O Mythos

O Mythos M.R.Terci




Resenhas - O Mythos


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Francine 17/12/2016

Agora, O Mythos voltou. Não, ele nunca foi embora.
Há enredos inovadores, ousados e envolventes. Mas nunca conheci nenhum que sequer se aproximasse desse. O Mythos – O fim do mundo é logo ali está além de qualquer imaginação, com exceção da criatividade singular de seu autor.

Nosso protagonista não é jovem. Sua experiência já se revela em um corpo físico cansado, mas duro na queda. Pastore é seu sobrenome, vulgarmente chamado de Pastor. Logo no início percebemos que o povo o odeia, a polícia também. Ele acaba de ser detido e prestará depoimento. Está sendo acusado de ser o sanguinário Homem de Palha, assassino que gosta de estripar suas vítimas.

Pastore não é santo, logo notamos.
Mas ele também não costuma levar crédito pelo que não fez.

Ele não é o Homem de Palha. O problema é que sua ficha está longe de ser limpa. E, claro, ele é um poço de informação para a polícia. Pastore é um ex-militar que atua, agora, como detetive. Mas nem tudo o que diz faz sentido.

Calma, eu explico: Pastore carrega um dom (ou talvez uma maldição). Ele vê fantasmas. Os espíritos descarnados não são belos, tampouco permanecem eloquentes quando presos no mundo dos vivos. Logo, Pastore leva uma vida de grande dificuldade.

Com esse dom, resolve casos complexos. Igualmente, no entanto, acaba por se envolver em situações bizarras. E isso nos leva ao enredo de O Mythos.

O crime...
Em Taubaté, mais de quarenta crianças desapareceram numa excursão ao museu Monteiro Lobato.

O sequestro...
A jovem filha de um importante embaixador foi sequestrada.

O mistério...
Aparições estranhas e mortes violentas estão ocorrendo.

O mal...
Eles, eles estão vindo.
Eles vêm para assumir o lugar que lhes pertence.
Eles estão irritados e muito famintos por almas e devotos.
Eles sentem ódio porque nós (você, eu, todos) ousamos esquecê-los.
Eles são os Deuses Brasileiros.

Essa terra que agora pisamos era Deles muito antes de o cristianismo ou qualquer outra religião influenciar nossa cultura. Nosso povo ancestral os idolatrava e respeitava antes de ser subjugado e catequizado. E, assim, os Deuses Brasileiros silenciaram, adormeceram, mantiveram-se à espera.

Agora, O Mythos voltou. Não, ele nunca foi embora. Através da literatura, manteve-se vivo no imaginário do povo. Tornou-se uma "lenda", um "conto infantil". Nós reduzimos sua importância às imagens míticas do Saci, Boitatá, Cuca, Iara... Nós rimos Deles, brincamos com suas aparências e criamos cantigas com seus nomes.

"Nana, neném, que a Cuca vem pegar..."
Nunca mais cantarei isso na vida!

M. R. Terci ousou trazer elementos de Monteiro Lobato numa releitura provocativa, capaz de nos fazer questionar aspectos antropológicos da nossa cultura. Seu personagem, Pastore, é um dos melhores protagonistas que já conheci. Seu dom de ver fantasmas o destaca, claro, mas até mesmo os conceitos de morte e pós-morte retratados pelo autor foram completamente diferentes do senso comum. Isso o faz narrar os acontecimentos com humor negro, uma dose de realismo irônico e um toque de solidão.

O contexto e seu desenvolvimento são alucinantes. A narrativa é em primeira pessoa, intercalando-se entre presente e passado. Vamos entendendo aos poucos o que levou Pastore àquela delegacia, àquele depoimento, àquela situação na qual é odiado pelos policiais e pela comunidade. Por que Pastore se tornou o principal suspeito de crimes tão hediondos?

A descoberta impacta, porque (CARAMBA) não é possível prever nada.
Não posso deixar de comentar que existe, além de toda a criatividade singular, uma característica que me cativou em O Mythos: o empoderamento feminino. Há duas mulheres fortes que enfrentam as circunstâncias junto com Pastore, e há duas mulheres fortes que atuam como vilãs. Gostei demais disso! Outro ponto alto é o zelo em apresentar nossas tradições religiosas de raiz: a umbanda e o candomblé.

⇒ O enredo intrincado e complexo não é por acaso. O Mythos surgiu, originalmente, como um roteiro escrito especialmente para ser desenvolvido em uma minissérie! Sob os cuidados do diretor Janderson Geison, os episódios serão produzidos pela Estrada films. No próximo ano, teremos novidades!

