Cássia 27/11/2017
Ruim
É ruim. Seis Suspeitos, de Vikas Swarup, romance policial indiano, é muito ruim. Na história, um jovem podre de rico, filho de um político corrupto, é morto na festa que deu em comemoração (olha só) por ter sido inocentado do assassinato de uma jovem garçonete. O autor tenta fazer o inverso de uma fórmula muito comum nos livros policiais: em vez de revelar aos poucos quem é a vítima, ele já informa no prólogo quem é ela, Vicky Rai, e que tipo de pessoa é. Então, você já começa perdendo parte do interesse pela narrativa.
Nos capítulos que se seguem, Swarup intercala diversos núcleos em torno de cada um dos seis suspeitos a que o título se refere. Ou seja, nada de novo no front. Tem uma atriz ambiciosa e meio sociopata, um texano que deve ter algum tipo de doença mental, o nativo em busca de uma relíquia de sua tribo, um burocrata corrupto que tem “apagões” em que acha que Gandhi, o pai da vítima e um ladrão que vive na periferia.
A trama se passa em Lucknow, capital de Uttah Pradesh, estado da Índia que tem mais ou menos a mesma população do Brasil, 200 milhões de pessoas. A imagem da Índia no livro não é muito lisonjeira: miséria, injustiça, prostituição, corrupção generalizada, muito machismo.
No geral, a narrativa é desinteressante. Em alguns momentos, garante o humor com o personagem americano, em outros trata o preconceito de forma um tanto quanto inapropriada com o nativo Eketi, seja pelo tom panfletário, seja por nem conseguir tirar o próprio preconceito do argumento que julga combatê-lo.
Como falei, o autor revela logo quem é e que tipo de pessoa é a vítima como se isso fosse uma grande sacada. Eu considero que o interessante na leitura de um romance policial é descobrir aos poucos quem é a vítima e observar as pistas de ordem física ou psicológica deixadas no percurso. No final, ao saber quem é o assassino, você ter a satisfação de soltar um “é, faz sentido por isso e por isso e de outro modo não faria sentido”. Porém, é difícil escrever um livro assim. Afinal, é um exercício de lógica.Ao final de Seis Suspeitos, você se dá conta de que poderia ter sido qualquer uma daquelas pessoas e, tanto faz, você se pergunta por que ninguém tinha matado aquele desgraçado antes. Então, é até desnecessário os dois plot twists criados pelo autor para revelar o assassino.
Fico surpresa com o fato de esse livro ser um best-seller porque é bem chato. Imagino que o livro seja bem vendido por causa do autor: Swarup escreveu Q & A, romance que serviu como embrião para o roteiro do filme Quem quer ser um milionário?. Além de escritor, Swarup também é diplomata. Acredito que algum verniz multicultural que possa ser vislumbrado em Seis Suspeitos venha dessa experiência dele.
site: https://buritizinho.wordpress.com/2017/11/26/seis-suspeitos-e/