Homens Elegantes

Homens Elegantes Samir Machado de Machado




Resenhas - Homens Elegantes


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Jackeline 24/06/2020

deveria ser uma leitura obrigatória, é uma história sobre Brasil Colônia tendo um banho de cultura. Além de que o livro é de fácil leitura e engraçado também, o que vale muito! Eu suuuper recomendo e vou deixar três frases citadas nele, só pra vocês sentirem o impacto.

- "[...] O mundo é cruel, lhe dizem. Não, o mundo é indiferente, são as pessoas que decidem serem ou não cruéis."
- "- O Brasil está abandonado, senhor; de lá tudo se tira, e nada se constrói. Nossa gente é deixada a míngua e se contenta com o que tem."
- "[...] Não há problema em se ter medo, e você não diminui aos meus olhos por admitir isso. Você não precisa ser forte o tempo todo, Érico. Eu posso ser forte por nós dois, quando você precisar que eu seja."
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Jackie! 27/01/2022

Cruel e Prazeroso
Samir Machado de Machado é brilhante! Aqui ele trás uma narrativa cômica e aventureira, cheia de fatos históricos que marcaram e mancharam o Brasil Colônia. Com muitas críticas, nada veladas, o livro acompanha a história de Érico um fiscal de alfândega que está investigando o contrabando de livros eróticos no Brasil. Com isso ele descobre toda uma trama comandada pelo patético Conde Bolsonaro (risos). É Basicamente uma farofa (refinada) com gays, travestis, lésbicas, espiões, perseguições e lutas de tirar o fôlego!
O livro tem várias reviravoltas e é super empolgante acompanhar a jornada de Érico ao "mundo proibido" que Londres esconde. A narrativa só peca em ser extremamente descritiva, o que para alguns não é problema, mas pra mim
desacelera, principalmente o começo, da história.
PS: tem gatilhos de violência e homofobia
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Jonathan Marques 20/05/2021

Gente, é o Bolsonaro ali?
Migues, socorro! Vocês já leram um livro tão bom que chegaram a sentir vontade de gritar para o mundo todo ler ele tbm? Pois isso aconteceu comigo esse final de semana, quando acabei de ler o incrível ?Homens elegantes?. EU TÔ NO CHÃO! Samir Machado (de Machado) deu conta de escrever um romance histórico do século 18 (no estilo Madonna no VMA de 90) recheado de muito glacé, luxos e excessos da alta sociedade europeia; uma verdadeira aventura de capa e espada, com duelos, perseguições, espionagem e muita aula história.

Bom, sem enrolação: no livro acompanhamos Érico, um soldado brasileiro que é enviado a Londres para investigar (em segredo) um contrabando de livros eróticos que fora pirateado para o Brasil. E entre bailes, óperas e lutas, acabamos nos deparando com a vida dupla que LGBTs tinham que se submeter naquela época (se é ruim hoje em dia, imaginem 300 anos atrás!). Brazil, I?m devastated!

E pq é tão bom assim? É UM COMBO MINHAS ANJAS! A habilidade do autor em encaixar a trama em acontecimentos históricos reais da década de 1760 é BABADO! Ele caprichou até na escrita típica da época, com termos requintados e temporais (ás vezes rola um Google pra entender, but who cares?). O desenrolar do enredo é IM-PE-CÁ-VEL, oscilando entre momentos de extrema delicadeza, ou diálogos debochadamente afiados, chegando a batalhas de tirar o fôlego. E o melhor de tudo: O VILÃO SE CHAMA BOLSONARO!

É isso, VOU ANFLETAR ELE ATÉ MEU DEDO CAIR! E chega de escrever, antes que eu estoure de novo o limite de caracteres dessa birósca! Mas, eu de vocês, não perderia a oportunidade de ganhar (pelo menos na ficção) de um Bolsonaro! Kkkkkcry...
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Thay Moreira 16/01/2017

Hoje em dia, só a ficção é realista.
O que dizer desse livro que mal terminei de ler e já considero pacas?

Homens Elegantes inaugura a minha meta do ano de 2017: ler apenas livros nacionais, ou pelo menos não me afogar nos romances de época internacionais como fiz no ano passado. Comicamente, o primeiro livro que arranjei é uma ficção histórica, nacional, sobre espionagem. Nessa narrativa, somos apresentados a Érico Borges, português brasileiro enviado à Londres para investigar uma estranha carga de livros eróticos que aportou no Brasil - bem quando o país era proibido de receber qualquer tipo de obra que não fosse religiosa, que dirá obras de conteúdos tão polêmicos. Em Londres, ele se disfarça como o barão de Lavos, inicia sua investigação, faz amigos, se apaixona... e conhece o grande vilão e inimigo, conde de Bolsonaro.