De tudo o que já li, O Mythos ingressou para os meus favoritos com louvor e mérito que, com certeza, não serão dedicados a outra obra tão cedo. Traz um enredo primoroso, que valoriza a nossa cultura literária e religiosa. Monteiro Lobado nos é apresentado sob um ponto de vista completamente inesperado. Vale a pena conferir!

Leitura mais que recomendada! Mesmo para quem não gosta do gênero horror, essa é uma dica literária que deveria ser considerada.

Resenha publicada no blog My Queen Side:

site: http://www.myqueenside.com.br/2016/12/resenha-154-o-mythos-o-fim-do-mundo-e.html
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Tauami 03/12/2016

Para o mundo acabar, basta pensar
“Nunca no mundo uma bala matou uma ideia”. Quando Monteiro Lobato escreveu essas palavras ele talvez nunca imaginaria o peso que elas possuem. Ideias transpassam o tempo, o espaço e adquirem vida própria uma vez que foram lançadas no mundo. Sabendo disso, M. R. Terci olhou para a mitologia infantil do próprio Lobato e viu nela algo guardado. Algo antigo e negligenciado, que passou despercebido por nossos olhos todos esses anos. Uma ideia grotesca e, devido ao realismo da própria, assustadora. Essa ancestralidade monstruosa, que antes jazia adormecida, é revelada no seu mais alto grau de insanidade através das páginas de O Mythos: O fim do Mundo é logo ali, prometendo pesadelos terríveis àqueles que se aventurarem por elas.

Quarenta e quatro crianças desaparecem em uma manhã de segunda-feira enquanto faziam uma excursão no museu Monteiro Lobato, em Taubaté. Vassilissa Pushkin, filha adolescente de um embaixador russo, também some sem deixar vestígio além de uma caixa repleta de palha. Casos, aparentemente, sem ligação alguma, estão conectados de um modo macabro a um antigo livro esquecido pelo tempo e pelos vivos. Caberá a Pastor, um ex-militar flagelado pela morte da mulher e da filha, tentar resolver o mistério que os conectam. Portas para outros planos devem ser abertas sem jamais conseguirem ser fechadas novamente. O fim do mundo é logo ali e ele nos aguarda.

Existem vários personagens na trama que mereceriam detalhada leitura e um delicado destrinchar ao serem expostos. Entretanto, nenhum deles consegue alcançar a profundidade e a importância que Pastor tem. Além de ser o protagonista da história, ele também se incube de narrar os percursos que seguiremos, através das páginas que lemos.

O humor negro de quem não tem mais nada a perder nesta vida, dado em cada fala, em cada pensamento, em cada ação que Pastor toma, nos aproxima do personagem. Ele olha para o mundo como alguém que espera a morte em cada esquina. É quase como se ele a desejasse. Isso, para a construção do personagem, foi essencial, pois o tom fatalista dos pensamentos que ele possui ganha um outro peso. As observações que Pastor faz a respeito do mundo, que poderiam ser vistas apenas como terríveis visões de um futuro sem esperança, ganham uma ironia incisiva. Não há como passar incólume pelos comentários afiados de Pastor. Algo será sentido, seja desprezo ou simpatia.

A inteligência do personagem, refletida nos seus devaneios, nos afoga no oceano negro que é a realidade. O niilismo é uma constante nesse novo mundo. O que anuncia os dizeres do nosso anti-herói é a incapacidade da humanidade em face a criaturas tão antigas quanto o tempo. A ironia fatalista que Terci se utiliza para caracterizar Pastor ressoa com precisão nos dizeres lobatianos que nos recepcionaram à leitura. As ideias são eternas, uma vez criadas elas se tornam impassíveis de serem feridas ou dissolvidas com o tempo.

Os monstros de O Mythos se comportam como ideias e a luta contra as mesmas se anuncia logo em seu início como fugaz. Como exemplo disso, temos Boitatá. Em certo ponto da narrativa, Pastor e o grupo que com ele se encontra não tem outra opção senão a de “se esconderem” da criatura. Segundo o livro maldito que desgraçou o destino do protagonista, a única forma de se fazer isso é fechando os olhos e prendendo a respiração, causando uma dispersão do pensar. A concentração no corpo move a mente para longe do enfrentamento com a monstruosidade que os persegue e passa a residir no presente físico, fazendo desaparecer a “ideia” de Boitatá. Aqueles que não conseguem fazer isso, perecem em chamas.

