Caçada Russa & Outros Relatos

Caçada Russa & Outros Relatos Flávio V. M. Costa




Resenhas - Caçada Russa & Outros Relatos


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Thaila9 24/08/2023

Muito bom!
Caçada Russa tem uma narrativa fluída e um tanto quanto pesada, denunciando através de seus contos curtos uma atmosfera carregada de crimes, homícido e violencia.

Personagens marginalizados presos a um ambiente hostil e uma retratação da sociedade opressora e obscura em que vivemos.

Definitivamente não é o tipo de livro que leio por prazer, estou lendo por questões acadêmicas mesmo.
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Penalux 09/11/2017

VIda urbana
“Caçada Russa” é uma coleção de contos que perseguem a marginalidade de uma narrativa quase urbana, algumas vezes, surgem imagens sedentárias, de famílias residentes em cidades pequenas, porém, estes desenvolvimentos em cima de enredos íntimos, e pequenos, logo cedem suas atmosferas estreitas para o ultrapasso pela marginalização dos personagens, envoltos na atmosfera dos crimes, da violência.
A narrativa fluida conduz à uma leitura prazerosa, que embora fazedora de uma narrativa ficcional a procura do urbano, não se perde em excessos de tramas aceleradas pelo contexto moderno. As histórias se passam em Salvador, e denunciam, e moralizam suas histórias edificadas sobre os saberes modernos, no qual, a violência faz-se como grande personagem. No conto “Tito”, a história que se passa é a vida do menino Tito, aparentemente sossegado, apreciador do futebol. Conforme a narrativa evolui, uma transmutação é desencadeada na essência de Tito, quando ele apanha de um grupo de garotos na rua. Com este acontecimento Tito, aprenderá uma nova forma de se defender, que é baseada na agressividade.
Embora os temas abordados sejam o assassinato e a violência, o autor consegue, por meio de sua narrativa concisa, conduzir o leitor por caminhos aparentemente obscuros, mas com sua sutileza de contista aperfeiçoa os horrores do mundo moderno, por uma maneira singular de fazer história, amenizando com sua película de contista o impacto do contato com tal mundo urbano.

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Andreia Santana 09/08/2016

Salvador está nua!
Salvador madrasta, periférica, preconceituosa. Uma cidade carcomida pela hipocrisia, a cidade que espantaria até o Boca do Inferno. Nem em seus versos mais polêmicos, mais esculachados, Gregório de Mattos conseguiu retirar de Salvador o seu cheiro de patchouli de matrona meio ridícula, mas mantendo seus mínimos traços de dignidade. Uma certa baianidade lasciva escorre dos versos de Gregório, mesmo dos mais críticos, mas a cidade retratada em Caçada Russa não é sensual, nem burlesca, sequer pornográfica, é simplesmente malvada.

As 15 histórias reunidas nessa primeira coletânea do estreante em literatura, calejado em reportagens, Flávio VM Costa, retiram o véu da tão apregoada sensualidade - e simpatia - baianas, nosso deleite e prisão perpétuos. Desligam a caixa de som: nada de axé music por aqui, nada de Carnaval, de requebro até o chão... A cidade que borbulha por baixo daquela outra, a turística, com suas guerras de ratos e homens, é que faz esse pequeno livro de contos pulsar vivo, surpreendente, assustador e ainda assim, hipnótico, daqueles que é impossível largar, mas com histórias que martelam o juízo tempos depois de lidas.

A realidade nua e crua da periferia. O cotidiano da escola pública que há muito perdeu o romantismo dos anos 50, quando os filhos da elite se formavam no velho Colégio Central. Quem frequentou as escolas públicas baianas dos anos 90 para cá, bem sabe que o ambiente antes revolucionário, torna-se cada vez mais hostil. Estudantes armam rixas, marcam batalhas, reproduzem a guerrilha urbana entranhada em suas vidas.

Professores que dividem o tempo entre ensinar jovens ricos nas unidades particulares e humilhar jovens pobres nas do governo. Como não desengavetar lá das zonas empoeiradas da memória, a gorducha, baixinha, bonachona professora de História da oitava série, que passava os 50 minutos da aula contando as maravilhosas descobertas de sua filha caçula em intercâmbio nos EUA? Tinha há muito me esquecido dela, mas Caçada Russa e seu autor, me fizeram voltar no tempo.

Histórias de amor que não vingam, de abusos que se tornam rotineiros, de uma infância que vive em um mundo que já não vê beleza em construir badogues e alvejar passarinhos, metáfora para as muitas crianças sem asas que sucumbem ao tráfico e aos PMs.

Caçada Russa é tão opressivo quanto o calor que torra Salvador nos dias de inversão térmica, quando as nuvens cinzas tornam-se absurdamente pesadas, naquele típico mormaço de fazer perder a vontade de viver, que antecipa o aguaceiro de inundar ruas, entupir boeiros, derrubar encostas e barracos, mas nunca deixa a cidade limpa.

Essa cidade já nasceu maculada, mas assim como a velha Bahia de Gregório, essa urbe abafada, claustrofóbica e perversa de Flávio VM Costa faz poesia às avessas. Uma criança como aquela que flagrou o imperador de cuecas a desfilar, certamente gritaria que Salvador está nua...