Ai, o sabor da ironia.

Sendo bem sincera, eu cresci acreditando que a literatura nacional é prepotente e forçadamente difícil. Em qual sentido, você pode perguntar? Ora, é só pensar: o que a Academia considera Literatura? Temos vários autores nacionais que se dedicam à ficção e que são classificados como "subliteratura", "literatura de entretenimento", mas nunca levados a sério. E o que é levado à sério? Livros com linguagem rebuscada, que prometem em suas sinopses muito mais do que cumprem, se apresentam como difíceis (para compreender o ponto desejado pelo autor), mas na verdade, são extremamente simples: simplesmente se colocam como muito promissores quando não o são. Prepotentes, como falei.

No entanto, não dá para colocar toda a produção nacional dentro desse saco, então estabeleci esse objetivo. O primeiro que aceitei comprar foi Homens Elegantes (não ia ser, mas foi o único da minha lista que achei na livraria, e não quis comprar pela internet). Olha só: foi caro. Depois da experiência com os livros da Carina Rissi, eu queria me sentir feliz em dar R$55 em um livro - queria ver que a obra merecia aquele valor. Não queria um livro bom, mas cujo enredo eu poderia encontrar em um livro de R$20 (caso da Rissi). Queria um livro fantástico.

E eu recebi. Enrolei, enrolei, e tudo o que posso dizer é: Homens Elegantes é fantástico. A linguagem é simples, e nem por isso menos impactante. As reflexões que permeiam a narrativas não soam deslocadas ou pedantes; no lugar disso, realmente te faz pensar. A Londres de 1760 que Samir Machado descreve é similar a praticamente qualquer lugar em 2017 - por isso, destaquei o trecho do livro que usei como título: como obra de ficção, Homens Elegantes é, de uma maneira boa e também agridoce, muito realista.

Não há como descrever também a perfeição e complexidade dos personagens. Érico é um herói brasileiro tão diferente do comum - quando estamos acostumados aos malandros, o senhor Borges aparece como um malandro disfarçado de aristocrata (ou aristocrata disfarçado de malandro? Fica a reflexão). Quando nos acostumamos aos heróis cuja inteligência é sempre colocada como um motivo de deboche ou escárnio. Érico se mostra realmente inteligente. Isso quebra a ideia de que todo herói nacional precisa ser pobre, malandro, metido à esperto em busca de sobrevivência ou um homem rico cuja mentalidade se torna motivo de riso. São dois estereótipos de protagonista (homem) brasileiro que cansa, e Érico surge como uma lufada de ar fresco.

Já os outros personagens, nenhum fica para trás: Maria, Armando, Gonçalo, William, Lady Madonna (prestem atenção nas falas dessa rainha, gente, apenas prestem). O romance não passa longe dessa história - muito pelo contrário, ela consegue ser um dos pontos principais, e de um jeito bem diferente do que estamos acostumados. É fruto de boa parte das reflexões do livro, e é impossível concluir a leitura tendo a mesma visão sobre o tema; não apenas sobre sexualidade, mas sobre praticamente tudo: religião, ciência, literatura.

Mas agora vou parar. Se eu continuar falando, essa resenha não vai ter fim.
Alguma dúvida? É claro que eu recomendo.
Jon 15/05/2018minha estante
Fantástico!!!




Dudu 31/12/2021

Romance histórico de ótima qualidade.

Escrita primordial com uso de um excelente vocabulário. Minha única crítica seria que, por vezes, o texto é descritivo por excesso, o que torna a leitura um pouco cansativa.

A história tem ainda como pano de fundo a comunidade homossexual em Londres, o que dá uma pitada de safadeza à trama, para os adeptos a este tipo de enredo.

Destaque para o humor da escrita, que permite ao leitor boas risadas com o uso de trocadilhos e tiradas cômicas.
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Nelson.Nogueira 05/04/2021

Excelente livro! Tem romance, aventura, suspense, muito humor, representatividade e personagens incríveis. Recomendo muito!
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Ethi 06/08/2020

Bom
Livro interessante, com dramas e aventura que, bem como o autor disse, é típica de James Bond. A inclusão de personagens LGBT+ foi muito interessante, algo que geralmente não vemos em livros de época.
Ótimo para ler pra passar o tempo.
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Milena 04/08/2020

Tudo que se espera e um pouco mais
Comecei a ler sem saber sobre o que se tratava direito, e talvez por isso não me dei muito bem com o começo, que se arrastou um pouco. Mas depois que a história pegou velocidade, não parou mais.
O romance é muito bem construído, os personagens soam reais, e a narrativa usa artifícios criativos que te engolem na história, tendo a mesma tensão nas cenas de negociações políticas e nas cenas de batalhas e duelos.
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Thamires de Fátima 15/04/2020