Os capítulos funcionam como engrenagens perfeitamente alinhadas que dão vida a um compasso frenético. Não há como chegar ao final de qualquer uma das partes que compõe o livro sem se sentir agarrado no pescoço pela necessidade de avançar a leitura. O tempo escasso que nosso ex-militar tem para poder resolver toda a urgência que se apresenta para ele, dá uma grande velocidade ao andamento das ações.

Cada tiroteio, cada explosão, cada busca desesperada contida na trama traz consigo um aumento dos batimentos cardíacos ao leitor. Lufadas de ar, vindas da respiração acelerada, só não são mais velozes que o desejo dos olhos em encontrar o fechamento de todas as situações clímax finamente elaboradas por Terci, e isso ocorre também em cenas que parecem banais, como a entrada das personagens em um bar ou em um beco. TUDO no livro é repleto de um sentimento de urgência muito expressivo.

A movimentação de Terci nesta obra talvez seja a mais intensa dos livros do autor que li. Os saltos entre o presente e o passado da narrativa muitas vezes acontecem de súbito e isso acaba exigindo muito mais a atenção do leitor. O complexo quebra-cabeça que é a cronologia da trama vai tomando forma aos poucos. Os dados da história nos são dados lentamente para que possamos montar lentamente o bizarro mosaico. Essa característica incorpora na história uma cinematografia muito evidente. Obviamente, isso decorre por estarmos falando de uma obra que se transformará em uma série televisiva, dirigida por Janderson Geison.

Outra grande culpada do rápido arremate que O Mythos causa no leitor é a construção dos cenários. A Cidade Baixa, local onde maior parte da trama se passa, surge cinzenta, nebulosa e vívida, podendo, inclusive, ser considerada uma personagem. A aclimatação é primorosa em todos os cenários. Quase podemos sentir uma névoa tomando conta do ambiente onde sentamos para ler o livro, tornando tudo mais denso e lúgubre.

A comparação mais gritante que surge é com Lovecraft. O modo distorcido com que a mitologia brasileira e lobatiana se relacionam causam um terror muito similar ao cosmicismo lovecraftiano. O ser humano tem um lugar tão insignificante no universo que está fadado ao enlouquecimento quando se depara com aquilo que sua limitada mente não é capaz de entender.

O Mythos: O Fim do Mundo é logo ali é a apoteose dos escritos do criador de Tebraria. Sendo um livro digno de aplausos, ele também se destaca pela linguagem menos rebuscada e mais direta, sendo capaz de passar sua mensagem não a tornando hermética. É obrigação de todo leitor mais exigente se sentar diante desta obra e degustar deste que, na minha opinião, é o melhor livro de Terci.

Ficha Técnica:

O Mythos: O Fim do Mundo é logo ali
M.R. Terci
2016

site: https://101horrormovies.com
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Bia 10/10/2016