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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Krishnamurti 30/07/2016

A lógica de um mundo marginal
A expressão “Literatura brutalista” foi cunhada em meados da década de setenta do século passado por Alfredo Bosi para caracterizar determinada vertente da literatura brasileira, que em linhas gerais, e grosso modo, trazia em sua configuração os instantâneos de uma sociedade opressora das individualidades, registrados no cotidiano terrível das grandes cidades. Este cotidiano, fotografado por personagens narradores apresenta as deformidades de um mundo violento, sujo e infame, onde a moral e a ética simplesmente se dissolveram.
A Editora Penalux, acaba de editar o livro “Caçada russa & outros relatos do jornalista e escritor Flávio VM Costa. As quinze narrativas enfeixadas no volume, podem sugerir, num primeiro momento que o autor filia-se a essa corrente da literatura brutalista, ou realismo crítico, como queiram, de nossa sociedade. Todavia, ao fim e ao cabo da leitura, fica-nos a grata constatação de que o autor não é um mero retratista da violência urbana que assola o país. Sua obra apresenta maiores sutilezas e temáticas mais complexas e ricas. Vejamos porque.
Os quinze contos, dividem-se em três blocos. Cada um deles agrupando 5 narrativas. Aos poucos vamos percebendo que as narrativas – a maioria delas ao menos -, contribuem para a formação de um mosaico onde se espelha a trajetória de vida do próprio autor, nascido e criado em bairro periférico da cidade de Salvador na Bahia. Portanto, suas narrativas refletem uma realidade que o autor conhece antes de tudo pela vivência, uma realidade que nos é gradativamente revelada pela memória tal e qual um novelo que vai desenrolando as linhas nas quais ficou gravada a violência brutal que é a vida em certos extratos da sociedade brasileira de Norte a Sul do país, e não apenas na Bahia.
As cinco primeiras narrativas do livro, que estão agrupadas no bloco I, o atestam. Acontecem na infância/adolescência das personagens. Período no qual tomam contato com toda sorte de decepções e desencantos, para finalmente perderem a inocência logo nas primeiras fases da vida. “História de um enforcamento”, por exemplo, é exemplar quanto a isto. Choca os leitores mais desavisados justamente ao revelar como o “ato educativo” da justiça com as próprias mãos – ou a pura e simples vingança - , é ensinado às crianças, para que nenhuma delas se esqueça das leis que terminam por vigorar na sociedade dos excluídos. “Fez bem-feito quem fez”.
A crítica arguta e desnuda do autor, faz parte da natureza de seu fazer literário. Seus temas e estilo são postos aberta e friamente, sem meios tons, ou meias palavras. Deliberadamente rompe a linha do silêncio sutil e educado superposta à incômoda vida real que todos acabamos por levar, através de um discurso provocante, exercido por personagens (em sua maioria), presos a estereótipos de marginalidade, em detrimento de qualquer possibilidade de humanidade, por menor que ela seja. O conto “Diga lá Rei” é memorável. Poderosa síntese de nossa história feita por um mendigo. Melhor; por um 'maluco', que é como se nomeia os que proferem verdades no Brasil.
Isto tem um efeito impactante no conjunto da obra, porque nos deparamos com uma explosão verbal diante do silenciamento imposto à grande maioria da população, sobretudo nas camadas ditas – sempre com reservas –, negra ou afro-brasileira. É aí onde, até por questões históricas, o sofrimento e as carências de toda sorte são mais vulneráveis à violência. Uma população que vive, para além das limitações econômicas, outros obstáculos sociais tais como a imposição da “linha de cor”, a “morte social” e a pior. A chamada “dupla consciência”, que é a estratégia de que muitos se valem para romper os dois obstáculos anteriores o que, via de regra, redunda em mais desastres. A trajetória de vida do personagem Tico, no conto “Quatro vidas de Sebastião”, é exemplar.
De relato a relato vai ficando em nós, impregnada, a sensação de que tantas e tão variadas violências – já estamos a refletir no conjunto de textos agrupados na 2ª e 3ª parte da obra –, acabam por instalar o clima de 'desordem fecunda' que propaga-se atualmente no país, agravada claro, pelas conveniências das crises econômicas, morais, desigualdades, desemprego e etc, nomeadamente nos grandes centros urbanos.
Referimo-nos a pouco a 'desordem fecunda' naquele sentido que pensou Michel Maffesoli quando se refere à violência. Alude ele ao caos provocado pela imprevisibilidade desse fator (que inegavelmente trará seus efeitos colaterais), porque baseia-se na discórdia, no dissenso, e não na concordância tácita de todos. Esse aspecto da questão interessa a todos, independente de cor e classe social. A banalização e naturalização da violência vai ocorrendo no indivíduo contra si mesmo ao marginalizar-se em vários níveis, reverbera nos outros por sua condição, dá margem à violência de outros contra esse indivíduo e finalmente: a violência abarca todos contra todos. Desde aquela silenciosa, até a aberta do enfrentamento físico por causa de um “dê cá aquela palha”. Esse estado de coisas, repetimos, ajuda à banalização e naturalização da violência, sobretudo se lavarmos em conta que em nosso país, não se é educado para a prática do debate (o inferno mora nos outros a priori). A prática entre nós é a dos “panos quentes”, sob a vão tentativa de afirmar que somos todos iguais. Não somos.
A literatura de Fávio VM Costa berra isto a plenos pulmões. E soube fazê-lo. Este nos parece um dos maiores méritos dessa obra porque o autor logrou com habilidade literária e rara sensibilidade mostrar-nos como a tal violência é fator desencadeador e definidor de comportamentos e hábitos sociais entre nós.
Cabe a obras como “Caçada russa & outros relatos” a amarga tarefa de situar a violência colocando-a no interior de um quadro vivo como se afigura esse livro, de conferir-lhe o peso da experiência vivida através da representação de sua essência. É esse nível de compreensão que ajuda de fato a extirpar aquele lema criado por George Orwell em Animal Farm, no qual todos seriam iguais, mas alguns seriam mais iguais que os outros, para que enfim, ocorra a necessária e efetiva tomada de posição em direção a uma transformação.
E faço questão de datar o texto. 02/08/2016.
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