Luísa 16/08/2016
A escrita poética e comovente de Marilia Arnaud. Por Luísa Gadelha
iturgia do fim é o segundo romance da escritora Marilia Arnaud. Paraibana, Marilia publicou seu primeiro romance, Suíte de silêncios, pela Rocco, em 2012; antes, escreveu quatro livros de contos e participou de várias antologias. Liturgia do fim (Tordesilhas, 150 páginas) chegou recentemente às livrarias brasileiras.
Liturgia é um ritual ou cerimônia religiosa, característico do cristianismo, que exemplifica bem o ápice do enredo. Trinta anos após ser expulso de Perdição, sítio onde cresceu, Inácio Boaventura, professor de meia-idade, literato, casado, abandona a profissão, a família e a cidade grande, para voltar ao lugar de sua infância, que esconde episódios intragáveis.
Em Perdição, Inácio foi criado sob o jugo de um pai autoritário, conservador e religioso (“E a cadeira de balanço de papai, trono de um rei sombrio, soberano de um país perdido nas brenhas de uma serra, senhor de todas as coisas existentes em derredor e a partir de si, a casa e as pessoas que a habitavam, a terra e a água, as pedras e as árvores, os animais e as lavouras, as flores e as abelhas, e ainda o silêncio e a palavra, a última palavra”), prendendo-se ao afeto da mãe, Adalgisa, dócil e submissa, juntamente com os irmãos, um primo, uma tia louca confinada a um sótão, e uma criada, Damiana, “adotada” pela família ainda criança.
Em seu retorno, Inácio se depara com uma casa já decadente, suja, onde só restaram vivos o pai, já ancião mas ainda imponente, e Damiana. O enredo lembra o de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, publicado 40 anos antes, mas a prosa é inteiramente diferente.
Através da narrativa, entrecortada por lembranças de Inácio e o episódio de sua volta a Perdição, somos apresentados aos diversos aspectos que permeiam a personalidade do protagonista: o político, que, meio sem jeito, lutava pela redemocratização do país durante a ditadura militar; o romântico, acanhado, mas infiel à esposa, Ieda; o amante da literatura, que usava os livros para escapar de um mundo no qual não se encaixava; porém, sobretudo, o papel de filho.
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