caroline with an e 23/02/2017
Os dois lados da maçã
Do meu ponto de vista esse livro pode ser dividido em duas partes: uma história bonita que narra a situação de uma criança tentando lidar com os problemas financeiros da família e uma história conservadora que te faz engolir a miséria e as injustiças da sociedade e aceitar isso como uma ovelha domesticada.
Ok, vamos lá: eu gostei do trama que a autora criou, gostei dos personagens e achei tudo muito compreensível. A dor do menino também é muito palpável e tudo o que ele vem sofrendo é triste e desesperador. O modo como ele encontra uma válvula de espace reflete a mente de muitas crianças com problemas familiares, na escola ou em qualquer outro tipo de ambiente. Afinal, quem nunca encontrou refugio em um amigo imaginário quando estava passando por uma situação difícil? Desse ponto de vista a história pode se tornar realmente tocante e te fazer pensar em muitas injustiças, poréeeem...
Por falar em injustiças, achei extremamente NOJENTO o modo como a autora retratou a pobreza de uma família. Não conheço a biografia dela, mas colocaria a mão no fogo para dizer o quanto tenho certeza de que ela mesma NUNCA passou fome na vida.
Aqui nós temos personagens sem ter onde morar, passando fome e vivendo de migalhas para conseguir sobreviver. Mas apesar de tudo isso, eles tem passam a mensagem de que "tá tudo certo com a gente, tá bom? Nós nos amamos, só o que importa. Roubar? Roubar não, estamos morrendo mas nós não roubamos. Somos muitos felizes, olha só, o mundo não é injusto, nós nos amamos muito!!". Eu queria dizer que entendo a positividade da situação e união da família e acho isso muito lindo. Afinal, é isso o que deve existir quando coisas assim ocorrem com você e com as pessoas que você ama. Porém, a mensagem que a autora acabou passando foi distorcida e totalmente injusta do meu ponto de vista. Ela passou uma mensagem conformista, de modo que você tem que aceitar o que você vive, e sem reclamar de nada, é só se "esforçar" pra ter um pão por dia para comer e respeitar os coleguinhas que tem em abundância e colaboram indiretamente com a sua miséria.
Eu poderia citar aqui diversas cenas que me irritaram profundamente e me fizeram querer dar um soco na cara dos personagens, porém, eu sei que o buraco é mais embaixo e esse tipo de discussão acarreta mil fatores e mil pontos de vista, portanto, vou parar por aqui.
Voltando ao começo, só não dei menos estrelas pra esse livro por conta do foco da história ser o amigo imaginário de uma criança com problemas familiares financeiros. Simplesmente isso.
Pra encerrar, eu indico o livro sim, porém, tenham em mente de que NÃO ESTÁ TUDO BEM passar fome, NÃO ESTÁ TUDO BEM não ter onde morar. Não sejamos cachorrinhos obedientes que aceitam esmolas de seus donos. Vamos parar para refletir um pouco sobre a sociedade que vivemos e procurar formas (~revolucionárias~) para que todos tenhamos acesso a condições de uma existência digna