinóis chilreando ao longe, inalar o ar puro e se dar conta de como tudo ao seu redor está vivo.

"As Ondas" foi uma leitura difícil de adaptar, as primeiras 50 páginas foram desafiadoras pelo estilo único de narrativa que a V. criou, visto que nunca antes li algo sequer similar, mas logo me adaptei à espiral de sentimentos e pensamentos harmoniosamente desordenados. Certamente se tornou um dos meus prediletos. Uma leitura recomendável.

Marina 15/07/2022

Para mim foi muito cansativo ler esse livro, no começo eu mal conseguia diferenciar as falas dos personagens. No geral é um texto muito lindo e reflexivo, a Virgínia tem uma escrita muito poética.

Lua 13/05/2022

Um livro de fluxo da consciência que vai narrando a vida de 6 amigos, suas histórias, cotidiano e a passagem do tempo. É também um livro poético e muito bonito. Virgínia Woolf tem o dom das palavras.

ViviGreg. 09/05/2022

Livro muito bom, poético e reflexivo, mas a leitura é pesada, cansativa por conta das descrições. Mesmo assim, achei muito linda a escrita da Virgínia, sempre tive curiosidade para conhecer e estou realizada por ter completado essa leitura.
Depois que você consegue identificar cada personagem pela "fala" fica mais fácil de acompanhar, depois de um tempo dá pra captar rapidinho a essência de cada um e diferenciá-los.

Luardo 18/04/2022

Este foi o primeiro (de muitos) livros que me pus a ler da Virginia. Eu sabia que ia ser uma espécie de desafio, só não sabia que este, até então, se tornaria o livro mais difícil que eu já li.
Por mais que seja curto em número de páginas, é um livro que demora, por ter uma narrativa incomum, se é que da pra chamar os (re)fluxos de consciência dos personagens assim.
O que "funcionou" pra mim foi destacar o que os personagens estavam de dando, separar o que é de cada um, e ir juntando tudo como num mosaico.
"Funcionou" entre aspas. Sinto que, pra mim, só a Rhoda faz sentido.

urchon 22/02/2022

Uma confusão que você gosta de sentir
Provavelmente a obra mais experimental que já li, o que no início gerava certo desconforto, mas passou a ser acolhedor. É isto. Este livro acolhe.

Ao não entregar um "plot", o livro diz muito sobre seu próprio tema central: a vida, em todos seus variados e inconstantes períodos, formas. Acompanhar a jornada das personagens principais se torna algo envolvente, e você logo se vê refletido em cada uma delas.

Uma obra um tanto complexa, mas que no fim das contas nos ensina muito sobre nós mesmos.

Leo 11/02/2022

Poesia e sentimentos pulsantes nas vozes de seis personagens, melancólica e trivial, as etapas da vida se movendo como ondas.

@jaquepoesia 26/01/2022

▫️As Ondas (1931), tradução de #lyaluft

▫️Através do fluxo de consciência solilóquios revelam o crescimento e amadurecimento de seis personagens que são amigos desde a infância: Neville, Loius, Bernard, Susan, Rhoda e Jinny.
📖Cada monólogo pouco a pouco nos revela quem são e nos mostra também como mudam ao longo dos anos.
Temos também a personagem de Percival, que embora não possua voz no texto tem demasiado significado na vida dos demais.

▫️Além do próprio monólogo de cada uma das personagens, percebemos também a passagem do tempo que se dá através da narrativa da passagem do sol sobre o mar, representando manhã, tarde e noite como uma metáfora a infância, juventude e velhice.

▫️Ler fluxos de consciência por vezes pode ser muito mais complexo do que narrativas comuns, então acredito que a maioria das pessoas assim como eu necessitem de um pouco mais de atenção e tempo para ler as obras de Virgínia. Embora com apenas 184 páginas As Ondas exigiu de mim muito mais do que outras leituras com a mesma quantidade de páginas.
Mesmo assim devo dizer que a experiência foi muito agradável, pude desfrutar muito mais da escrita dessa obra do que de Mrs. Dalloway por exemplo, em parte por este livro nos apresentar quem é o personagem que fala no texto e também por ser um texto muito mais poético do que minha leitura anterior.
Sem dúvida alguma é um desses livros capazes de nos fazer pensar na vida (durante e depois da leitura), nos fazendo refletir sobre nossa existência e consequentemente nossas muitas mudanças.

▫️Pretendo reler a obra daqui algum tempo (aliás, acho que toda obra complexa é melhor absorvida com uma segunda leitura), pois realmente foi uma boa experiência!

lorena 02/01/2022

Puta merda. Me identifiquei com a Rhoda entusiasmadamente durante todo o romance pra no fim ela pular de um penhasco. Não é um bom presságio. A mesma sensação de quando eu descobri que o mapa astral da Sylvia Plath é muito parecido com o meu.
Quatro estrelas e não cinco porque agora minha mente ta na cadência do livro e é muito difícil chegar na cozinha e pensar que o tempo se dobra como um sino ao redor do pulsante movimentar das coisas, as uvas se desprendem do cacho, vão cair, vão desaparecer em meio ao....

