Resenhas - Paris não tem centro

Aléxia 06/03/2023

Um single de Parque das Ruínas e a linha tênue entre poesia e ensaio
Quando a 7Letras lança uma reedição artesanal com 120 exemplares numerados de um “longo poema que transita entre as fronteiras da prosa e do ensaio literário” e esse livro é da Marília Garcia, você nem hesita: compra na hora.

A escrita que brinca entre as fronteiras de poesia e ensaio, esse autoria tão única de Marília Garcia, está entre minhas vozes literárias favoritas, dessas que você enche de bandeirinhas e pega pra reler em qualquer ocasião como um oráculo. Um teste de resistores e Parque das ruínas que o digam.

As 38 pagininhas desse livro (diminutivo proposital, porque é menor que O Jovem, da Annie Ernaux) se dividem em quatro partes, cada uma fazendo um zoom out sobre a parte anterior: a parte 3 sobre a ocasião que ela leu as partes 1 e 2; a parte 2 sobre a parte 1. Cada uma dá uma nova camada de complexidade, reflexão e até temporalidade sobre temas que aparecem em outros livros dela.

Como um dos temas é a experiência de viver em Paris, me pareceu que esse livro é um B-Side de Parque das Ruínas (um dos grandes preferidos de 2022). Aquele single que não encaixou entre os hits mas que funciona à sua própria maneira.

O auge, pra mim, é a parte 2, autoexplicativa:

será que se eu escrever em francês
que não é a minha língua
e publicar em português
que é a minha língua
a tradução do poema para o português
pode ser lida como um original?

Vale dizer que li esse livro inteiro em voz alta com a minha irmã no último dia de carnaval. Rimos infinitamente da eterna busca pela Gioconda do E. Mérou, e eu nunca vou conseguir pensar nesse livro sem lembrar dela - coisas bonitas da leitura.

site: https://www.instagram.com/alexiasrv/