Homens elegantes
O livro é tão bom que não sei nem por onde começo a resenha kk a escrita é maravilhosa, instigante e instutiva, uma das coisas que mais me agradou foi o grau de cuidado e pesquisa que o autor dedicou para retratar com o máximo de veracidade o século XVIII. O livro mistura fatos históricos com a ficção, personagens originais com personagens escritas na época e figuras históricas aumentando ainda mais a impressão de que aquilo que está sendo narrado realmente aconteceu e ainda nos deliciando com pormenores sobre a situação geopolítica da Europa e do Brasil colônia. Outro aspecto maravilhoso, também fruto de extensa pesquisa, como mostrado nas referências bibliográficas, é a descrição da comunidade e da cultura LGBT da época. Os personagens são desenvolvidos com primor, a trama conta com diversas reviravoltas, as lutas são descritas com minúcia, mas sem torna-se enfadonha, pelo contrário, muitas vezes de prender o fôlego. O livro também conta com inúmeras referências a livros e autores do período e algumas até a cultura pop, além de possuir o vilão com o nome mais adequado que já vi. Em suma, o livro é estupendo.
Bianca.Avanci 15/04/2020minha estante
Sua resenha está maravilhosa e devo dizer que esse livro com certeza estará na minha lista! Obrigada pela ótima indicação.


Thamires de Fátima 15/04/2020minha estante
Poxa vida, obrigada! Recomendo mesmo, é muito bom ?




Maik 18/04/2021

Empolgante e delicioso de ler
A gente precisa de mais livros assim com personagens gays! Onde o foco da história não é um drama sobre a aceitação da própria sexualidade, são personagens gays envolvidos numa trama de espionagem, aventura, num romance histórico riquíssimo em detalhes. Maravilhoso!
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D.J. Alves 19/12/2021

As Fanchonas que dominaram o mundo kkk
Literatura LGBTQIA+ Muito interessante. Nacional. Conta uma história de espionagem, ação, amor e fúria. Tão antigo e tão atual. Muito bom. Recomendo!

Comecei a pensar no mundo para o qual eu devia voltar, com sua pressa brutal e sua indiferença. Eu teria de me tornar um novo homem. Teria de andar de novo em companhia de meus captores e dos agentes de minha humilhação, teria de ser examinado por eles de forma crítica em busca de vestígios das cicatrizes que eles mesmos me haviam infligido. Eu teria de fazer algo em favor daqueles que eram como eu e por outros ainda mais indefesos. Eu teria de abandonar essa introspecção mortal e, em vez disso, me enrijecer. Eu teria até mesmo de odiar um pouco.

Sr. Bond, eles têm um ditado que diz: Uma vez é acaso. Duas é coincidência. A terceira é ação inimiga.

O passado é um confeito da memória: crave nele sua colher e escorrerá o recheio do presente; prove-o, e sentirá o gosto do futuro.

Exceto a visão daquela cidade. Santo Agostinho estava certo: quem não viaja não sai da primeira página, e por um breve instante, quase interrompeu tudo antes mesmo que começasse. Uma nova cidade é uma nova oportunidade: reinvente a si mesmo. Reconstrua. Retraduza. Anime-se, homem! Apenas os vivos podem se reinventar, e é cedo na vida para tanta melancolia!

Diz que, se isso acontece, é por aquela cidade ser o nó que une linhas invisíveis que se espalham por todo o globo. Que há algo em comum entre os negros levados à força da África para viver e morrer nas plantações de açúcar da América; entre os livres e cativos que se embrenham e sufocam nas Minas Gerais a lhe arrancar as joias debaixo da terra; entre os que cruzam e afundam pelo oceano atrás do óleo de baleia que ilumina as ruas das cidades; das famílias nos vinhedos do Douro, aos batalhões que sangram sob o calor sufocante do Oriente para fazer valer o comércio dos chás e dos temperos; todos os homens da Terra estão ligados um ao outro sem o saberem, fluindo como sangue pelas veias invisíveis das rotas de comércio, bombeando e fazendo pulsar a cidade que é o monstruoso coração do mundo: Londres.

Por toda a Europa, philosophes divulgam ideias inconvenientes: de que não se deve aguardar a felicidade somente após a morte, mas buscá-la em vida.

Escritores são uns mortos de fome, e Shakespeare precisava comer.

