Pedro Osorio 07/09/2023
Tudo bem não gostar de arte
Esse livro me cai nas mãos durante uma transição de carreira. Enquanto historiador e museólogo, o último lugar em que eu esperava me ver trabalhando era num museu de arte. Bom, cá estou, fazendo exatamente isso da vida.
Mas tem um problema: eu nunca fui muito próximo ou um grande apreciador de arte.
A solução foi tentar entender um pouco mais da área na qual eu atuo hoje e, rapaz, como esse livro veio a calhar!
Pra começo de conversa, a coleção Primeiros Passos (quase) nunca desaponta. Sucinta, objetiva e ainda sim complexa o suficiente pra dar conta pelo menos da entrada em determinada área, ótimos livros de referência. E "O que é arte" definitivamente é um dos melhores que eu li até agora.
De início, não foi fácil passar pela primeira metade do livro, que fala sobre história da arte e coisas mais desse campo e é bem denso de ler. Agora, passou isso? Meu amigo, sensacional. Jorge Coli entra nas discussões que realmente me interessam, entre acesso à cultura, como se relacionar com a arte, pra quê ela serve afinal e sobre hábito de frequentar arte (alô Bourdieu!).
Deve dizer que a segunda metade do livro foi de suma importância até para eu mesmo entender qual meu lugar como trabalhador da cultura próximo das artes visuais e também perceber que tá tudo bem não gostar de arte. O importante aqui é como se relacionar com ela e como ela nos relaciona no mundo.
E, no fim das contas, o que mais me traz alegria de ter lido este livro é que agora tento entender qual a minha arte, não no sentido de produzir arte, mas no sentido de qual arte me agrada mais e como ela me permite relacionar com o mundo a partir das minhas condições e vivências. E isso não somente nas artes visuais — da qual eu sigo não sendo muito afeito, agora com menos culpa — mas a música, o cinema, a literatura, o teatro, etc etc etc
Pra não deixar o livro só como um livro, espero conseguir traduzir parte do que eu li para o meu trabalho. Me pergunto quantas crianças e pessoas se sentem constrangidas quando são pressionadas a gostar de determinada coisa porque, em tese, é cultura, ao contrário daquilo que elas de fato gostam de gostar. Ainda assim, o direito de não gostar não nega o dever de testar e refletir sobre o porque não gostar de tal coisa. E aqui é o pulo do gato: como saber que eu não gosto?