Mel 29/12/2021

?As ondas quebraram na praia..?
Eu vivi 6 vidas inteiras enquanto li esse livro. Sofri e comemorei com as personagens como se estivesse realmente imersa no mar enorme que cada um deles é.

A profundidade e construção de cada personagem é perfeita, a intensidade desse livro é bizarra, as metáforas com a natureza me fizeram sentir absolutamente tudo que lia junto com eles, esse livro é simplesmente surreal.

Virou não só um favorito mas um livro que eu tenho certeza que vai me acompanhar pra vida toda, e ainda vou reler muitas vezes.

Muito obg Bernard, Neville, Louis, Jinny, Susan e Rhoda por me abraçarem com seus sentimentos e muito obg Virgínia por me permitir viver com eles

João Oliveira 24/11/2021

UM OUTRO NÍVEL DE FICÇÃO
Virginia Woolf é um dos maiores expoentes do Modernismo Inglês, um movimento que buscou expressar, por meio das palavras, todo o caos vivido em nossas mentes: o amor, ódio, a melancolia, ansiedade etc.. Em As Ondas não é diferente. Sob qualquer suspeita, digo que é um dos melhores livros que ela já escreveu, uma junção de prosa/poesia/teatro, algo completamente experimental que somente uma autora do seu calibre poderia entregar.

A narrativa nos apresenta a vida de seis personagens, que vão envelhecendo conforme a autora, entre uma cena e outra, descreve o nascer e pôr do sol sobre o mar. É um livro que exige atenção e, sobretudo, experiência para entender um pouco dos dramas ali narrados. Aqui, a autora trabalha, de forma magistral, 0 fluxo de consciência e o monólogo interior, entregando personagens complexas e tão humanos quanto a nós mesmo. Um novo nível de ficção.

Leiam!

Amanda 22/11/2021

Arrebatador
Terminei a leitura de As Ondas recentemente, portanto ainda estou absorvendo o que se tornou o meu novo favorito da ficção de Virginia Woolf. Acho incrível a forma como as repetições se dão no texto, entre os pensamentos dos personagens, as descrições do passar do tempo e da natureza. Além disso, a intertextualidade existente entre esse texto e outros escritos da autora está constantemente presente. Caracóis aparecem superando alguns obstáculos naturais, como em Kew Gardens, e as mariposas com frequência surgem nos solilóquios dos personagens, lembrando-nos da luta do pequeno ser em A morte da mariposa. (Não é à toa que o primeiro título do livro tenha sido As mariposas).
As poucas partes que apresentam narração, ou como Woolf preferiu chamar, “interlúdios”, dedicam-se exclusivamente a descrever o passar do tempo, caracterizado pelos movimentos de luz e sombra, e sons de pássaros e ondas. Tais interlúdios, que descrevem o decorrer de um dia completo, acompanham de forma paralela e simbólica o envelhecimento dos personagens. Enquanto o dia nasce, a infância é alegre e vivaz, ao meio-dia as vidas adultas parecem declinar, e com a proximidade da noite, também a solidão da velhice se faz presente.
Os solilóquios dos seis amigos adquirem maturidade e novas perspectivas de mundo que dialogam com o passar do tempo. Como citado diversas vezes (principalmente nos monólogos interiores de Bernard), existe uma aparente unidade entre eles. Todos são os seis. Foi exatamente esta visão que Woolf pretendeu passar ao criá-los. Assim diz Bernard, ao fim do livro: “Não há divisão entre mim e eles. Enquanto falava, eu sentia: - ‘Sou vocês’”, simbolizando o entrelaçamento de suas vidas, ligadas por um elo: o ausente amigo Percival.
Também a compreensão do mundo, da vida e do tempo como algo maior e que foge do controle dos seres humanos e continua, apesar de nossa simplória e temporária presença, toma forma, em vários dos solilóquios maduros que vão e vêm como ondas, um após o outro. Bernard, mais uma vez, reflete: “A vida talvez não seja suscetível de ser tratada como o que fazemos ao tentar relatá-la. Sentados tarde da noite, parece estranho não termos mais controle.” E acrescenta, ao final: “Pelo tempo passamos, pela história. Para mim isso não dura senão um segundo.”
Haveria muito mais a ser dito, só citei alguns dos pontos que me chamaram a atenção em uma leitura imersiva que despertou ora sorrisos, ora lágrimas, mas sempre reflexões.
Virginia Woolf nunca me decepciona. Pelo contrário, sou surpreendida a cada nova leitura de seus escritos!