Érico, nesse caso, compartilha da opinião do conde de Oeiras, seu chefe: o atraso mental do reino era o resultado direto da educação pública ter sido deixada nas mãos dos jesuítas. Educando o povo apenas para a obediência passiva e não para a livre-empresa, formou gerações de beatos supersticiosos e ignorantes, os mantendo presos ao medievo enquanto o resto do mundo andava para frente.

Quando se trata de mover o mundo, a fé das gentes e a ambição dos reis não são nada comparadas à vontade de variar o prato. A culinária é o verdadeiro eixo que equilibra o globo.

nutrindo a crença arraigada de que a religiosidade do mais católico dos reinos europeus não é a causa de seu atraso e decadência? cada dia mais evidentes? e sim a chave para o futuro. Ou, em outras palavras, que tudo dará certo e melhorará, se as coisas não só pararem de evoluir mas, de preferência, que retrocedam um pouco. O mundo gira rápido demais.

O Brasil está abandonado, senhor; de lá tudo se tira, e nada se constrói. Nossa gente é deixada à míngua e se contenta com o que tem.

o fato é que o governo está quebrado, o ouro que havia se usou para a reconstrução após o terramoto, não há dinheiro, e se houver, é em Portugal que se necessita dele. O que o Brasil precisa é de colonos e cultivadores, não de artistas e fabricantes. É assim que sempre funcionou, é assim que sempre será.

se der ao povo alguns livros, irão querer mais; se lhes der muitos livros, logo começam a ter ideias e a querer escrever os seus próprios, e então escreverão peças, e peças necessitam de músicas, e logo estarão compondo baladas, canções e então...? Bate com o punho na mesa, irritado com o que considera uma obviedade a qual os mais jovens são incapazes de compreender.? Então haverá algo em comum unindo os habitantes de Salvador aos do Rio de Janeiro, os mineiros das Gerais e os colonos do Sul. Haverá histórias. E o que acontece quando pessoas passam a compartilhar histórias? Descobrem que possuem problemas em comum, dificuldades e anseios comuns, e toda sorte de sentimento inconveniente que as histórias geram, criando o maior perigo de todos: o senso de comunidade. E no momento em que os colonos brasilianos assumirem uma identidade comum, distinta dos portugueses reinóis, haverá dissidências, haverá revoltas.

A sorte, como Érico gosta de repetir, é o que ocorre quando a preparação encontra a oportunidade.

Pessoas como você e eu, que conhecemos o mundo, sabemos que ele tem possibilidades muito maiores do que a cabecinha medieval de gente como Martinho de Melo pode conceber. Mas estamos em posição de mudar alguma coisa? Você está? Eu não estou. E como ?gente como nós? lida com gente assim? Com máscaras. A vida é um baile de máscaras infinito, meu caro. Não é meu verdadeiro eu quem senta à mesa com o embaixador e suporta seus comentários tacanhos. É a máscara. E esse tem sido meu expediente aqui desde o dia em que cheguei a essa cidade, seis anos atrás.

modo, que se julga representar a letra hebraica Shin e possui o sentido de desejar ao outro uma vida longa

É assim que sempre começam, primeiro queimam livros, depois queimam gente!

Com literatura séria é outra coisa. Livro não é pão, não se compra todo dia. Um trabalhador ali ganha uns dez xelins por semana, o que equivale a uns mil e setecentos réis, e sustenta toda sua família com isso. Mas um exemplar de Robinson Crusoé custa cinco xelins (ou oitocentos e noventa réis), e o Tom Jones, que o editor espertalhão dividiu em seis volumes, sai a três xelins cada tomo (ou quinhentos e trinta réis). Assim ou se come ou se lê.

A literatura é, ao final das contas, um passatempo de abastados.

?Comprar? é mera consequência colateral; ?ir às compras? é como ir ao baile ou ao teatro, existe para ver e ser visto.

As placas, vê? Que peculiar.? Confesso que me escapa o que há de tão especial nas placas, sr. Borges? diz Maria.? Percebe que todas possuem o nome das lojas por escrito? Não um peixe indicando a peixaria, ou uma agulha para um linheiro, mas nomes. Letras. Significa que aqui todos sabem ler. Que coisa maravilhosa, uma cidade inteira que saiba ler.

Estavam em promoção na Feira das Vaidades, um título por metade do dobro

? E o que não é malvisto uma dama fazer? A reputação é o primeiro grilhão que se impõe à mulher, querido. ?Se todo homem nasce livre, por que toda mulher nasce uma escrava?? É de Mary Astell, um panfleto que li por aí.

Para ela, as roupas devem refletir três funções: aquecer quem as usa, estabelecer a posição social que se quer passar, e a mais importante, atrair o interesse de quem se deseja atrair o interesse.

