Queria Estar Lendo 27/10/2016
Resenha: Três vezes nós
Três versões diferentes de uma mesma história de amor contadas em uma narrativa fluida e bem orquestrada. Três Vezes Nós é um livro intenso, mas ao mesmo tempo simples. Através de encontros e desencontros que trilham o destino dos protagonistas e daqueles ao seu redor, Laura Barnett entrega um romance diferente e extremamente cativante.
Eva e Jim estão ligados, mas, em cada uma dessas versões, seus caminhos são diferentes da anterior. Três universos paralelos onde personagens semelhantes existem, situações parecidas acontecem, mas cada detalhe do futuro muda graças a uma decisão diferente que Eva e Jim tomaram no dia em que se conheceram.
"Eva observa o rosto de Jim e sente uma certeza que não consegue explicar - e nem mesmo tentar - de que este é o momento: o momento depois do qual nada não voltará a ser como antes."
Em relação à versão 1, começa assim: Eva e Jim se conhecem no incidente com a bicicleta. Ele oferece ajuda e ela aceita, e toda a sua convivência nasce a partir daí. Eles se casam, constituem família. Os caminhos profissionais de Eva ganham destaque e os de Jim se perdem em devaneios e amargura. O que parecia uma vida perfeita graças ao começo perfeito encontra desventuras e despenca lentamente em situações dramáticas que vêm com o tempo que se passa. A promessa de um amor juvenil pode não ser o suficiente para um futuro estável.
"- Você acha que a neve é branca, mas não é. A neve é prateada, roxa, cinza. Olhe mais perto. Cada floco é diferente. Você deve sempre tentar mostrar as coisas como são, filho. Todo o resto é somente ilusão."
A versão 2 começa assim: há um incidente com a bicicleta, mas é só isso. Eva e Jim não se conhecem. A partir disso, os dois seguem suas vidas com curiosas semelhanças em relação à primeira versão - Eva é uma escritora e Jim é um pintor, mas Eva encontra bloqueios e acaba se dedicando à família em vez de pressionar a própria arte, no que Jim encontra caminhos para viver do próprio talento. Ambos acabam confrontando situações em que sentem um vazio curioso, a sensação de que ainda falta alguma coisa em suas vidas. Eles se encontram em algumas situações e há aquele rompante adorável de "eu sei que te conheço de algum lugar, talvez de outro lugar", mas, ainda assim, essa é a linha temporal da separação. Eles são linhas paralelas aqui, sempre muito próximas uma da outra, mas sem nunca se encontrar.
"Eva era a parceria que não foi; aquela com a qual, existindo somente na imaginação de Jim, nenhuma outra mulher poderia se comparar."
A versão 3 tem o seu início com o incidente da bicicleta também. Jim e Eva se conhecem, mas nada nasce entre os dois porque Eva toma uma decisão abrupta em relação a uma situação em que se encontra. Essa é a versão dos desencontros; o universo onde eles deveriam ter pertencido um ao outro, mas situações extremas os forçaram a não arriscar. Aqui, o amor entre eles é um risco, e nenhum dos dois parece disposto a aceitá-lo enquanto encontram saídas para ele. Eva e Jim trilham caminhos mais dramáticos - bastante parecidos com as versões 1 e 2 - e conforme os anos passam e os encontros voltam a acontecer, percebem que talvez aquela sensação de pertencerem um ao outro não seja apenas bobagem momentânea. Talvez realmente sintam falta um do outro, ainda que tenham se conhecido tão pouco.
"As histórias em sua mente, que antigamente pareciam ser tão insistentes, tão impossíveis de ignorar, acabaram se transformando em sombras sutis, isso se permaneceram por ali."
Laura Barnett tem uma narrativa sucinta e bem explicativa. A confusão que as versões causam faz parte da história, e por isso não fiquei incomodada com ela. Uma coisa bem legal que a editora Novo Conceito fez nessa edição foi colocar um cantinho de anotações ao fim da obra para que você escreva os momentos mais importantes de cada versão. Isso ajudou demais para que eu me encontrasse em cada uma delas, uma vez que estamos falando de multiversos - e o conceito deles é básico: uma decisão altera todo o seu futuro, mas não significa que ele vai ser muito distinto do que existiria em outro universo paralelo.
"- A pintura retrata as muitas escolhas que não foram feitas, as muitas vidas que não foram vividas. Ele a chamou de Três Vezes Nós."
Fato comprovado no próprio livro, uma vez que confrontamos diversas cenas semelhantes - festas comemorando a mesma ocasião especial, o nascimento dos filhos dos casais, os amigos que rodeiam Eva e Jim. É uma obra bem orquestrada, com todos os pontos extremamente conectados, e por isso tão genial. Uma história dessas não funcionaria com furos, não te prenderia a ponto de você aceitar os bugs em seu cérebro só para descobrir o final de cada versão. E que finais!
"Talvez seja assim que o amor sempre chega, escreveu ela em seu diário, nessa transição imperceptível da amizade para a intimidade."
O que achei mais interessante foi como, apesar de confrontar histórias diferentes, Eva e Jim sempre mantiveram seus trejeitos. Apesar das perdas e ganhos, dos obstáculos da vida que cruzavam seus caminhos, Eva e Jim ainda eram os jovens sonhadores que se encontraram no incidente com a bicicleta. Eva e sua determinação e presença encantadores, Jim e sua mente criativa ansiosa. Me apaixonei pelos dois, pelas três versões dos dois.
"Eles ficaram em silêncio. Diante das duas, o tríptico. Pinceladas de tinta a óleo sobre a tela. Três casais. Tês vidas. Três possíveis versões."
Três Vezes Nós é, definitivamente, um livro para ser lido com calma. São três histórias de amor diferentes a serem apreciadas com moderação, porque todas contam os encontros e desencontros de um casal apaixonante. Através dos anos de toda a sua vida, Eva e Jim merecem um espaço na sua estante pelo simples fato de conduzirem um romance encantador e inesquecível mesmo em três universos diferentes.