Resenha publicada no blog Lua Literária
A melhor parte em ser blogueira é o privilégio do contato direto com os autores. Só o fato de você trocar meia dúzia de palavras com a pessoa que foi responsável em te provocar algum tipo de sentimento, é algo inexplicável.
Eu tinha uma imagem muito diferente de escritores. Não sabia que poderiam ser tão humanos. E ao constatar essa humanidade, confesso que alguns perderam essa facilidade de provocar fascinação em mim.
Outros, com o contato frequente, se mostraram mais fantásticos e menos humanos, e com isso, a cada nova história; conseguem ganhar meu total fascínio enquanto leitora. Um desses autores é a figurinha repetida do blog, M R Terci.
Sei que é o nome mais citado aqui e a explicação para tantas menções ao autor se deve ao fato de eu ser fã das suas produções literárias. Posso jurar para qualquer pessoa que, quando leio uma nova obra, fico na expectativa de não gostar, de trazer uma crítica negativa só para surpreender meus leitores. Adianto que ainda não será dessa vez.
Já faz um tempinho que o autor vem divulgando um novo trabalho nas redes sociais. Esclareceu que estava trabalhando na escrita de um roteiro para a produção de uma minissérie televisiva, dirigida por Janderson Geison. Fiquei muito curiosa, meu lado fã gritava para que eu mandasse mil e uma mensagens implorando ao autor para que me enviasse detalhes desse projeto. Meu lado blogueira ética pedia para que respeitasse seu sigilo, e aguardasse mais informações.
Não sei como consegui controlar esse lado fã que é tão maluco, mas consegui. E um belo dia, sem pedir ou mandar aquelas indiretas no feed de notícias, Terci enviou o roteiro para que pudesse ler.
Leitores, eu agradeci formalmente, fingindo achar tudo aquilo muito normal, porém meu coração estava aos pulos, fiz a dança da vitória e quando estava prestes a contar para o mundo inteiro, o autor pediu sigilo. E recentemente, com o respaldo do Janderson, ele autorizou que a resenha fosse ao ar.
E hoje é sobre essa obra que irei falar. Queria que fosse em vídeo, para que vocês pudessem ver toda minha empolgação, porém não tenho uma voz legal, então vamos ficar na escrita mesmo.
Lunáticos e lunáticas, a resenha é exclusiva. Sintam-se honrados, pois estão sendo os primeiros a saber mais sobre O Mythos. Tranquem as portas e as janelas, que o fim do mundo está logo ali.
Ao contrário das demais obras que já li do autor, estava completamente no escuro. Não sabia nada sobre o enredo, nem mesmo o nome dos personagens, e não tinha ninguém para conversar a respeito.
O enredo se inicia com a prisão do personagem Pastore. O clima desde a primeira linha já é tenso. Os policiais demonstram repudiá-lo, a população se encontra completamente revoltada com esse cara. E assim sendo, desde a primeira linha, somos tomados pela curiosidade em saber o motivo de sua prisão, e entender o que homem fez para promover tanto ódio entre as pessoas.
"Esse olhar de homem morto machuca mais que as algemas apertadas que ferem meus pulsos."
Pastore é o personagem principal. Ex-militar, atua como detetive particular. Sua esposa e filha morreram num acidente de carro. Sua ficha criminal é mais suja que "pau de galinheiro".
Na sala de interrogatório, junto ao delegado Erval e ao inspetor Carijó, o leitor terá acesso exclusivo ao depoimento de Pastore, acusado de ser o temível Homem de Palha, assim chamado pelos jornais.
"O fim do mundo começa no homem.
E foi com um homem que começou."
Homem de palha é um assassino em série que sequestra suas vítimas e após dois dias envia suas vísceras aos familiares, devolvendo os cadáveres recheados de palhas. O mais revoltante, é que entre suas vítimas estão crianças.
A medida que Pastore relata os fatos, somos levados a uma trama recheada de suspense, terror e fantasia. E fica difícil concluir se ele é louco, herói ou psicopata.
"Ele e todos nessa sala estão mortos, mas isso pode estar acontecendo apenas na minha cabeça."
Um dos primeiros casos que é abordado no interrogatório, é sobre o desaparecimento de 44 crianças que estavam em excursão para o museu Monteiro Lobato em Taubaté. O veículo nunca chegou, o motorista foi encontrado morto e a professora e as crianças foram levadas não se sabe por quem. Há indícios que colocam Pastore na cena do crime.
Em seguida, nos é contado que Pastore foi contratado por um embaixador russo para procurar sua filha que desaparecera.
Sendo o cara um detetivinho comum, por que uma figura tão poderosa quanto um embaixador russo, que tem uma equipe fortemente treinada, o contrataria para buscar sua filha?
A medida que as páginas correm, o leitor se prende numa teia fabulosa, onde o medo é sua única companhia. Tudo é surreal, você não sabe em quê acreditar, e de repente percebe que o fim do mundo está mais perto do que imagina.
"Algumas profecias nem sempre aparentam acontecer, mesmo quando acontecem."
