Lucio 25/01/2019
A Biografia Intelectual de Lewis
Essa é uma biografia mais com cara de biografia intelectual. Mas Lewis não tinha mesmo pretensão de fazer uma biografia convencional. Seu tema, o da Alegria, era o dirigente de toda a obra. Os detalhes, na medida em que pode, estão vinculados com ela. Ela é basicamente o desfrute da contemplação do Desejado por meio de seus reflexos no mundo, nas imagens, nas coisas que, nas individualidades, apontam para a realidade de algo exterior e distinto de si e de tudo o mais.
Lewis conta de sua descoberta dela, de suas experiências que o levaram a senti-la, depois de sua equivocada busca, tomando-a como objeto contemplado ao invés de desfrutado. Fala disso dando um relato histórico do desenvolvimento de suas ideias. Do cristianismo mal elaborado, que o levou a ter ojeriza de uma versão estranha e equivocada da piedade, ele vai para o ocultismo até cair em pleno materialismo para, depois, ir para o idealismo hegeliano, depois um berkeleyanismo deísta, e finalmente teísmo e cristianismo.
Durante esse percurso, conta sobre seus temores, anseios e peculiaridades de personalidade que o tornavam mais ou menos disposto a adotar determinadas crenças, ou que o motivavam a elaborar, a teorizar, dando claras amostrar de como a afetação dirige a teorização.
Lewis conta de autores e amigos (cristãos ou não cristãos) que foram minando seu materialismo, idealismo e, finalmente, o mero teísmo. Destaca-se, talvez, as referências a Bergson, Chesterton, Tolkien, Barfield, MacDonald, Herbert estão entre os nomes certamente muito marcantes.
Como o livro tinha por responder à encomenda de como ele saiu do ateísmo, vale a pena observar quais eram as coisas que o levaram a ele. Basicamente, Lewis ficou chocado ao lidar com o pluralismo religioso e o argumento de que o cristianismo era tal como um mito moderno. Além disso, suas rudimentares e ascéticas visões sobre a oração acabaram oprimindo-o a ponto dele desejar muito que o cristianismo fosse falso. Parece-nos que, essencialmente, esses foram os dois motores.
Para sair do materialismo, Lewis conversou com um amigo que lhe fez críticas transcendentais em relação à lógica, moral e estética, e logo ele foi para o idealismo. Doravante, vê o conceito do Absoluto como de pouco ou nenhum proveito, além de enfrentar a noção de que deveria haver um desdobramento ético de uma perspectiva de mundo, e isso o levou a ver-se como mal, necessitado de um Deus presente. Por fim, como um pluralista, já depois de teísta, ele foi levado a enxergar no cristianismo como a religião que continha todas as verdades contidas nas outras que eram preparação para ele ou sua vulgarização, e, além disso, ainda possuía um reclame histórico que não havia em lugar algum.
Esta é uma leitura muito tranquila de um livro bem escrito, com toda a habilidade literária peculiar a Lewis. Isso pode enganar. Pode-se não perceber a filosofia profunda e complexa por detrás de tudo isso. Portanto, julgo que teria pouco proveito para quem não está familiarizado pouco mais que o mínimo nas questões filosóficas. Há muitas referências a filósofos, passando suas ideias de forma rápida, presumindo o conhecimento do leitor. Mas para qualquer cristão com compreensão desses temas e familiarizado com o tema da busca da felicidade, o livro é indispensável! Certamente, enriquecedora. Comete alguns equívocos - apontados no histórico de leitura -, em nossa opinião, mas que não comprometem a obra como um todo. Uma obra prima!