?Mas você vive no centro do mundo?, observa Érico. ?O que dizer para quem está nas margens? Como falar da cobertura de confeitos para um escravo que vive de carregar barris de excrementos todo dia até o mar? Me parece cruel falar-lhes de coisas que nunca terão.?

Não há escravos como nas colônias, claro, mas há os assalariados.? Érico não entende o que ele fala. Maria explica que ali os artesãos já não costumam trabalhar mais em suas próprias casas ou oficinas; ?ao invés disso são aglomerados em galpões, subordinados a regras comuns e com horários ditados por um supervisor?. ?Tipo um feitor de fazenda??, sugere Érico. ?Sim, mas sem chicotes.? ?Ainda assim me parece opressivo.? ?É o futuro, querido?, complementa Fribble. ?O que só corrobora minha teoria: se não te permitem sonhar com confortos, mesmo que inatingíveis, de que serve a própria vida? O que será de nós quando formos privados da imaginação?

já conhecera sua cota de figurões, quase todos tão centrados em si próprios que esquecem o mundo ao redor.

Pois que, há cinco anos, Maria foi, como quase toda mulher de sua classe, obrigada pela família a ficar noiva de um homem que mal conhecia, muito mais velho, e com o qual mal trocara algumas palavras. Protestou: disse que só casaria com quem amasse, como nos romances. Seu pai, culpando-se pela leniência de tê-la deixado encher a cabeça com literatura, acusou-a de viver nas nuvens, de pôr em risco o nome familiar, de cometer o maior e o pior dos crimes, que é a desobediência paterna.

Essas moças ricas do interior, quando vêm à cidade procurar casamento, é porque já estão vendendo o leite sem a nata. Vamos, venha que vou te educar nos códigos secretos femininos.

Uma senhora pomposa rodeada de jovens interessados e interesseiros exibe o enorme diamante em forma de octaedro que pende do colar. Há grandes chances de ser uma pedra brasileira? arrancada das Minas Gerais por um escravo, enviada a Lisboa para pagar as dívidas da corte, indo parar nas mãos de algum joalheiro de Haia, que a poliu e incrustou naquele colar, vendendo para algum comerciante inglês, exposta nas lojas da rua Bond até ser enfim adquirida pelo marido, pendendo a rocha ancestral nas carnes murchas da galinha velha.

?Olhe à sua volta, barão. Não duvido que haja entre os aqui presentes uma cota que faça juz à dita nobreza de seus títulos, uma cota moral, como o senhor tão bem expressou. Mas quantos destes homens, em segredo, batem nas mulheres? Quantas destas damas já abandonaram seus bastardos em orfanatos? E quantos destes bastardos não estão aqui, oportunistas que são, à procura de uma viúva rica que os sustente? Covardes, mentirosos, ladrões e trapaceiros de toda sorte, cujas naturezas feias e más estão ocultas pela elegância de suas roupas e pela bela arquitetura deste salão, que no conjunto, é o que lhes confere os ares de nobreza, que lhes dá o verniz de aristocracia.?

?que a virtude se avilta quando se esforça demais para se justificar.?

foram pegos no flagra a cometer os próprios crimes que noutros acusavam, por fim reduzidos à sua real dimensão de chantagistas e hipócritas, a sustentar a máxima de que todo moralista é, no fundo, um reprimido.

Convenhamos que ninguém precisa de religião para agir de modo decente com o próximo. E se precisam é apenas por ilusão de poder: quem crê que, orando, possa ter o seu desejo atendido, alimenta a ideia de que pode controlar o mundo à sua volta e influenciar Deus.

Mas se não é uma ofensa para mim, que me importa o que se passa na noz seca que ela traz no lugar do cérebro?

? Mas há uma palavra na qual todos se reduzem, no final.? E qual seria?? Pó.

Sou um comerciante de livros, e para mim o melhor livro é aquele que vende.

É brasileiro, e se em sua terra natal não confiaria nos conterrâneos nem para pedir as horas, no estrangeiro surge este senso de fraternidade acolhedor.

Eu... eu não sou assim. Não quero ser. Eu sou como uma peça de teatro que nunca termina, sempre interpretando personagens conforme a necessidade, com um medo terrível de não ser convincente o bastante, ou de não saber a hora certa de mudar o personagem. Entende o que falo?

Érico possui um discurso na ponta da língua para homens assim, para momentos como este, mas é tomado por um tédio mortal, por ter que dar explicações a quem nunca estará disposto a compreender nada. Gente como Martinho de Melo quer apenas ouvir o eco de seus próprios pensamentos no vazio de suas ideias.

Que religião é esta que nós inventamos, que ousamos chamar de cristã, mas que se regozija na punição e despreza o perdão e a caridade?

