Resenhas - A MORENINHA

Lílian 09/04/2024

Releitura, mas em áudio.
Esse foi o primeiro romance que li na vida. Eu tinha 8 anos e lembro de ter me sentido tão, tão, tão fodona. Entrei num mundo, literário e real, muito mais complexo do que eu nem chegava a imaginar que existia e a partir de então essa porta nunca mais foi fechada.
Por causa de A Moreninha, até hoje eu digo "Dominus Tecum" quando alguém espirra e é uma piada interna tão interna que é só minha. Rsrs
Ouvi o audiolivro hoje e foi uma sensação familiar, mas também estranha. Claro que, naquela época, eu não sabia nada sobre a formação do que viria a se tornar a nação brasileira. E, quando ouvi trechos como o que descrevem a cena de Carolina colocando suas "mãozinhas delicadas" na água escaldante para fazer um pedilúvio numa ama no lugar da "'escrava' com suas mãos brutas feitas para esse tipo de trabalho", doeu de um jeito muito específico. Porque aquela menina negra de 8 anos cresceu lendo esses livros e fazendo um exercício mental cruel de se ver em Carolina, sendo que eu estava representada nos escravizados.
Não estou nem querendo problematizar. A realidade de Joaquim Manoel de Macedo era a escravidão e não acho válido recorrer a anacronismos e nem tentar deslocar o autor do seu tempo histórico. Por isso continuo amando o livro e classificando com as cinco estrelas. Ainda é uma história que me cativa muito.
Fato é que, naquele meu início como leitora, lá na infância, a prateleira que eu ataquei foi a dos clássicos da literatura brasileira, especialmente as histórias que se passavam na corte e as indianistas. E eu pensava: "Queria ter vivido nessa época!". Mas, enquanto eu ia crescendo e associando com o que ia aprendendo na escola, quando eu me transportava para dentro das tramas e sentia vontade de viver aquelas histórias, irremediavelmente eu me tocava que, se eu tivesse vivido naquela época, eu e a minha família seríamos escravizados.