spoiler visualizarGeison 29/12/2016
O Hospício é Deus?
Maura vai além do estereótipo excêntrico do perfil desses grandes artistas: revela-se brilhante, conquanto instável, perturbada, sensível, ou a própria ruína em si. O Hospício é Deus (1965), seu primeiro livro, é um relato pungente de suas internações voluntárias em hospícios do Rio e BH; nos mostra quem é esta grande escritora, há muito esquecida. Maura era louca? A maioria diria que sim, talvez o era. Mas para mim sempre foi mais lúcida que nunca! Sua loucura era apenas seu modo corajoso de ser. Em uma passagem do livro, Maura afirma ter fingido amnésia, após ter-se visto na rua e sem abrigo. A desconhecida ambulante e sem memórias repercutiu na mídia local da época, o que Maura exatamente queria, uma vez que, conseguiu aonde ficar com a façanha. Desde o início a autora se mostra intelectualmente superior aos demais, o que faz duvidar-me de sua incapacidade mental. Talvez ela o tenha criado uma personagem, já que, aspirava ser a maior escritora da Língua Portuguesa. Entanto é fato que seu relato é verdadeiro. Nessa obra prima vê-se de tudo, mas além disso é uma crítica ao péssimo estado dos hospícios e ao tratamento desumano das internas. Maura critica e analisa todos no hospital, principalmente os médicos. Seriam eles sãos o suficiente para diagnosticar alguém como louco? Ela faz essa análise após retratar os médicos como mesquinhos e vingativos. Uma vez foi levada ao quarto-forte, depois ter discutido com um médico. Em outra, foi agredida covardemente por um enfermeiro a mando de um médico, este dizendo que é assim que se trata doentes como ela. A violência psicológica e o descaso com os idosos também são denunciados pela escritora. Convenhamos que Maura dava seus 'shows' ( e como ela gostava!), mas o tratamento dado aos doentes era demasiado lamentável, principalmente aos 'irrecuperáveis'. O livro é ótimo para quem se interessa por psicologia (desvendar a mente anárquica de louco) e aponta várias outras coisas da época: coronelismo, racismo e a pobre mulher, sempre subjugada. Mas Maura me decepcionou também, era fascinante sim, porém era má, soberba e injusta, às vezes. Seu egocentrismo me matava! Não só por isso ela deixa de ser a incrível pessoa que fora: burguesinha, assassina, louca à piloto de avião.