Juh 30/05/2022
Um livro que me fez sentir raiva e alegria...
É inegável ler ?Homens de oração? e não constatar o amor estusiasmado e diligente de Edward Bounds pela oração. Isso certamente é invejável nos dias atuais, onde até mesmo no meio cristão a prática de súplicas se reduziu a cultos de oração quase vazios, a momentos de culto público e palavras vagas e automáticas antes das refeições. Ao longo de todo o livro, Edward faz questão de sempre tirar lições, na maioria das vezes, preciosíssimas sobre o significado, a prática e as bênçãos que uma vida em constante e ?fervorosa? de oração pode trazer para a vida pessoal e coletiva do povo de Deus. Com um foco mais central na perspectiva Deus-homem, Bounds várias vezes leva o leitor a refletir como a oração é uma ferramenta de Deus para prover, cuidar, sustentar, livrar e se relacionar com o seu povo. O que nos faz pensar que, embora muitos de nós concordem com tais alegações, poucos evidenciam uma crença prática de fato, pois como ele mesmo diz ?a oração é um teste de caráter? ? na sua constância ou na falta dela, somos postos à prova sobre o que de fato acreditamos sobre oração. Afinal, se ela traz todos esses benefícios e Deus a usa justamente para isso, porque então não oramos mais e com maior fé e convicção? Porém, apesar de reconhecer que têm muita ?carne boa? para ser tirada desse livro, devo admitir ? existem muitos espinhos no meio desse peixe ? dos maiores e mais grotescos até aos mais discretos e escondidos nas entrelinhas.
Edward comete erros burlescos nas interpretações de certas passagens bíblicas, tirando especulações de passagens isoladas, sem analisar o contexto, bem como outras afirmações da própria Biblia. Um dos principais e que muito me inquietou foi quando, ao afirmar sobre a oração de Elias ter cessado a chuva, o profeta, segundo ele, ?estendeu o braço do Onipotente? e ?tomou o lugar de Deus?. Este e muitos outros erros estão baseados em um destaque exacerbado para o poder da oração em si, e não para o poder do Deus da oração. Bounds tropeça ao confundir essas diferenças que parecem sutis, mas que moldam várias de suas crenças equivocadas ? como acreditar que os decretos definitivos de Deus podem ser alterados pela oração e que nossas preces influenciam e tem poder sobre Deus ? deixando, embora não tão explicitamente para mentes mais cauterizadas, o Onipotente Deus não tão onipotente assim. O influenciador têm mais poder sobre o influenciado, seria então o homem mais deus do que Deus?
Não posso cometer a injustiça de dizer que esse livro é descartável. Certamente não o é. Mas certamente também não seria justa ao afirmar que é o livro ideal para se ler sobre oração ? principalmente para alguém mais leigo na fé, que ainda não sabe discernir tão bem verdades de ?meias verdades? ou especulações lícitas para conclusões bíblicas.
No mais, é um livro que me fez sentir espanto e esperança, um pouco de raiva mas também alegria. Muito útil para me fazer despertar para o poder de Deus através da oração, mas igualmente útil para aguçar minha análise crítica ? até mesmo de livros e autores cristãos.