Para início de conversa, se você é fã de Monteiro Lobato precisa saber que essa obra tem uma relação muito intensa com o autor. Terci introduziu características Lobatianas no enredo, e ao ler, irá se sentir muito familiarizado com alguns personagens. Mas tome cuidado, não se engane pensando que vai encontrar uma releitura dark da turma do Sítio do Picapau Amarelo. Os nomes e algumas características de personagens conhecidos de Monteiro Lobato foram usados por Terci em seus próprios personagens.
Cresci com as histórias de Lobato, assim quando surgia um personagem que eu conseguia relacionar com os do sítio, ficava extasiada. Foi mágico! Senti que estava num jogo de enigmas, onde precisava saber de quem Terci estava falando. O autor nos traz uma história inédita, e pude concluir que a relação com aquilo que já conhecia de Lobato, me dava mais uma sensação de dejavu do que de qualquer outra coisa. Confesso que no início, quando percebi o que tinha em mãos, achei que seria difícil acreditar no que o autor mostraria, já que são nomes conhecidos, que imediatamente o cérebro processa e dá vida ao personagem que você assistiu ou viu uma imagem qualquer. Grande erro, é preciso lembrar que os personagens de Terci são únicos. Quando ele me jogava um nome, como por exemplo Quindim, eu até lembrava do rinoceronte do sítio, mas ao conhecer aquele que ele criou, a minha imaginação projetava o que o autor queria.
"A palavra, envelhecida pelas eras, só precisa de sangue para se fazer ouvir."
Na obra temos também o folclore nacional muito enraizado. São crenças e figuras muito conhecidas pelo brasileiro. Sou fascinada pelo folclore, adoro livros que abordam a temática e amo ouvir estórias a respeito. Nascida e criada no interior de São Paulo, confesso sem nenhuma vergonha que acreditava em muitas lendas folclóricas.
Provocar medo no leitor com elementos tão conhecidos, não é tarefa fácil. Eu não imaginei que a Pisadeira pudesse me causar tanto pavor sob a perspectiva de Terci. Ele manteve tudo aquilo que um dia nos foi contado a respeito dessas criaturas folclóricas, porém sem deixar de lado sua essência.
"O medo do homem morto não é igual ao medo do vivo. O vivo presume, ao passo que o morto sabe."
Assim sendo, a característica do autor em criar personagens bem como enredos únicos e originais, está presente mesmo com a participação de ícones do folclore nacional.
Ainda falando sobre personagens, preciso destacar a presença mais constante da figura feminina na obra. Desta vez, o autor trouxe uma personagem mulher empoderada, que tem uma função totalmente necessária na trama.
Se na infância Monteiro Lobato me encantou com personagens tão fantásticos, hoje na vida adulta M R Terci me arrebatou com um enredo tão incrivelmente rico e fascinante. Nunca li nada igual, é impossível prever o desenrolar.
Geralmente, quando leio vários livros de um mesmo autor, em um curto intervalo de tempo, começo a prever os acontecimentos do enredo. Esse fato não acontece com Terci, cada trama tem sua própria exclusividade.
Eu não sei como explicar o que é ler O Mythos. A obra é capaz de prender, encantar, amedrontar e fazer com o que o leitor se apaixone.
A viagem é mágica e perturbadora ao mesmo tempo. Os dizeres de Pastore são tão difíceis de serem digeridos; ora, afinal sou uma adulta e não deveria ter tempo para dar atenção a tantas besteiras. Seria tão prático acreditar em sua culpa e ponto final, pois tudo leva a crer que ele é um louco, psicopata. Porém, Pastore despertou alguma coisa dentro de mim, e foi muito fácil dar vida ao que ele dizia, como se eu estivesse ali, vivenciando tudo. E fiquei na dúvida: seria ele louco ou herói?
"Ninguém que voltou dos mortos teve vida longa. Nem o próprio Cristo ficou muito tempo. Aceite isso. Você não estará sozinho."
Todo leitor tem um livro xodó, aquele favorito de todos os tempos. Macunaíma é um livro que, para mim, trouxe uma visão bem diferente da especificada pela maioria dos leitores. A mistura do folclore com a comédia e até mesmo com a realidade infeliz do brasileiro, provocou-me risos e encantamento. A escrita diferente de Mário de Andrade, que causou estranheza para muitos, foi prazerosa pra mim. Fazer gracejos com as crendices foi algo inovador. Terci se demonstra tão inovador quanto Andrade ao misturar literatura, folclore e terror; trazendo um resultado espetacular.
Disse no início que será uma minissérie de TV, produzida pela Estrada Films. Estou mega nervosa, porque sei que o diretor irá ler minha resenha, e isso causa mais medo em mim que a própria Cuca. Acredito que Janderson tem uma puta responsabilidade de dar vida aquilo que já está tão vivo na minha mente; ele terá de ser tão fantástico quanto Terci.
O Mythos não é meu livro predileto. Ele ocupa o lugar que apenas Macunaíma ocupou até hoje. É o meu livro favorito de todos os tempos.
Terci conseguiu mais uma vez, mostrar que o medo pode ser encantador e cheio de aprendizagem.
E para quem eu recomendo? Para todos que amam literatura; sejam críticos, resenhistas, mas acima de tudo, para leitores que gostam de se aventurar em mundos fantásticos.

site: http://lua-literaria.blogspot.com.br/2016/07/resenha-o-mythos-m-r-terci.html
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