? Quem você pensa que é para falar comigo nestes termos?? Eu sou aquele que faz o trabalho sujo de parasitas como o senhor, para que a sua alma corrupta e podre permaneça com a consciência limpa antes ir para o inferno.

? Garoto, ou você ama o seu país, ou o odeia. Com as leis do Estado, não se negocia. E pelo tom de suas críticas, para mim está bastante óbvio que despreza as tradições de nossa terra.

? Eu não a desprezo, pelo contrário. Só quem ama seu país tenta mudá-lo. É gente como o senhor quem o odeia; mal conseguem ocultar o desprezo profundo que sentem por sua própria gente, e bem estariam dispostos a eliminá-los todos, se não precisassem deles para servi-los. Mas vocês, no que lhes for possível, se dispõem a queimar cada música que não compreendem, cada livro que não pretendem ler, até eliminar tudo o que é dissonante, para reinar sobre cinzas. Eu mesmo me pergunto: o que gente como o senhor ama no seu país? A terra, o ar, o mar? O senhor ama um mapa? O senhor ama uma bandeira? Eles só valem alguma coisa enquanto significarem alguma coisa, e o que eles significam é a própria coisa que o senhor detesta: sua gente.

É incrível as coisas a que nos apegamos, não? É como nas mil e uma noites, sempre há mais uma história para adiar a morte.

Os personagens são sempre a mesma coisa: um herói, uma heroína, um vilão, um casal apaixonado e os confidentes de cada um.

Ela explica que a história se desenvolve quase sempre em três atos: o primeiro para expor os temas, o segundo para o desenvolvimento, e o último para o clímax.

Nem abre te sésamo, nem abracadabra: a mais poderosa palavra mágica é ?dinheiro não é problema?.

?Em Portugal, quando as moças vão fazer seus folguedos nos rios?, explica Maria, ?as amas sempre nos dizem, ?não tomai banho desnudas, meninas, ou virá voando o passaralho e lhes deixará com barriga?. Creio que seja mais fácil do que explicar de onde realmente nascem os bebês.?

O mundo é cruel, lhe dizem. Não, o mundo é indiferente, são as pessoas que decidem serem ou não cruéis.

estes loucos são como pássaros presos em gaiolas com a porta aberta. Por não saberem o que há do lado de fora, ficam a grasnar horrores reais e imaginários de um mundo que desconhecem exceto por pálidos relances, e logo passam a crer que aqueles que estão livres do lado de fora são os responsáveis por sua incapacidade de abandonar a própria prisão.

Eu? Eu sinceramente nunca me preocupei com a questão. Tenho certeza de que, qualquer que seja minha opinião a respeito, não irá alterar a ordem do mundo.

Terá o mundo surgido do ventre de Gaia, como acreditavam os gregos; de cada parte do corpo do gigante Ymir como diziam os antigos nórdicos; ou da palavra de Javé, como crê meu povo? Os hindus sustentam que o universo nunca teve um começo, consistindo de um fluxo contínuo, infinito e eterno, pois Vishnu, protetor de toda a criação, dorme no oceano formado pela serpente Sheshnaga; há tantos deuses quanto povos, e há o Deus único, porém distinto de outros deuses únicos, para cada um que assim o crê. Que apenas uma dentre tantas concepções seja a correta, em detrimento das demais, é impossível: ou todas as crenças são falsas (como crê meu irmão), ou todas são verdadeiras.

De todo modo, a meu ver é assim que se conquista respeito: fazendo o agressor temer a retaliação, fazer com que tema virar alvo do mesmo tipo de agressão que tanto se animou em praticar. Me parece uma realidade triste que a boa vontade que une uma sociedade só funciona com o poder de coerção da força.

?Não quero forçá-lo a nada, e mesmo que quisesse, ele é teimoso demais para tanto?, lamenta Érico. ?Me é uma agonia ver tanto talento se apequenar por receios tolos.?

?A Europa está sempre tentando salvar o mundo de si mesma, e empreende esforços descomunais que inevitavelmente a conduzem à própria ruína; nós brasileiros já vemos a ruína desde o princípio: apenas relaxamos e aproveitamos a viagem.

a razão é sempre a primeira que colapsa.

