jota 20/01/2016O avesso do avesso...Li vários livros de Roth, mas nenhum como este O Avesso da Vida, de estrutura bastante complexa. Ou sofisticada, como escreveu um crítico. Com cerca de 340 páginas parece muito mais longo do que realmente é. Está dividido em cinco enormes capítulos e no final traz um glossário de termos judaicos para consulta do leitor. Um livro um tanto difícil de ser resumido ou comentado em poucos parágrafos.
Se o avesso da vida for a morte, já temos um importante personagem morrendo no início do capítulo um, conforme consta da sinopse da Companhia das Letras. Mas o dentista Henry Zuckerman está morto apenas em termos: ele reaparece num outro capítulo vivinho da silva na Cisjordânia, depois de largar a mulher, os filhos, a profissão e as amantes. Quer se tornar um verdadeiro judeu, seja lá o que isso for.
Mais à frente, num outro capítulo, Henry não apenas permanece vivo em Israel como vai contar a história da morte do personagem principal do livro, seu irmão, o escritor Nathan Zuckerman, que nos falava justamente da morte de Henry depois de uma arriscada cirurgia cardíaca, do mesmo modo que ele morre agora.
E as reviravoltas que ocorrem não são apenas essas. Há outras, distribuídas pelos tais imensos capítulos da obra. Como diz a editora brasileira do livro: “(...) cada capítulo contradiz o anterior, como se os personagens estivessem o tempo todo tentados a viver uma existência alternativa, capaz de reverter o destino.” Ou seja, interferir nos acontecimentos, comandá-los...
E vivos que morrem e depois voltam a viver, judaísmo, cristianismo, Suíça, Israel, Inglaterra, Newark (EUA), literatura, relacionamentos, preconceitos (especialmente anti-semitismo), paternidade e muita coisa mais, neste livro de tudo tem um pouco. Ou muito, depende, como as intermináveis referências (discussões) à questão judaica em seus diferentes aspectos, senão não seria um livro de Philip Roth.
E tem sexo, logicamente, senão também não seria um livro de Philip Roth, vale repetir. Não tem tanto sexo assim nem tão variado como em O Teatro de Sabbath ou O Complexo de Portnoy, por exemplo. Mas é por conta de sexo que indiretamente um personagem acaba morrendo. Morrendo mesmo? Afinal, o avesso da vida pode ser não apenas a morte, também pode ser a ficção, não? E em se falando de ficção, Philip Roth é mestre...
Lido entre 11 e 19/01/2016.