Kalliny 21/06/2022
LILY E DUNKIN
Autora Donna Gephart
Lily e Dunkin é um romance de narrativa dupla pelo ponto de vista de dois adolescentes que compartilham não só a mesma escola, mas também desafios de aceitação que envolvem temas como amizade, família, saúde mental, identidade de gênero e bullying. A história composta por capítulos curtos narrados ora por ela, ora por ele, se passa durante seu último ano de middle school (correspondente ao 9º ano no Brasil), Publicado em 2016, o livro que traz como protagonistas uma menina trans e um menino com transtorno bipolar, apesar de parecer tão específico, aborda assuntos importantes com sensibilidade. Não seria exagero afirmar que a obra de Donna Gephart, autora e mãe de um menino com transtorno bipolar, é exemplo da importância da literatura como instrumento de reflexão.
conhecemos Lily, que desde sempre soube que seu corpo não representava quem ela era de verdade. E conhecemos também Norbert, recém chegado a cidade, muito alto para a sua idade, e com um passado meio conturbado.
Com extremo cuidado, a autora aborda a transexualidade na pré-adolescência de uma forma muito realista. Não há exageros e nem momentos forçados na trajetória de Lily, apenas uma alma que está lutando para ser aceita por ser quem realmente é, enquanto muito ao seu redor insistem em rebaixa-lá a meramente aquilo que seu corpo representa. Os capítulos de Lily são os mais doces e emotivos, já que somos espectadores de todas as suas lutas diárias, seja consigo mesma, com a família ou na escola. Aceitação, coragem e perdão são os pontos principais de sua narrativa, e são tratados de forma direta, sem enfeites.
Já com Norbert ? ou Dunkin -, nós somos levados por uma narrativa mais confusa em questão de memória. Por sofrer de Transtorno Bipolar, em alguns momentos o ritmo de sua narrativa muda ? seguindo seu humor -, o que dá riqueza a leitura. Além disso, muito do seu passado se mantém em suspense, o que dá uma carga mais pesada para a sua história. A parte psicológica foi explorada de forma incrível, e cada detalhe foi utilizado de maneira muito cuidadosa.
Apesar de ser um livro infanto-juvenil com personagens relativamente jovens ? 13, 14 anos de idade -, são abordadas questões que irão formar o caráter de todo e qualquer ser humano: traumas, preconceito... Medo. Contudo, nem todo medo aqui provem do perigo. Nem todo preconceito provem do ódio. Questões comuns dessa idade também são abordadas, principalmente no âmbito escolar, como a estressante necessidade de se sentir incluso, de ter amigos. De não ser um excluído ? o que pode levar as personagens a tomar algumas atitudes meio erradas, às vezes.
São pontos muito mais complexos do que apenas julgar a atitude ou a aparência. A contextualização das personalidades funcionou muito bem nessa história, sem deixar criar a personagem mal-por-ser-mal. Mas dando uma base para isso. Algo como causa e efeito.
?Lily & Dunkin? foi sem dúvidas um dos livros mais tocantes e marcantes que já li, e é impossível não se emocionar, torcer ou comemorar cada conquista dos nossos protagonistas. Em tempos de intolerância e idolatria ao ódio, este livro chega para ensinar empatia e celebrar o poder das diferenças. Acredito que essa deveria ser uma leitura obrigatória, hoje mais do que nunca. E você ficou interessado? Comenta aí