? Vocês ingleses tratam seus aliados muito mal ? resmunga na saída. ? Se servir de consolo ? sorri Fribble ? tratamos nossos inimigos pior ainda.

reconhecessem com alívio que no amor de um pelo outro encontraram um eixo sobre o qual agora se equilibram
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Cristian Fontoura 17/01/2022

Os incitadores de terramotos
Homens Elegantes é um livro ímpar. É impossível não se deliciar com essa leitura que desperta umas boas risadas e algumas franzidas de testa ao longo dos capítulos que contam a saga flamboyant de Érico Borges-Hall, um herói peculiar para o seu tempo. A ambientação é dada na Londres do século XVIII, onde o luso-brasileiro Érico desembarca para investigar o contrabando de livros eróticos ao Brasil. A partir disso, a trama desemboca em uma série de aventuras do espião, que encontra amizades, inimizades e até um amor para chamar de seu. Entre elitistas, racistas e homofóbicos, há o pior deles: o conde de Bolsonaro, que, além de ser um trambiqueiro, parece estar 100% envolvido na tramoia dos livros picantes enviados às terras brasileiras. Reprimido por conservadores da coroa portuguesa, Érico é um anti-herói gay que encontra em Gonçalo um motivo para amar Londres, uma terra, em primeira instância, mais liberal. O livro é muito bem escrito, com um humor perspicaz que entre uma luta de espada e outra, encontra espaço para tratar de assuntos atuais. Destaque para uma personagem que só se comunica com falas de Madonna e Lady Gaga (a tal Lady Madonna, dona de um recinto onde não há qualquer tipo de preconceito). Enfim, existem n motivos para dizer o quão incrível é este livro... Um clássico contemporâneo.
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Camila(Aetria) 01/05/2020

Homens Elegantes
Brigas, roupas xiques, teatro, drama, romance, um folhetim de 1700 com tudo que tem direito, Homens Elegantes traz tudo isso e um tico a mais. (essa resenha também aparece em vídeo lá no IGTV do blog)

Primeiro. Que novelão, senhoras.

Que. Novelão.

Tem barco, festas, baile de máscaras, cenas escritas como teatro (amor eterno por essa cena!!!), cenas epistolares, drama, romance, casal ótimo, muita trívia fantástica sobre os 1700, críticas à sociedade (aquela vibe bem Brecht de mostrar comportamentos e críticas antigas como forma de criticar o atual), luta de espada, ópera, comida… enfim. Novelão.

Me senti assistindo Os Maias só que sem um plot twist de traumatizar no final.

"Contudo, tal é a confiança casual de seus ares, o olhar calmo e desinteressado, o corpo compacto e firme a andar com uma elegância sinuosa e gingada de pantera, que compensa em sua atitude qualquer falha em suas vestes."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

Eu gostei muito de como o Samir organiza as trívias e as informações que ele traz, é tudo muito orgânico, não tem aquele momento de pausa wikipedia que te deixa querendo pular os trechos. Ele traz os fatos e o que aconteceu incorporando de maneira empolgada em alguns momentos (abraço, narrador) e pela vivência das personagens.

"Ali está um homem “no chifre da moda”, como se diz no Brasil: sobrecasaca e calção de seda rosa claro, babados nos punhos, chapéu bicorne com plumas e um longo bastão de caminhada."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

Érico é uma belezinha de herói, tem os dramalhões da jornada dele, tem os romances, os crushes, a idolatria à honra, eu gostei bastante de acompanhar a evolução dele, desde o começo você já sente por onde ele caminha e já vai se cativando pelas personagens todas, Maria, Armando, Gonçalo, Fribble… todo mundo é muito bem construído e gostoso de acompanhar e ver falar.

"– Prefiro que o senhor seja o que realmente é.
– Ai de mim, senhorita – ele sorri. – Minha especialidade é fingir ser o que não sou."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

O livro é longo, longo o suficiente pra você se sentir acompanhando meses de vida de todos, eu fui lendo com calma, mergulhei como a gente mergulha numa novela mesmo, um capítulo por vez, deu uma cansada de ver vários seguidos? Voltava no dia seguinte com a mesma empolgação de “ai, e agora?”.

Pra mim não foi um livro de sentar e ler de uma vez, talvez pela quarentena, talvez pelo ritmo dele mesmo. E foi ótimo porque a sensação de folhetim foi me acompanhando junto.

"Haverá histórias. E o que acontece quando pessoas passam a compartilhar histórias? Descobrem que possuem problemas em comum, dificuldades e anseios comuns, e toda sorte de sentimento inconveniente que as histórias geram, criando o maior perigo de todos: o senso de comunidade."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

Uma coisa que gosto muito é justamente essa ambientação, lendo um mundo de 1700 com a mente de 2020, por mais que a gente tenha lá uma certa noção sobre a vida nos séculos passados, é sempre uma surpresa ver os idiomas da moda, as mudanças que ainda não haviam ocorrido, as dinâmicas no Brasil, as proibições, o que mudava pra uma vivência que hoje nem reparamos.

