Maria - Blog Pétalas de Liberdade 20/08/2016Resenha para o blog Pétalas de Liberdade (acesse o blog para ver fotos de detalhes da edição) "Os dias esquecidos" é um livro de fantasia, que começa quando Üme, o (literalmente) "Único, o senhor de tudo" deixa a cargo de seus oito filhos o seu "Intento", a missão de criar tudo o que há no universo e no mundo. Cada filho tinha uma qualidade, um dom especial, mas dois são especialmente importantes para a trama: o mais velho (Ëlonder) era cheio de luz, e o segundo (Dorandor, também chamado de Skaaldor) era o senhor da escuridão. Sabemos que precisamos do dia e da noite, da claridade e das sombras, mas o papel de Dorandor na criação não foi bem compreendido pelos oito irmãos, o que fez com que ele se separasse da família e, consequentemente, comprometesse a criação do mundo em perfeita harmonia.
"Ele saiu das profundezas de sua casa caótica e entrou novamente no meio do universo. Desta vez ele teve maior decepção porque maiores eram suas expectativas. Tão belo aos seus olhos eram as obras do caos que Skaaldor jamais imaginava que seriam tão diferentes das obras do universo e por isso houve nele um sentimento mal. Saiu do meio das estrelas de luz e disse:
- Por que não consigo copiar essa obra? Amaldiçoado seja o trabalho de suas mãos!" (página 25)
Tempos depois, um de seus descendentes, Esaroth, não se conformava com a situação enfrentada por seus pais, especificamente com a tarefa que seu pai tinha que cumprir e que o afastava de sua mãe, e para tentar reverter a questão, acabou fazendo coisas que não deveria e se perdendo de seu caminho, assim como Dorandor. A partir daí, Esaroth viveu para destruir tudo o que os sete tinham construído, mais especificamente para destruir os seres criados: humanos, elfos e anões. Porém, as três raças não aceitariam sua destruição, e lutariam ao longo das eras para se livrar do mal que Esaroth queria causar (e como ele, por não ser de nenhuma das três raças, não podia destruí-los com as próprias mãos, criou seu exército com orques, goblins, trolls, ogros e outras criaturas do tipo). Humanos, elfos e anões também tinham aliados na batalha, contando, em algumas ocasiões, com o auxílio de seres que causavam tempestades, ventanias ou concediam presentes especiais.
"Era a hora de retomar a terra e de combater o monstro escuro que havia tomado os humanos como escravos." (página 206)
O autor é fã do escritor J. R. R. Tolkien, que escreveu O Senhor dos Anéis, O Hobbit e O Silmarillion, e criou a Terra Média; ao que parece, Tolkien foi a maior inspiração do Tiago para criar o universo onde se passa "Os dias esquecidos". Eu ainda não li nada do Tolkien nem vi nenhum filme inspirado em suas obras, por isso não posso falar com certeza, mas pelo que pesquisei e pelas resenhas que já li, o Tiago procurou também usar essa inspiração na forma de escrever, de contar a história. "Comum" não é um adjetivo que serve para a escrita de Tiago, pois parece que ele planejou exatamente quais palavras usar, e há o recurso da retomada de ideias com outras expressões em um mesmo parágrafo, para reforçar o que está sendo passado.
Achei muito interessante a forma como a criação do mundo foi descrita, juntando coisas que eu já tinha visto em Gênesis (na Bíblia) com outras histórias da mitologia grega de um jeito totalmente novo e que não deixava nenhuma ponta solta, as explicações que ele deu para o surgimento do sol e da lua, por exemplo, me deixaram admirada pela criatividade dele.
A trama do livro se passa em mais de dois mil anos, então, alguns personagens vão cedendo lugar a outros conforme o tempo vai passando, e mencionando que outra inspiração do autor é o George R. R. Martin e que há muitas, mas muitas mesmo, cenas de luta e batalhas sangrentas, já estejam preparados para ver muita morte.
Outra coisa que achei interessante, foi como humanos, anões e elfos foram descritos: a raça humana com indivíduos bem diferentes entre si e, algumas vezes, sendo cegados pela ganância; os anões apaixonados pelas pedras e riquezas que haviam no subsolo e os elfos mostrados como seres mais preocupados com a sabedoria do que com as coisas do mundo. Nem sempre os três se entendiam.
Sobre a edição: a capa tem uma certa relação com a destruição causada pelas batalhas sangrentas, as páginas são brancas, a diagramação tem margens, letras e espaçamento de bom tamanho. O livro foi revisado pelo próprio autor, que merece um elogio por ter deixado passar pouquíssimos erros (muitas editoras grandes não fazem um bom trabalho assim). No final do livro, há um apêndice com várias informações interessantes, inclusive sobre o idioma criado pelo autor e um mapa.
Enfim, "Os dias esquecidos" é um livro para se ler sem pressa; provavelmente vai ser interessante para os fãs de Tolkien e para quem gosta de fantasia, de livros com seres mitológicos como dragões, fadas, elfos e muitos outros, além de lendas tão geniosas quanto os deuses gregos. Destaco um último ponto que me agradou: alguns diálogos bem humorados que davam um pouco de leveza em meio a tantas batalhas.
"- Pelos Sete, você é desprezível.
- Sim, eu sei que sou. Mas numa cidade onde todo mundo vai morrer, quem se importa com a honra? Ninguém vai ficar vivo para me condenar!
(...)
- Tudo bem, tudo bem. Assim: tem um jeito de entrar lá e ver o rei, mas só com uma condição: devem me dar algum ouro. Vocês são nobres. As roupas, cabelos, maquiagem - ao que os elfos olharam com insatisfação para ele -, certo, sem maquiagem." (página 250)
site:
http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2016/08/resenha-livro-os-dias-esquecidos-t-c-f.html