Nico 14/04/2018
Resenha do Blog "O Reino de Sellure"
Aika - A Canção dos Cinco é o primeiro livro de uma história que começou no Wattpad. A autora recebeu um ótimo feedback do público e investiu nesse sonho, na data em que essa resenha foi publicada Aika já contava com mais de 70 mil acessos. Apesar de estar disponível online, muitos leitores se interessaram na compra do livro físico, afinal, quem não se apaixona por aquele cheiro de papel e livro novo?
Desde o momento em que conheci Aika eu senti que seria algo no estilo que eu gosto. Há tempos eu procurava uma fantasia que não se prendesse em uma mitologia complexa, que não usasse nomes retirados direto do "gerador de nomes fantásticos" e que não fizesse uso de raças que já conhecemos bem.
Eu queria mergulhar de cabeça em um universo novo, há tempos eu não ficava tão curioso para saber mais de um, mas Gattai me conquistou. É como ouvir todos seus amigos falarem daquele anime novo que só você não assistiu.
A premissa é, no mínimo, interessante para qualquer fã de mangás, HQs e literatura fantástica — "Se seu herói e o mundo dele existissem, se tal mundo estivesse correndo um grande perigo, você lutaria com ele e por ele? Você lutaria para salvá-lo?"
Certa vez, li em uma postagem que um bom mangá shonen precisa:
1. Um Mundo em que o leitor possa entrar facilmente;
2. Uma razão clara e aceitável pela qual o personagem principal luta;
3. Uma batalha e ataques legais que sejam fáceis de se compreender o que está acontecendo;
4. Um inimigo tão carismático ou ainda mais carismático que o protagonista;
5. Se possível, é bom que tenha uma heroína bonita;
6. Cenas engraçadas e outras dramáticas.
A autora nos apresenta cada um desses elementos na medida certa. No começo, somos apresentados à rotina de Aika Akatsuki dos Anjos e sua vida no Japão. Ela é natural do Rio de Janeiro e sabemos como os japoneses não enxergam os "gaijin" com bons olhos. Estudei a vida toda em uma escola com 80% de japoneses, e eles se fecham em pequenos grupos. A ideia de formar grupos é natural do ser humano desde o tempo das cavernas, mas vemos que para uma garota morena que tenta a sorte na terra do sol nascente isso pode ser um verdadeiro desafio. Aika chega a sofrer bullying por sua cor de pele, por um instante achei que houve até certo exagero, mas trata-se de uma etapa importante para formar a personalidade da personagem e seu laço com o mundo real e o fictício. Há poucos fios que a prendem à realidade da terra — se Aika tivesse a oportunidade, ela com certeza viveria no mundo de seus mangás e animes e esqueceria todo o resto.
Sou descendente de japoneses e também curto muito mangás e animes. Essas histórias nos permitem mergulhar num mundo fictício, existe uma progressão da jornada que é a maior responsável por nos fazer apegar-se tanto a eles. Muitos mangás duraram mais de 10 anos — alguns como One Piece ainda estão em andamento —, então não é de se impressionar que uma geração inteira tenha crescido com eles, essa histórias surpreenderam leitores no mundo todo a cada capítulo. A autora criou um mangá tão bem construído dentro de seu próprio universo que é como se ele também existisse na vida real.
Existem muitas notas de rodapé para explicar a origem de palavras da cultura japonesa, cada detalhe é bem explorado de forma que não pareça que a autora simplesmente escolheu o Japão por gostar dele sem conhecer nada do país. É preciso muito estudo para nos aprofundarmos nos assuntos que não conhecemos, de modo a tornar a experiência mais imersiva.
A história se aprofunda conforme a aventura avança. Aika encontra uma forma de viajar para Gattai, o mesmo mundo que seu herói, e ela se conecta a ele de tal forma que sua vida nunca mais será a mesma. No começo, sentimos o mesmo que a protagonista e é difícil absorver tanta informação, mas Aika serve como ponte entre os dois mundos — autor e leitor.
Por vezes achei engraçado que narrativa é carregada de indignação em certos momentos, são claras as alfinetas ao mercado de mangás no Japão e à grandes produções que exageram no fanservice, colocando as mulheres como objetos. Há também a ideia de uma "origem pura", como o fato da protagonista ser mestiça e vista com maus olhos pela maioria da população japonesa, o que passa uma mensagem de luta contra esse preconceito tanto em Gattai quanto na terra.
A espiritualidade é outro fator muito forte no livro. Quando falamos de mortos e espíritos, trata-se de uma crença comum na cultura japonesa, tal ideia foi demonstrada de maneira notável, a autora explorou o que pode ser compreendido como a religião de Gattai. Deuses, espiritualidade, visões e vida pós a morte fazem parte da fantasia do livro, explorada com muito cuidado em cada palavra de forma comovente e concedível.
Eu diria que a autora é autêntica, ela faz as coisas do seu jeito. Há quem critique alguns detalhes, eu particularmente não sou fã de "PUF! BOOOOM! WAAAAAAH!", mas no contexto dessa obra funcionou, porque é como se fosse um mangá carregado de onomatopeias exageradas. Quanto à revisão, percebi alguns erros de digitação que poderiam facilmente ser consertados numa futura revisão. Vi também muita gente reclamar do uso excessivo de exclamações como alguns leitores citaram, mas, falando sério, nenhum desses problemas afetam em nada a qualidade geral da obra.
Aika é uma das obras nacionais de fantasia mais incríveis que já tive o prazer de conhecer — e por completo acaso. Esse livro representa a história de uma garota que teve um sonho de infância e lutou para torná-lo real. Com Aika você ri, se diverte, sente raiva, ainda recebe uma pequena aula sobre a cultura nipônica e se diverte com o universo às vezes tão excêntrico dos fãs de mangá.
Me emocionei como há tempos não acontecia, um único livro conseguiu causar uma enxurrada de emoções. A qualidade da obra é surpreendente, mérito da própria autora em publicar um livro independente num país onde tudo relacionado à cultura é mais difícil. O conjunto como um todo, desde a capa, ilustrações, a escolha das fontes e diagramação é sem sombra de dúvidas um dos melhores trabalhos gráficos que já vi numa publicação independente e deixa muita obra famosa no chinelo.
Aika me faz lembrar porque sou fã de mangás, porque me encanto com os personagens, com cenas de batalha explosivas e sentimentos extrapolados. Como já cheguei a mencionar, não há ninguém melhor no mundo para fazer a divulgação de sua obra do que o próprio autor.
"O verdadeiro amor não prende. O verdadeiro amor liberta."
site: http://reinodesellure.blogspot.com.br/2017/08/aika-cancao-dos-cinco-resenha.html