"– Confesso que me escapa o que há de tão especial nas placas, sr. Borges – diz Maria.
– Percebe que todas possuem o nome das lojas por escrito? Não um peixe indicando a peixaria, ou uma agulha para um linheiro, mas nomes. Letras. Significa que aqui todos sabem ler. Que coisa maravilhosa, uma cidade inteira que saiba ler."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

E são tantos trechos bons, eu fui marcando um tanto de coisa, um tanto de comentário e crítica que foi tecida lindamente nesse mar de referências e toques sutis.

"Há algo de muito triste naqueles que não têm o dom da leveza. Existem e vivem apenas para cumprir funções. Não são gente, são ferramentas da máquina do mundo."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

Toda boa novela tem momentos bons de folhetim, vejam bem. haha

As batalhas são uma belezura de ler, tem peso, tem impacto, tem a continuidade que algumas vezes são deixadas de lado numa novela pelo tempo, mas que no livro conseguem seguir sem problemas, tem liberdades pra dar paz ao leitor, ao mesmo tempo que mostra as diferenças de realidade, e minha nossa, que edição bonita do ebook! HAHA

Tem vários momentos de cenas simultâneas, nas quais elas são escritas uma ao lado da outra, eu gostei demais demais disso.

"Ele se senta ao seu lado em silêncio, à espera. Um momento se passa entre os dois, até ela encontrar seu tempo.
– Bebi veneno uma vez – diz ela.
– E que gosto tem? – Não era sua intenção fazer piada, é uma curiosidade sincera.
– Oh, meu Deus… – Ela começa a rir. – De todas as perguntas…! Coloquei tanto açúcar que nem lembro! – Os dois riem juntos, e então gargalham."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

Enfim, poderia continuar tecendo elogios a todos esses homens e mulheres elegantes que apareceram nessa história, mas fico por aqui, com toda a recomendação de uma jornada muito boa com o livro do Samir. Fiquei pensando aqui que João do Rio adoraria esse livro haha

Vou terminar apenas com as frases de sabedoria de Gonçalo, um lindo iluminado.

"“Onde a ganância vira fé, a pobreza vira heresia”, concorda Gonçalo."

Homens Elegantes, Samir Machado de Machado

site: http://www.castelodecartas.com.br/2020/04/23/homens-elegantes-ogs-172-quarentena-1/
Thamires de Fátima 02/05/2020minha estante
Esse livro é muito bom ???


Camila(Aetria) 10/05/2020minha estante
Gostei demais, Thamires!!




chuwanning 30/06/2021

ÚNICO E FENOMENAL
Esse livro é daqueles que eu vou levar pra vida. O Samir trouxe uma história com tudo que a gente tem direito: suspense, ação, aventura, cenas de luta, comédia, romance, FOGO NO RABO. Tudo muito bem articulado com uma escrita incrível e super envolvente. Sim, é uma obra grande, de início lenta, mas com uma ambientação bem feita e uma pesquisa de fundo muito boa. Sem dúvida, não é apenas mais uma obra LGBTQIAP+.

Pontuo aqui algumas coisas peculiares sobre HE:
¬ o uso de aspas para se referir aos diálogos em outras línguas, enquanto o nosso travessão permanece dos diálogos em português;
¬ a sensibilidade de retratar uma história onde os chamados "fanchonos" têm certa desenvoltura para se expressarem, ainda que não abertamente, e então o vislumbre disso sendo atacado pelo pensamento conservador que, sabemos, culminou em políticas anti-LGTBQIAP+ e pessoas sendo presas e mortas por serem quem são;
¬ a cena do conde Bolsonaro apanhando no carteado para um fanchono de salto;
¬ a palavra FANCHONO que eu nunca mais vou conseguir parar de usar;
¬ o fato do Gonçalo, como um todo, ser um personagem de personalidade própria, que não se molda ao que o Érico, meio esnobe e arrogante, quer ou gosta, e sempre se impõe quanto aos próprios gostos, afazeres, caminhos, etc.;
¬ as cenas de amor entre Gon e Érico, eu meio que achei algumas fofas (?);
¬ a afetividade dos fanchonos uns com os outros, Fribble, Armando, Lady Madonna, e a própria Maria, aliada, extremamente cativante do começo ao fim

Existem certos pontos do livro em que o ritmo fica bem lento. Descrições prolongadas de coisas que não agregam muito, na verdade. Também fiquei confuse sobre quanto tempo estava se passando em determinado momento. Mas logo a partir dos 50% as coisas engatam de um jeito bom e você vicia naquilo.

Gonçalo e Érico, reizinhos. Maria, DONA.

Favoritadíssimo.
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