Rômulo Silva 21/09/2022
Uma aula sobre turismo, geografia e geopolítica
Em “Uma viagem pelos países que não existem”, Guilherme Canever compartilha fatos curiosos e relatos pessoais de suas viagens por nações que, embora até funcionem como países, possuem pouco ou quase nenhum reconhecimento internacional. De um modo geral, o autor consegue fazer um resumo muito interessante sobre os fatores envolvidos nas disputas territoriais e fornece um vislumbre do cotidiano dos povos locais através do olhar curioso de um viajante fascinado por roteiros incomuns.
A estrutura do livro torna a leitura muito leve e de fácil compreensão. A obra tem como início uma breve explicação sobre os pré-requisitos comumente levados em consideração para determinar o que é, de fato, um “país”. Em seguida, cada capítulo traz um "não-país" diferente, sendo acompanhado principalmente das principais características geográficas do lugar e das experiências que o autor teve ao visitar cada um desses locais.
Além das singularidades culturais de cada território, um outro ponto muito interessante que o livro mostra é o tamanho da discrepância de reconhecimento global que cada uma dessas nações apresenta. Enquanto Taiwan, por exemplo, é reconhecida por 17 estados-membros da ONU e abriga uma população acima de 23 milhões de pessoas, a República de Nagorno-Karabakh possui pouco mais de 150 mil habitantes e só é reconhecida por três nações que também possuem suas respectivas independências contestadas, como um “clube dos excluídos” no qual um
apoia o outro.
Quando analisamos ainda mais tal assimetria, vemos que enquanto algumas nações sofrem com a falta de recursos e com as feridas causadas por anos de guerras, outras conseguem desfrutar de relativo conforto, geralmente por meio de investimento estrangeiro focado em estratégias geopolíticas. Ainda assim, é interessante ver que, apesar de ignorados, cada um desses locais conta com povos que, em suma, vivem como qualquer outra população dos países com reconhecimento internacional, embora precisem se adaptar constantemente a um número maior de adversidades.
No fim, Canever dá os seus pitacos sobre os principais obstáculos envolvidos nessas situações, Segundo ele, as linhas imaginárias que chamamos de fronteiras muitas vezes ignoram tópicos complexos como culturas e etnias. Além disso, em última instância, ele sugere que se os direitos das minorias fossem respeitados, talvez não houvesse tantos movimentos separatistas.
Esse é um livro que nos convida a pensar sobre quem realmente somos como nação e abre espaço para que mais pessoas possam se aventurar por destinos menos tradicionais. Talvez seu único defeito seja o fato de que a obra poderia ter ido um pouco mais além e explorar mais o assunto. Mas, ainda assim, é uma leitura muito interessante!