soj 11/01/2024
Potencial desperdiçado.
Sempre me assustei muito com a ideia de voltar para este livro, principalmente porque embora soubesse que ele fora uma obra inferior aos livros que a autora realmente escreveu, eu ainda havia tido uma experiência incrível com esta história quando criança, lembro bem de ele ser o responsável por eu começar a gostar de roteiros, junto a Animais Fantásticos e Onde Habitam. Foi um choque pesquisar sobre e descobrir que todo mundo odiava o título e, embora não culpe muito o público, não vejo sua totalidade como algo ruim.
Acho que o erro da autora aqui foi ter deixado o futuro de Harry nas mãos de outras pessoas, o sentimento que tive foi que os personagens não se comportavam como antes; claro que se pode dizer que isso é dado ao amadurecimento, aos dezenove anos que se passaram desde o último contato, mas não sinto que mudar o cerne de todos os personagens seria uma escolha inteligente, especialmente se tratando de uma sucessão esperada por quase dez anos.
De qualquer forma, eu achei a ideia por trás disso muito legal, o filho de Harry entrar para Sonserina e se tornar melhor amigo do filho de Draco, mas me parece que a escolha de roteirizar isso de uma forma em que os anos se passam mais rápido do que dias em outros títulos dificultou todo o entendimento de quem realmente são os novos personagens, de como eles pensam e agem, a trama fica com uma sensação de jogada, que somada as viagens no tempo se torna até mesmo bagunçado. Mesmo se tratando de um roteiro de peça, sinto que poderia ter havido mais cuidado em apresentar isso como obra final, embora alguns momentos possam ser melhores devido aos elementos que o teatro proporcionaria, a trama, no geral, se prejudica ao escolher apresentar cinco anos de desenvolvimento de personagem em menos de quatrocentas páginas.
O que resumiu essa experiência foi um sentimento de potencial desperdiçado, terminar um livro com a sensação de que não conhecemos direito os protagonistas é uma coisa decepcionante quando há a expectativa vinda dos títulos anteriores. Eu amei muito o Alvo e o Escórpio, gostei também da motivação da Delphi, mas a falta de desenvolvimento desses personagens só não é pior do que a desculpa para a existência da antagonista. Me preocupa o cuidado que a autora teve com a obra nesse episódio, e me deixa inseguro em continuar para ler os próximos roteiros. Se tudo continuar com esse mesmo cuidado, era melhor eu ter parado de ler no epílogo.
Acho que posso resumir minha opinião em dizer que este é um livro ruim quando visto da perspectiva dos seus antecessores, mas enxergando-o como um episódio a parte é possível se divertir, sendo sincero, há momentos mais divertidos que os de Ordem da Fênix. Toda obra tem defeitos e qualidades, aqui é muito interessante ver os filhos de Harry e Draco juntos em uma aventura, ver que filhos de inimigos tornam-se melhores amigos. Gosto também das realidades paralelas, ver como todos os personagens reagem com o “futuro perfeito” contado pelos protagonistas. Mas mesmo com essas qualidades foi triste ver que último capítulo de Relíquias da Morte havia sido continuado de forma tão desarmônica e sem polimento, meu único desejo era ver a autora voltar para esse episódio e “remasterizar” a jornada de Alvo, talvez sem toda essa história de Criança Amaldiçoada; em síntese, para mim seria legal ver apenas Alvo em Hogwarts e como o mundo bruxo está depois dos eventos de 1998, talvez algo de viagem no tempo, o que gostei bastante, mas no fim parece que os autores são incapazes de perceber que o protagonista não precisa salvar o mundo para que sua história seja boa.